Tranquilidade de Nova Iguaçu atrai estudantes angolanos
por Vanilda Cunha
A República Popular de Angola foi vítima de um conflito armado, onde os partidos entraram em guerra pelo poder. O crescimento foi paralisado, o país entrou em uma séria crise. Faltou tudo: de alimentos a um emprego em massa, passando pelas perspectivas para o futuro. A solução foi tentar a vida em outras terras em busca de melhores condições de vida. A língua portuguesa, o calor e acima de tudo a nossa hospitalidade fizeram do Brasil um dos portos preferidos dos angolanos. Parte deles se instala em Nova Iguaçu. "É uma cidade tranquila", explica o estudante Henrique Francisco Quiluange, 26 anos.
Alguns angolanos recebem uma bolsa de governo, benefício adquirido através de uma prova. Os contemplados recebem mensalmente entre US$ 800 e US$1 mil. A grande maioria veio para estudar. A guerra civil provocou o fechamento de vários estabelecimentos, o ensino público desmoronou. Poucas faculdades sobreviveram à guerra. Seus hospitais fecharam. Atravessaram oceanos em busca de dias melhores, mas sonham com o dia em voltarão para o seu país e ajudá-lo na reconstrução de estradas, hospitais, escolas e principalmente da reconstrução de sua cultura.
Mas nem todos recebem esse benefício e alguns acabam tendo de morar em favelas, para fugir dos impostos. A maioria escolheu o Complexo da Maré, procurando economizar para enviar dinheiro para seu país natal. Compram roupas, calçados e exportam para lá. Com a guerra, muitas indústrias de roupas fecharam.
O conflito em Angola deixou muitas marcas, cicatrizes que nunca vão se apagar. Apesar de todas as dificuldades, seu povo continua alegre e hospitaleiro. Da mesma forma que os brasileiros, os angolanos são um povo musical. A dança está no sangue.
Água na boca
Muitos angolanos se sentem totalmente integrados na sociedade iguaçuana. É o caso de Antonio Paixão Watata, de 22 anos, muito embora tenha chegado ao Brasil há pouco mais de cinco meses. Aluno de Direito da UNIG e morador do Bairro da Luz, Watata já ganhou até um apelido dos amigos que fez na Baixada: Ni. "Foi minha namorada quem botou."
Apesar da acolhida dos brasileiros, os angolanos mantêm fortes vínculos com a terra natal. E quando aperta a saudade da família e dos amigos, eles se reúnem para comer um Funge com Kizaca, uma típica comida angolana onde uma espécie de polenta cremosa feita com farinha de milho é acompanhada de folhas de mandioca maceradas, cozidas e temperadas. "Só de pensar me dá água na boca.”
A comida desses pratos típicos ganha mais sabor quando acompanhada do que essa comunidade cada vez mais numerosa chama de "irmãos angolanos". O jovem Henrique Francisco Quilangue, 26 anos, morador do Bairro da Luz, é presença obrigatória nesses encontros. Há quatro anos no Brasil, esse estudante de Ciências Contábeis da Estácio de Sá também aproveita esses encontros para exercitar o dialeto do seu país. "Ta fixi, meu puto", diz ele para os conterrâneos. Em português, essa expressão corresponde ao "tudo bem, meu irmão".
Cara e a coragem
No dias em que o banzo fica mais forte, os angolanos recorrem à rica tradição musical do seu país, na qual se destacam o Kuduro e a Kizomba. Nessas horas, Josefa Serafim da Silva Alexandre, 30 anos, que chegou com "a cara e a coragem" há sete anos, recorre a uma canção de sua terra. “Espero que vou voltar ao lugar onde nasci, onde eu cresci mas ainda tenho que esperar.” Não deixa de ser um consolo.
Apesar da hospitalidade brasileira, nem sempre o processo de adaptação é fácil. Josefa Serafim lembra bem do sufoco que passou até ser acolhida por uma família, que a como filha e a inseriu em sua rede de relações. “Mesmo assim, sinto muita falta da minha pátria, da comida e da convivência com os angolanos”, conta Josefa, que chegou ao Brasil com uma parca ração de dólares.
Carlos da Concessão Manuel, 20 anos, conhece bem "as dificuldades e barreiras decorrentes das diferenças culturais", que tenta superar com o "espírito guerreiro dos angolanos". "Nós viemos para cá com objetivos difíceis de serem alcançados", diz ele. "Mas com persistência e humildade nós vencemos os desafios.”
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NÃO É SÓ O CASO DE ANTONIO, MAS O SEU TBM. PARABENS ANGOLANA LINDA. SAIBA QUE VOCÊ TEM UM ENORME TALENTO E QUERO QUE SEMPRE PERSISTA NESTE SEU LINDO SONHO, ASSIM TERÁ APENAS FLORES PARA RECOLHER.. BEIJOS
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