quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Farra divina


Religiosos aproveitam carnaval para orar
por Frank Alves, Marina Rosa, Rafaela Herrera e Vani

O carnaval já está nas ruas. É uma tradição milenar, que vem de longe, desde a antiga Roma.Um clima de feriado está presente em toda a cidade. Só se fala nos dias de folia. Dos ambulantes às igrejas, dos foliões que preparam fantasias pra “cair na gandaia” aos religiosos que fazem sua pregação alertando para os perigos do reinado de Momo, todos se preparam para fazer seu carnaval. Mas cada um a seu modo.
Para os fiéis das dezenas de religiões, o reinado da folia deveria acabar, pelo menos da maneira em que é feito nos dias de hoje. Nada de inversão e desregramento. A folia deveria ser trocada por uma louvação da palavra e dos mandamentos de Deus. Seria o fim do “reino da licenciosidade” e o começo de um “reino de paz”. Todos seguramente poderiam viver melhor durante o ano todo.

Os fieis se organizam e viajam para longe dos blocos e das fantasias para estarem mais próximos da meditação e da busca da divindade, em paz e harmonia. As viagens durante o carnaval são diferentes das vigílias de oração. É também uma grande festa, para não fugir do espírito carnavalesco, com uma grande diferença. Em vez da falta de regras que predomina entre os foliões, tem hora pra tudo, inclusive brincar, zoar, se divertir. Mas o principal são as orações para entrar em comunhão com o sagrado.

Tempo de reflexão
Católicos e evangélicos vão aproveitar os quatro dias de carnaval para refletir e orar, avaliando o papel de Deus em suas vidas. Avessos às festas regadas a muita bebida e longe das drogas, os religiosos aproveitam o período em retiro para conhecer novas amizades, formando redes de relacionamentos entre pessoas que comungam da mesma fé, através das orações.

Para a Igreja Católica, o carnaval é uma festa de três dias de muita comilança para celebrar a alegria que antecede o período de oração, penitência e jejum da Quaresma, que se estende da Quarta-Feira de Cinzas ao domingo de Páscoa. Contrariando o que muitos pensam, a religião católica possui certas regras para esse período de diversão. "O carnaval é uma festa com profundas ligações religiosas, inclusive de irmandades de negros, tanto em igrejas como em outras casas de culto", explica o padre Oscar Beozzo.

O padre tem um profundo respeito pelo trabalho sócio-educativo das escolas de samba. Mas, para ele, as pessoas não sabem discernir o que há de benéfico e vulgar no carnaval, entrando em choque com os preceitos ecumênicos. “Para nós, o grande retiro é a Quaresma e vai até a Semana Santa”, ressalva o padre. “Queremos uma alegria sadia, num ambiente agradável. É um encontro com os irmãos em fé juntamente com Jesus, através de diversos procedimentos como dinâmica de grupo, representação teatral, dramatizações para motivar os fiéis.”

Coisas ruins
Os evangélicos também se afastam durante o carnaval, com a intenção de refletir e orar sobre o que de nefasto pode acontecer durante essa época do ano. "Nós fazemos retiros, para ficar mais perto de Deus, nessa época do ano que tem muitas coisas ruins acontecendo", diz Cláudia, de 34 anos, que ressalta a união entre os jovens como o que existe de mais lindo. “Para nós, o motivo principal é a busca por Deus. E também além de orar, encontramos amigos e as famílias se conhecem. Serão dias de muita festa e louvor ao nosso Deus. É um carnaval saudável para toda a família.Os jovens comparecem em peso. Eles são a prova viva de que é possível aproveitar um carnaval diferente."

Os espíritas veem o carnaval como um momento de alegria, de expandir toda a felicidade. “Um momento de compartilhar com a família essa diversão, mas de 'cara limpa', sem máscaras", como diz a espírita Carla, de 22 anos. Eles aconselham a tomar muito cuidado, evitando os excessos.

Alguns dias antes do carnaval, os espíritas fazem uma sessão nos terreiros com o objetivo de obter proteção. "Nesse período antes da Quaresma, muitos seres cheios de más intenções se aproveitam para tentar afastar as pessoas da luz”, explica Melina, de 20 anos. “São espíritos ainda imersos na escuridão. As pessoas vulneráveis são as escolhidas."

O carnaval de Latife Assed, 20 anos, moradora do bairro Rancho Novo, mudou da água para o vinho. “Sempre fui apaixonada por carnaval”, diz ela, que até o ano passado ficava maluca só de ouvir um samba enredo. Ela, que não conseguia ficar em casa. Sossegada, viajava, fazia fantasias, saía no bloco, sambando até o sol raiar. Mas no meio do ano passado ela se converteu e desde então tem seguido o que chama de “caminho de fé”. “Agora me sinto muito melhor, em paz e harmonia não só com os outros, mas também comigo mesma.”

2 comentários:

  1. O mais legal foi que abrangeram religiões diversas e deu pra perceber que mesmo de diferentes modos, eles tem praticamente os mesmos objetivos. Parabéns pra equipe :)

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  2. Ja participei desses retiros e é muito bom para quem faz parte ou frequenta igrejas, evangélicas ou não. Não gostei muito da linguagem da matéria, ficou um pouco confusa.

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