Cachorro quente do Russo é a salvação da madrugada
por Breno Marques
Não adianta insistir, que você não vai saber qual o verdadeiro nome do Russo, o feliz proprietário da barraca de cachorro quente mais movimentada da Via Light. Será muito mais fácil perguntar como esse paranaense chegou à Baixada Fluminense, quando tinha apenas 19 anos. Aí ele vai falar dos sonhos com que enchia a barriga, alimentada nos primeiros dias no Rio de Janeiro com “um pão com ovo na parte da manhã”. “Queria um emprego digno”, responde.
O primeiro emprego de Russo, hoje com 45 anos, em Nova Iguaçu foi em uma madeireira. Como ainda não era casado com a mulher que lhe deu suas quatro filhas, dormia em cima de uma ripa de madeira enquanto cursava os antigos primeiro e segundo graus, bem como um curso de técnico em eletrônico. “Só tinha até a terceira série quando cheguei aqui”, revela ele.
Enquanto se preparava para uma vida melhor, Russo juntou dinheiro até ter uma poupança que lhe desse autonomia para comer e se deslocar até o Centro do Rio de Janeiro, até conquistar um emprego em uma empresa de grande porte. Com a expectativa de uma vida melhor, Russo literalmente chutou o balde. “Dei um pé na bunda do meu patrão”, conta. “Falei que agora tinha estudo e não precisava mais daquela exploração.”
Vontade de desistir
A vingança veio a cavalo. “Resolvi fazer aquilo na época em que o presidente Collor assumiu e sumiu com a poupança de todos os brasileiros”, lembra o comerciante. E da noite para o dia ele se viu sem dinheiro para absolutamente nada. “O que me restou não me dava para trabalhar nem uma semana no Rio de Janeiro.” Pela primeira vez na vida, Russo esmoreceu e teve vontade de jogar tudo para o alto.
Na rua da amargura, Russo resolveu investir seus últimos centavos nas placas de alumínio que acreditava necessárias para montar uma barraca de lanches e pediu para usar as ferramentas de uma pequena metalúrgica. “O cara era maneiro e me apoiou”, conta Russo, que, mesmo sem saber soldar, saiu dali com uma barraca de 90 centímetros de comprimento por 70 centímetros de largura.
Mais uma vez, Russo misturou lugar de trabalho com moradia. “Passei a dormir no canto de baixo da barraca, onde guardava os mantimentos.” Para não ficar totalmente exposto, usava os parcos ganhos de seus primeiros cachorros quentes para alugar uma vaga em um estacionamento. “Lá eu dormia mais tranqüilo, porque sabia que não estava na rua correndo risco de vida.”
O novo empreendimento de Russo demorou a decolar, como se pode deduzir pelo fato de que vendeu apenas um sanduíche entre as oito da noite e as seis da manhã do primeiro dia de trabalho. “Fiquei desanimado com aquilo, achando não iria dar certo.” Só insistiu porque sequer tinha a opção de desistir.
Fiado no sacolão
Só teve mercadoria para trabalhar na segunda noite porque o dono de um sacolão lhe fez fiado, porém, mais uma vez, obteve um resultado pífio. “Vendi três cachorros quentes”, conta. Atribuiu o baixo desempenho ao ponto e se mudou para a Praça do Skate, do outro lado da linha do trem. A decisão só não foi mais acertada porque era naquele ponto que os bandidos abordavam suas vítimas. “Revoltados, eles botaram a arma na minha cabeça e me disseram que se eu não saísse de lá eles iriam me matar.”
Depois de uma temporada de prejuízos em frente ao prédio da Unimed, Russo começou a cogitar a possibilidade de se tornar mendigo. Sua sorte começou a mudar com a inauguração da Via Light, que desde sempre atraiu pessoas e carros. “Não havia ponto melhor para trabalhar”, comemora. O faturamento aumentou a um ponto tal que, na última festa de Santo Antônio, vendeu 956 cachorros quentes em apenas uma noite. “Quase não acreditei que pulei de um sanduíche para quase mil.”
Russo não se deslumbrou com os lucros, guardados numa poupança cuja finalidade era comprar uma casa para morar com a esposa e as quatro filhas. Mas só conseguiu alcançar seu objetivo quando passou a emprestar dinheiro a juros para os motoristas que queriam legalizar suas kombis, quando o transporte alternativo foi legalizado em Nova Iguaçu.
Russo se sente um vitorioso, mas não quer que seus filhos repitam sua trajetória. “Estão todos na escola”, afirma ele, que por essa razão mantém a esposa como dona de casa, cuidando do bem-estar da família. Apenas a filha mais velha, hoje com 15 anos, o ajuda na barraca e, mesmo assim, até a meia-noite. “Aí eu levo ela para casa, para que não perca a aula no dia seguinte.
Mas se engana que ele quer os seus filhos herdem a barraca da Via Light. “Quero que eles aprendam uma profissão decente.” Seu único receio é que elas trombem com o novo governo pela frente. “Aí elas vão começar tudo de novo.”
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009
Velhos combatentes
Apesar de ultrapassado, The King Of Fighters continua uma febre em Nova Iguaçu
texto e fotos Marcos Paulo
The King Of Fighters é um jogo ultrapassado. A última versão foi lançada em 2003 e, por isso, além de a resolução não se encaixar nos jogos de hoje, sua jogabilidade não é tão variada. Mesmo assim, ele continua uma febre. Ataca tanto os jovens quanto os adultos.
Em Nova Iguaçu, há diversos pontos de games desde que a primeira versão do The King Of Fighters chegou ao mercado no remoto ano de 1995, desbancando o então imbatível Street Fighter. Uma das mais concorridas fica no Center, onde a qualquer hora do dia é possível encontrar jovens de todas as idades. Por razões óbvias, os adultos só são vistos na lojinha na hora do almoço.
O vendedor Wilson Siqueira, de 28 anos, já foi considerado o melhor jogador de The King Of Fighters de Nova Iguaçu. Sua fama se espalhou pela Baixada Fluminense. “Pô, eu já fui muito viciado nisso”, lembra ele, que num passado não muito remoto entrava no Center de manhã e só saía à noite. Para o bem de suas finanças, ele hoje consegue se controlar quando pega um joystick.
Dinheiro em casa
O game tem campeonatos, nos quais, além do troféu, são oferecidos prêmios em dinheiro paras os ganhadores. Vencê-los foi uma das saídas que o vendedor encontrou para aplacar as reclamações da mãe, uma ferrenha opositora do seu vício até ver o filho chegando com dinheiro em casa. “Minha mãe reclamava muito na época”, lembra Wilson Siqueira.
Não sem razão, admite hoje. “Eu fazia muitas loucuras”, confessa. Ainda povoam suas lembranças o dia em que ele e um amigo foram a pé até Belford Roxo só para participar de um campeonato. O pior de tudo, no entanto, foi na volta. “Como não ganhei, fiz meu amigo se fingir de deficiente para entrar no ônibus.” Nesse teatro, o jogador era o acompanhante.
Se o companheiro de campeonato de Wilson Siqueira fosse Guilherme da Silva, 23 anos, ele, além de não precisar simular deficiência física para não pagar a passagem de ônibus, poderia voltar com o título perdido em Belford Roxo. É que, embora jogue com apenas uma mão, o chamado Mãozinha é um dos jogadores mais hábeis da lojinha do Center.
Busca de cinto
Mãozinha pode ser visto com frequência ao lado de Renan de Lima, de 12 anos, cujas fichas são compradas com os ganhos obtidos com os doces que em tese devia ajudar nas contas de casa. “Se minha soubesse que eu estou aqui, ela vinha me busca de cinto”, conta o menino. Mas como ele fica o dia todo na rua sua mãe nem sabe o que ele faz contou ele. “Ela só fica brava quando percebe que tá faltando muito dinheiro.”
O Center também é o destino do estudante Erice da Silva, de 17 anos, quando acabam as aulas. Mas embora fique jogando até a hora do jantar, não encontra uma oposição tão cerrada dentro de casa. “Eu venho para cá todo o dia e fico jogando até as 6 ou 7 horas, mas minha mãe não fala nada”, conta o estudante.
Minha rua tem pesquisa
Escola de Pesquisa de Nova Iguaçu mostra acerto do Minha Rua Tem História ao Secretário de Cultura e Turismo
por Giuseppe Stéfano
Aos olhos da classe média, a periferia é um lugar apenas de carências, violência e de gente burra. Mas aqueles que foram criados nas ruas de bairros pobres sabem realmente dos segredos desses pontos de encontro.
Marcus Vinicius Faustini, atual secretário de Cultura e Turismo de Nova Iguaçu, ignora a preconceituosa visão de que rua é lugar de vagabundos e desocupados. Para ele, é na rua que a vida acontece. "A primeira negociação de um filho com a mãe é sobre rua. Ele sempre pede: 'Mãe, posso ir no portão?' E do portão pro mundo é um pulo", conta, lembrando de uma das frases mais ditas em sua infância e juventude.
Por acreditar tanto nas riquezas ocultas em bairros "esquecidos", Faustini apostou em um projeto inovador, que mudaria a cara da periferia de Nova Iguaçu: o "Minha Rua Tem História", que consistia em resgatar histórias de bairros, vividas ou ouvidas por jovens de 17 a 21 anos que participavam do Pro Jovem. "No começo, as pessoas não acreditavam na eficácia do projeto", lembra ele.
Jovem gosta de conversar
Os opositores do projeto alegavam que os Pro Jovens não topariam discutir a própria rua, banal demais para mobilizar a juventude. Mas Faustini insistiu na ideia. "Vai dar certo, sim, porque jovem gosta de conversar!", retrucou ele. Apesar do curto espaço de tempo entre a idealização e a execução do projeto, o projeto foi um sucesso, como o secretário de Cultura e Turismo pode confirmar com a pesquisa que acabou de receber da Escola de Pesquisa de Nova Iguaçu.
O projeto foi uma grande novidade na cidade tanto para quem participava quanto para quem o organizava. Por isso, ele já esperava os senões apontados pela pesquisa. "A gente pode comparar o Minha Rua Tem História a um bebê recém-nascido nos braços de pais inexperientes, onde havia, assim como em tudo que é novo, dificuldades, medos e insegurança."
Faustini confessa que teve receio de que os participantes do Pro Jovem não entendessem o que o "Minha Rua Tem História" representava, mas, como é um fiel seguidor da máxima de Miguel Falabella segundo a qual o mundo é dos realizadores, não hesitou em tentar e deu a cara a tapa. Não se arrependeu. "Foi um período fantástico", comemora.
Voz aos jovens
O Minha Rua Tem História foi o primeiro projeto do Brasil a reunir milhares de jovens para contar histórias em salas de aula, associações de moradores ou em igrejas espalhadas pela cidade. Mas o projeto ultrapassou as expectativas até mesmo do sempre otimista Faustini. "Mais do que ganhar uma bolsa, cursos e premiações ao final da gincana, os participantes do projeto levavam para casa, ao término de cada oficina, uma curiosidade sobre seu bairro, uma lembrança, uma emoção, um amigo." Outro elemento importante do projeto, detectado pela pesquisa comandada pela antropóloga paulista Marcella Camargo, foi que o Minha Rua Tem História devolveu um dos instrumentos mais importantes de expressão. "Os jovens puderam usar a voz."
Dar voz aos jovens sempre foi um dos principais objetivos na vida de Faustini, já que ele próprio teve muita dificuldade para se fazer ouvir durante sua adolescência no Cezarão, um conjunto habitacional em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. "Nova Iguaçu é uma cidade rica. Hoje, eu enxergo jovens extraordinários que são capazes de fazer qualquer coisa, desde que queiram. No meu tempo, a voz da juventude era abafada. Não se via um artista em qualquer esquina, eu era uma exceção. Hoje, os jovens têm o apoio do governo e o espaço necessário, só basta eles quererem. O único meio de transformarmos nossa cidade é nos aliarmos aos jovens."
Faustini tem orgulho do quanto o Minha Rua Tem História pode somar nas vidas de milhares de jovens. E anuncia que sua secretaria vai estar cada vez mais ao lado dos jovens, a fim de detectar suas necessidades. "Nova Iguaçu está pronta para a mudança! Nós já sabiamos das carências e dificuldades de muitos bairros, mas a partir do projeto, conhecemos também as belezas e mistérios de ruas e de moradores. Eu estou muito feliz. Vamos começar de novo!"
O peixe da ombudsman
Escola de Pesquisa de Nova Iguaçu apresenta seu primeiro trabalho
por Jéssica de Oliveira
Quais são as principais caraterísticas de uma boa equipe? Companheirismo? União? Apoio? Perseverança? Se você escolheu todas as alternativas acima, chegará à conclusão de que a Escola de Pesquisa de Nova Iguaçu tem requisitos suficientes para crescer em seu trabalho e obter sucesso em cada uma de suas tarefas.
A escola não é uma novidade apenas aqui em Nova Iguaçu, mas também em muitos outros lugares. É muito raro encontrar instituições que ofereçam formação em pesquisa a jovens de periferia e, ainda mais difícil, sem cobrar absolutamente nada. Lá, jovens iguaçuanos aprendem a fazer pesquisas quantitativas e qualitativas, além de desenvolver valores imprescindíveis à formação pessoal e profissional de cada um, como responsabilidade e respeito.
Os cerca de 30 aprendizes de pesquisadores que participam do programa se reúnem três dias na semana no período da manhã e dão muito duro para alcançar cada objetivo proposto. Coordenado pela antropóloga paulista Marcella Camargo, o grupo realiza pesquisas por Nova Iguaçu para saber a opinião dos cidadãos a respeito das novidades e acontecimentos que surgem.
A primeira pesquisa realizada pela Escola de Pesquisa de Nova Iguaçu foi encomendada pelo secretário de Cultura e Turismo, Marcus Vinicius Faustini. Seu objetivo era ouvir os participantes do projeto Minha Rua Tem História, que no final do ano passado reuniu cerca de 4 mil participantes do Pro Jovem para contar e ouvir histórias de seus respectivos bairros.
Os pesquisadores fizeram dezenas de entrevistas com os Pro Jovens, os oficineiros e os jovens repórteres que acompanharam o projeto. Além de permitir uma avaliação da eficácia do "Minha Rua Tem Hitória", esses relatos ajudarão os organizadores na preparação da nova versão do projeto, que agora atenderá 17 mil jovens.
Uma mão lava a outra
No decorrer da pesquisa, os entrevistados se depararam com muitas dificuldades. Elas foram superadas, no entanto, com um intenso trabalho em equipe. A velha história da "mão que lava a outra" é realmente muito presente em cada oficina realizada e está comprovada: é muito eficaz!
Mas vencidas as barreiras encontradas durante o processo da pesquisa, chegou a hora de vender o produto ao freguês. Ou seja, apresentar a pesquisa ao secretário.
O nervosismo estava no semblante de cada jovem pesquisador que apresentava e também assistia aos slides na reunião da quarta-feira que antecedeu o carnaval, na sala em que a Escola de Pesquisa funciona, na Rua Nilo Peçanha, no Centro de Nova Iguaçu. Havia aqueles que usavam uma "colinha" para não esquecer nenhum ponto, mas uma parte do grupo falava fluentemente, vencendo a tensão e surpreendendo a todos, inclusive o secretário.
No fim da prestação dos resultados da pesquisa, o secretário destacou o empenho dos jovens pesquisadores ali presentes até nos mínimos detalhes, como o paletó usado por Willian Faria da Costa, de 23 anos. "Mas é isso mesmo que vocês têm que fazer", disse Faustini. "Vocês têm que se valorizar, colocar uma roupa legal, se sentir bem e à vontade."
Tanto o sucesso da pesquisa quanto o crescimento do grupo se devem principalmente à prioridade que cada um deles deu ao processo de aprendizado. Eles aprenderam a trabalhar em grupo e a usar o que cada um tem de melhor. Muitos jovens se identificaram com a pesquisa e querem continuar trabalhando nisso por muito tempo. Alguns foram atraídos por pura curiosidade e outros, mesmo participando, não punham muita fé em pesquisa. Mas isso é passado, pois o que os leva a cada "aula" é a paixão pelo trabalho e a certeza de que podem se profissionalizar nessa área. Muitos deles contam que nunca tinham parado pra pensar em pesquisa, mas, depois que entraram nesse universo, notaram o quanto a pesquisa está presente em suas vidas pessoais.
Peixe
Um outro momento crucial foi no dia em que os participantes tiveram que "vender o próprio peixe" para mostrar porque eles mereceriam continuar na Escola de Pesquisa, já que restarão apenas vinte.
Foi um momento de extrema emoção e nervosismo. Os aprendizes de pesquisa se abriram e contaram quais eram suas maiores qualidade e defeitos, além de falar dos perrengues enfrentados ao longo da pesquisa sobre o Minha Rua Tem História. Foi difícil falar, já que havia uma guerra de sentimentos dentro de cada um deles. Alguns deles conseguiram divertir a plateia, enquanto outros apresentaram um discurso sério e um último grupo não conteve as lágrimas. Foi um dia muito especial e com certeza inesquecivel para todos que participaram da reunião.
"Nós podemos ter nossas diferenças, mas isso é esquecido quando começamos a desenvolver nossas pesquisas, pois o que nos une é mais forte do que aquilo que nos separa", resumiu Priscila Moraes, relembrando alguns momentos vividos por ela na Escola de Pesquisa.
É claro que ainda há muito a ser feito pelo grupo, mas tenho certeza de que vão longe!
por Jéssica de Oliveira
Quais são as principais caraterísticas de uma boa equipe? Companheirismo? União? Apoio? Perseverança? Se você escolheu todas as alternativas acima, chegará à conclusão de que a Escola de Pesquisa de Nova Iguaçu tem requisitos suficientes para crescer em seu trabalho e obter sucesso em cada uma de suas tarefas.
A escola não é uma novidade apenas aqui em Nova Iguaçu, mas também em muitos outros lugares. É muito raro encontrar instituições que ofereçam formação em pesquisa a jovens de periferia e, ainda mais difícil, sem cobrar absolutamente nada. Lá, jovens iguaçuanos aprendem a fazer pesquisas quantitativas e qualitativas, além de desenvolver valores imprescindíveis à formação pessoal e profissional de cada um, como responsabilidade e respeito.
Os cerca de 30 aprendizes de pesquisadores que participam do programa se reúnem três dias na semana no período da manhã e dão muito duro para alcançar cada objetivo proposto. Coordenado pela antropóloga paulista Marcella Camargo, o grupo realiza pesquisas por Nova Iguaçu para saber a opinião dos cidadãos a respeito das novidades e acontecimentos que surgem.
A primeira pesquisa realizada pela Escola de Pesquisa de Nova Iguaçu foi encomendada pelo secretário de Cultura e Turismo, Marcus Vinicius Faustini. Seu objetivo era ouvir os participantes do projeto Minha Rua Tem História, que no final do ano passado reuniu cerca de 4 mil participantes do Pro Jovem para contar e ouvir histórias de seus respectivos bairros.
Os pesquisadores fizeram dezenas de entrevistas com os Pro Jovens, os oficineiros e os jovens repórteres que acompanharam o projeto. Além de permitir uma avaliação da eficácia do "Minha Rua Tem Hitória", esses relatos ajudarão os organizadores na preparação da nova versão do projeto, que agora atenderá 17 mil jovens.
Uma mão lava a outra
No decorrer da pesquisa, os entrevistados se depararam com muitas dificuldades. Elas foram superadas, no entanto, com um intenso trabalho em equipe. A velha história da "mão que lava a outra" é realmente muito presente em cada oficina realizada e está comprovada: é muito eficaz!
Mas vencidas as barreiras encontradas durante o processo da pesquisa, chegou a hora de vender o produto ao freguês. Ou seja, apresentar a pesquisa ao secretário.
O nervosismo estava no semblante de cada jovem pesquisador que apresentava e também assistia aos slides na reunião da quarta-feira que antecedeu o carnaval, na sala em que a Escola de Pesquisa funciona, na Rua Nilo Peçanha, no Centro de Nova Iguaçu. Havia aqueles que usavam uma "colinha" para não esquecer nenhum ponto, mas uma parte do grupo falava fluentemente, vencendo a tensão e surpreendendo a todos, inclusive o secretário.
No fim da prestação dos resultados da pesquisa, o secretário destacou o empenho dos jovens pesquisadores ali presentes até nos mínimos detalhes, como o paletó usado por Willian Faria da Costa, de 23 anos. "Mas é isso mesmo que vocês têm que fazer", disse Faustini. "Vocês têm que se valorizar, colocar uma roupa legal, se sentir bem e à vontade."
Tanto o sucesso da pesquisa quanto o crescimento do grupo se devem principalmente à prioridade que cada um deles deu ao processo de aprendizado. Eles aprenderam a trabalhar em grupo e a usar o que cada um tem de melhor. Muitos jovens se identificaram com a pesquisa e querem continuar trabalhando nisso por muito tempo. Alguns foram atraídos por pura curiosidade e outros, mesmo participando, não punham muita fé em pesquisa. Mas isso é passado, pois o que os leva a cada "aula" é a paixão pelo trabalho e a certeza de que podem se profissionalizar nessa área. Muitos deles contam que nunca tinham parado pra pensar em pesquisa, mas, depois que entraram nesse universo, notaram o quanto a pesquisa está presente em suas vidas pessoais.
Peixe
Um outro momento crucial foi no dia em que os participantes tiveram que "vender o próprio peixe" para mostrar porque eles mereceriam continuar na Escola de Pesquisa, já que restarão apenas vinte.
Foi um momento de extrema emoção e nervosismo. Os aprendizes de pesquisa se abriram e contaram quais eram suas maiores qualidade e defeitos, além de falar dos perrengues enfrentados ao longo da pesquisa sobre o Minha Rua Tem História. Foi difícil falar, já que havia uma guerra de sentimentos dentro de cada um deles. Alguns deles conseguiram divertir a plateia, enquanto outros apresentaram um discurso sério e um último grupo não conteve as lágrimas. Foi um dia muito especial e com certeza inesquecivel para todos que participaram da reunião.
"Nós podemos ter nossas diferenças, mas isso é esquecido quando começamos a desenvolver nossas pesquisas, pois o que nos une é mais forte do que aquilo que nos separa", resumiu Priscila Moraes, relembrando alguns momentos vividos por ela na Escola de Pesquisa.
É claro que ainda há muito a ser feito pelo grupo, mas tenho certeza de que vão longe!
Pontinho de Angola
Com atuação em 30 países e em todos os estados do Brasil, Abadá Capoeira atenderá 300 adolescentes da Luiz de Lemos
texto e fotos Josy Antunes
Há quase seis anos, o bairro da Posse abriga uma das filiais da Associação Abadá Capoeira, atualmente com representantes em 30 países e em todos os estados do Brasil. Tendo como carro chefe o ensino da capoeira, o espaço mantém um projeto social que atende cerca de 150 crianças da localidade, de forma abrangente.
A proposta é atender também as famílias, detectando possíveis problemas de convivência, na maioria das vezes omitidos. O trabalho feito é voltado para a prevenção, socializando e oferecendo atividades que possam contribuir para a formação do caráter dos alunos. “É melhor e mais barato você fazer um trabalho pra prevenir, do que depois tentar reverter o quadro”, explica Sérgio Souza de Oliveira, o Mestre Nagô. Além de capoeira, a associação Abadá participa de campanhas de doações de agasalhos, desarmamento, prevenção da dengue e arrecadação de alimentos, bem como de plantio de árvores e doação de sangue.
A Associação foi fundada em 1989, em Botafogo.O Mestre Camisa – mestre de Nagô – pensou em utilizar a capoeira como recurso pedagógico, artístico e cultural para valorizar a contribuição social que pode ser oferecida através dela. Devido a seus conceitos inovadores, o trabalho do Abadá passou a ser observado por diversas pessoas – inclusive estrangeiros – que foram se filiando.
Identidades escondidas
O nome Abadá deriva da vestimenta usada na prática do esporte. Já os curiosos nomes que são concedidos aos capoeiristas têm suas origens durante as aulas, na maior parte dos casos quando ainda são iniciantes. No espaço da Posse, encontram-se alunas chamadas por Camomila e Índia, por exemplo. “A gente olha o aluno e vê com o que ele se assemelha. Cada um tem um apelido”, justifica Mestre Nagô. Eles se concretizam no dia do batizado da capoeira. Essa prática é uma tradição que remonta à época em que a capoeira era perseguida. “Pra esconderem suas identidades, os capoeiristas usavam apelidos”, esclarece.
Recentemente, a capoeira foi reconhecida como Patrimônio do Brasil, o que foi um grande avanço. “Mas ainda é muito pouco pelo que ela representa e pelo potencial que tem”, lamenta Mestre Nagô. Ele explica que, no exterior, a valorização é bem maior, onde, ao contrário das escolas brasileiras, a a capoeira foi incluída no currículo. “Tem sido um trabalho maravilhoso lá fora. Pode ser maravilhoso aqui também!”, acredita.
Nagô explica que a capoeira é o resultado de uma necessidade que os escravos tiveram em criar uma luta, como forma de defesa, auxiliando na fuga de perseguições. Segundo ele, Nova Iguaçu tem um incrível potencial histórico, que no entanto é mais conhecido e valorizado pelos turistas do que pelos próprios moradores. É aqui que os historiadores têm baseado algumas de suas pesquisas sobre os quilombos, que marcam um passado desconhecido da cidade. A Pedra da Contenda - que era usada como mirante dos escravos - é um exemplo dessa riqueza. “Falta o poder público olhar com mais carinho para Nova Iguaçu e a Baixada.”
Difusão da língua
Além de difundir nossa história, a capoeira está para o português como o rock e o cinema estão para a língua inglesa. Tudo é ensinado na nossa língua, até as músicas. A partir da terceira graduação, os alunos estrangeiros já estão falando o idioma. “O pessoal vem aqui e fala normalmente”, conta Mestre Nagô, lembrando o caso do israelita que, em visita a Nova Iguaçu, após horas falando um português perfeito, assustou a muitos - que acreditavam na sua origem brasileira.
Sempre em agosto - época de férias no exterior – acontece, em Nova Iguaçu, o Encontro Internacional de Capoeira, quando comparecem aqui representantes de mais de 15 países. O evento contribui não só para o turismo local, mas também para que haja o intercâmbio entre os alunos locais com os estrangeiros.
Diretores de cursos de inglês em Nova Iguaçu, após comprovarem a importância do trabalho , concederam aos alunos 15 bolsas de estudo. Quando a visita dos estrangeiros acontece, as crianças podem recebê-los, tendo a oportunidade de praticar o novo idioma. “A proposta é fazer da criança um multiplicador. Isso é importante, trabalhar a auto estima, dar uma perspectiva”, declara Mestre Nagô.
Como um dos fundadores e defensor dos ideais do Abadá Capoeira, Nagô presencia as mudanças comportamentais dos alunos do espaço. Nas reuniões feitas com os pais, são muitos os depoimentos seguidos de agradecimentos, pelo avanço dos filhos tanto dentro de casa quanto nas escolas. “Eu falo para as crianças que a prioridade é a escola e a obediência aos pais. Depois é que vem a dedicação à capoeira”, assegura ele. Com o auxílio de assistentes sociais e pedagogos voluntários, os pais participam de dinâmicas de grupo e têm um espaço garantido para suas opiniões. “Eles ficam fascinados! E a proposta é colocar a família aqui reunida, pra que possamos orientar juntos e acompanhar o desenvolvimento dos filhos” - afirma Mestre Nagô - “Eu sempre digo a eles: ‘olha, tem que se aproximar do seu filho, se não alguém vai adotar. E se adotar não vai tratar com amor, mas com um interesse que muitas vezes gera consequências’”, alerta.
Preconceito religioso
A capoeira ainda enfrenta preconceitos devido à associação que se faz ao candomblé. Atualmente, no Abadá Capoeira, existe até o cuidado referente às letras das músicas: “Os alunos podem compor, contanto que não envolva essa questão de religião”, explica Nagô. “Tem o problema do pastor proibir, porque ouve as músicas tocadas com o atabaque, berimbau e o pandeiro e liga a outras religiões”, declara ele, que procura orientar os alunos. “Uma coisa não tem nada a ver com a outra, então tem que orientar”, afirma o mestre, que já tem o trabalho com o esporte implantado dentro de algumas igrejas.
O projeto social do espaço foi recentemente contemplado com um Ponto de Cultura - o Pontinho. “Agora estamos aguardando pra ver se sai do papel e vem pra prática”, diz Mestre Nagô, que acredita no auxilio que essa parceria vai trazer. “A maioria das pessoas que trabalham comigo são alunos meus que fazem um trabalho voluntário. Então vai ser bom porque eles vão ter um recurso. Os monitores e os oficineiros vão ter um retorno, vão poder ter a iniciativa como um trabalho”, justifica. No espaço cultural, os alunos do projeto são atendidos na parte da manhã e da tarde. Já pela noite, são os alunos das turmas do mestre que têm seu treinamento no local. São esses, já mais avançados no aprendizado da capoeira, que foram citados como auxiliares das crianças.
O projeto do Pontinho vai atender 300 crianças, vindas da Escola Municipal Luiz de Lemos. Além das aulas práticas e teóricas de capoeira, haverá um trabalho com o maculelê e o jongo, que são danças folclóricas. “O projeto vem para dar uma força, porque no trabalho social que eu já tenho aqui não recebo o apoio de ninguém”, explica Nagô, que também tem uma parceria com o Sesc de Nova Iguaçu, palco de frequentes eventos do Abadá Capoeira.
Benefícios pessoais
Além da valorização da nossa cultura e história, a capoeira traz inúmeros benefícios pessoais. Ela é a única atividade que movimenta todos os músculos do corpo, desenvolvendo a coordenação motora. Estimula a concentração, flexibilidade e percepção. “Você fica muito mais atento ao sair na rua”, afirma Mestre Nagô. Também há a contribuição que o esporte traz a pessoas tímidas ou hiperativas.
Engana-se quem pensa que, para praticar capoeira, é preciso ter o dom ou ter o corpo atlético. “Muitas vezes, a pessoa cria uma barreira, achando que não tem capacidade. Mas, depois que começa a fazer a ginga, tudo fica muito simples”, explica. No primeiro dia de aula, o aluno já começa a gingar, com 15 dias já faz os movimentos básicos da capoeira.
Hoje existe uma metodologia de acompanhamento de iniciantes e Nagô garante que todos aprendem. Até quem chega sem domínio sobre o corpo. O Abadá tem também um trabalho com portadores de deficiências físicas, dentro do qual se encontram até cadeirantes. “E as pessoas ditas perfeitas pela sociedade ainda têm medo”, diz o mestre, que também atende idosos.
“Nós temos que ter perseverança. Se você gosta, tem que vir fazer, sem receios”, convida Mestre Nagô.
O Espaço Cultural Abadá Capoeira em Nova Iguaçu, fica na Rua Simão Soichet, 774, Posse.
texto e fotos Josy Antunes
Há quase seis anos, o bairro da Posse abriga uma das filiais da Associação Abadá Capoeira, atualmente com representantes em 30 países e em todos os estados do Brasil. Tendo como carro chefe o ensino da capoeira, o espaço mantém um projeto social que atende cerca de 150 crianças da localidade, de forma abrangente.
A proposta é atender também as famílias, detectando possíveis problemas de convivência, na maioria das vezes omitidos. O trabalho feito é voltado para a prevenção, socializando e oferecendo atividades que possam contribuir para a formação do caráter dos alunos. “É melhor e mais barato você fazer um trabalho pra prevenir, do que depois tentar reverter o quadro”, explica Sérgio Souza de Oliveira, o Mestre Nagô. Além de capoeira, a associação Abadá participa de campanhas de doações de agasalhos, desarmamento, prevenção da dengue e arrecadação de alimentos, bem como de plantio de árvores e doação de sangue.
A Associação foi fundada em 1989, em Botafogo.O Mestre Camisa – mestre de Nagô – pensou em utilizar a capoeira como recurso pedagógico, artístico e cultural para valorizar a contribuição social que pode ser oferecida através dela. Devido a seus conceitos inovadores, o trabalho do Abadá passou a ser observado por diversas pessoas – inclusive estrangeiros – que foram se filiando.
Identidades escondidas
O nome Abadá deriva da vestimenta usada na prática do esporte. Já os curiosos nomes que são concedidos aos capoeiristas têm suas origens durante as aulas, na maior parte dos casos quando ainda são iniciantes. No espaço da Posse, encontram-se alunas chamadas por Camomila e Índia, por exemplo. “A gente olha o aluno e vê com o que ele se assemelha. Cada um tem um apelido”, justifica Mestre Nagô. Eles se concretizam no dia do batizado da capoeira. Essa prática é uma tradição que remonta à época em que a capoeira era perseguida. “Pra esconderem suas identidades, os capoeiristas usavam apelidos”, esclarece.
Recentemente, a capoeira foi reconhecida como Patrimônio do Brasil, o que foi um grande avanço. “Mas ainda é muito pouco pelo que ela representa e pelo potencial que tem”, lamenta Mestre Nagô. Ele explica que, no exterior, a valorização é bem maior, onde, ao contrário das escolas brasileiras, a a capoeira foi incluída no currículo. “Tem sido um trabalho maravilhoso lá fora. Pode ser maravilhoso aqui também!”, acredita.
Nagô explica que a capoeira é o resultado de uma necessidade que os escravos tiveram em criar uma luta, como forma de defesa, auxiliando na fuga de perseguições. Segundo ele, Nova Iguaçu tem um incrível potencial histórico, que no entanto é mais conhecido e valorizado pelos turistas do que pelos próprios moradores. É aqui que os historiadores têm baseado algumas de suas pesquisas sobre os quilombos, que marcam um passado desconhecido da cidade. A Pedra da Contenda - que era usada como mirante dos escravos - é um exemplo dessa riqueza. “Falta o poder público olhar com mais carinho para Nova Iguaçu e a Baixada.”
Difusão da língua
Além de difundir nossa história, a capoeira está para o português como o rock e o cinema estão para a língua inglesa. Tudo é ensinado na nossa língua, até as músicas. A partir da terceira graduação, os alunos estrangeiros já estão falando o idioma. “O pessoal vem aqui e fala normalmente”, conta Mestre Nagô, lembrando o caso do israelita que, em visita a Nova Iguaçu, após horas falando um português perfeito, assustou a muitos - que acreditavam na sua origem brasileira.
Sempre em agosto - época de férias no exterior – acontece, em Nova Iguaçu, o Encontro Internacional de Capoeira, quando comparecem aqui representantes de mais de 15 países. O evento contribui não só para o turismo local, mas também para que haja o intercâmbio entre os alunos locais com os estrangeiros.
Diretores de cursos de inglês em Nova Iguaçu, após comprovarem a importância do trabalho , concederam aos alunos 15 bolsas de estudo. Quando a visita dos estrangeiros acontece, as crianças podem recebê-los, tendo a oportunidade de praticar o novo idioma. “A proposta é fazer da criança um multiplicador. Isso é importante, trabalhar a auto estima, dar uma perspectiva”, declara Mestre Nagô.
Como um dos fundadores e defensor dos ideais do Abadá Capoeira, Nagô presencia as mudanças comportamentais dos alunos do espaço. Nas reuniões feitas com os pais, são muitos os depoimentos seguidos de agradecimentos, pelo avanço dos filhos tanto dentro de casa quanto nas escolas. “Eu falo para as crianças que a prioridade é a escola e a obediência aos pais. Depois é que vem a dedicação à capoeira”, assegura ele. Com o auxílio de assistentes sociais e pedagogos voluntários, os pais participam de dinâmicas de grupo e têm um espaço garantido para suas opiniões. “Eles ficam fascinados! E a proposta é colocar a família aqui reunida, pra que possamos orientar juntos e acompanhar o desenvolvimento dos filhos” - afirma Mestre Nagô - “Eu sempre digo a eles: ‘olha, tem que se aproximar do seu filho, se não alguém vai adotar. E se adotar não vai tratar com amor, mas com um interesse que muitas vezes gera consequências’”, alerta.
Preconceito religioso
A capoeira ainda enfrenta preconceitos devido à associação que se faz ao candomblé. Atualmente, no Abadá Capoeira, existe até o cuidado referente às letras das músicas: “Os alunos podem compor, contanto que não envolva essa questão de religião”, explica Nagô. “Tem o problema do pastor proibir, porque ouve as músicas tocadas com o atabaque, berimbau e o pandeiro e liga a outras religiões”, declara ele, que procura orientar os alunos. “Uma coisa não tem nada a ver com a outra, então tem que orientar”, afirma o mestre, que já tem o trabalho com o esporte implantado dentro de algumas igrejas.
O projeto social do espaço foi recentemente contemplado com um Ponto de Cultura - o Pontinho. “Agora estamos aguardando pra ver se sai do papel e vem pra prática”, diz Mestre Nagô, que acredita no auxilio que essa parceria vai trazer. “A maioria das pessoas que trabalham comigo são alunos meus que fazem um trabalho voluntário. Então vai ser bom porque eles vão ter um recurso. Os monitores e os oficineiros vão ter um retorno, vão poder ter a iniciativa como um trabalho”, justifica. No espaço cultural, os alunos do projeto são atendidos na parte da manhã e da tarde. Já pela noite, são os alunos das turmas do mestre que têm seu treinamento no local. São esses, já mais avançados no aprendizado da capoeira, que foram citados como auxiliares das crianças.
O projeto do Pontinho vai atender 300 crianças, vindas da Escola Municipal Luiz de Lemos. Além das aulas práticas e teóricas de capoeira, haverá um trabalho com o maculelê e o jongo, que são danças folclóricas. “O projeto vem para dar uma força, porque no trabalho social que eu já tenho aqui não recebo o apoio de ninguém”, explica Nagô, que também tem uma parceria com o Sesc de Nova Iguaçu, palco de frequentes eventos do Abadá Capoeira.
Benefícios pessoais
Além da valorização da nossa cultura e história, a capoeira traz inúmeros benefícios pessoais. Ela é a única atividade que movimenta todos os músculos do corpo, desenvolvendo a coordenação motora. Estimula a concentração, flexibilidade e percepção. “Você fica muito mais atento ao sair na rua”, afirma Mestre Nagô. Também há a contribuição que o esporte traz a pessoas tímidas ou hiperativas.
Engana-se quem pensa que, para praticar capoeira, é preciso ter o dom ou ter o corpo atlético. “Muitas vezes, a pessoa cria uma barreira, achando que não tem capacidade. Mas, depois que começa a fazer a ginga, tudo fica muito simples”, explica. No primeiro dia de aula, o aluno já começa a gingar, com 15 dias já faz os movimentos básicos da capoeira.
Hoje existe uma metodologia de acompanhamento de iniciantes e Nagô garante que todos aprendem. Até quem chega sem domínio sobre o corpo. O Abadá tem também um trabalho com portadores de deficiências físicas, dentro do qual se encontram até cadeirantes. “E as pessoas ditas perfeitas pela sociedade ainda têm medo”, diz o mestre, que também atende idosos.
“Nós temos que ter perseverança. Se você gosta, tem que vir fazer, sem receios”, convida Mestre Nagô.
O Espaço Cultural Abadá Capoeira em Nova Iguaçu, fica na Rua Simão Soichet, 774, Posse.
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009
Festa ambulante
Trabalhadores informais aproveitam o carnaval para fazer um dinheiro extra
por Marina Rosa
Pode ser que para a maioria das pessoas o carnaval represente dias de folia ou, para os que não curtam, alguns dias para descansar em casa. Mas o que seria do carnaval dos foliões sem os ambulantes, as barraquinhas, os guardadores de carro?
Pois é, o carnaval não é só folia pra todo mundo que gosta de curtir. Há muitas pessoas que fazem parte dessa festa trabalhando. Não se tratam de pessoas viciadas em trabalho. Elas apenas enxergam nas multidões arrastadas pelos blocos e escolas de samba uma possibilidade de fazer um trocado.
Até quem não tem idade para trabalhar e deveria se preocupar apenas com diversão acaba cedendo à tentação de ganhar uma grana nos dias de folia. O jovem estudante João Freitas, 16 anos, morador de Boa Esperança, incentivou o pai desempregado a comprar bebidas para ele próprio vender nas ruas. “É que eu quero comprar um tênis novo e minha família neste momento não está podendo”, explica o jovem.
Apesar da pouca idade, João Freitas gostaria de estar trabalhando para ajudar a mãe, que trabalha como auxiliar de limpeza para sustentar os três filhos. Mas o máximo que consegue é uns bicos de vez em quando. “Não dá pra ajudar nem em casa direto, imagine pra comprar algo pra mim". O adolescente curte o carnaval desde os 10 anos de idade e, assim que vender as mercadorias nas quais a família investiu, vai cair no samba. "Depois que eu conseguir o dinheiro que eu preciso pra comprar meu tênis, eu vou curtir um pouco.”
Tem que aturar
É possível que João Freitas cruze com a atendente de loja Lurdes, uma moradora de Jardim Pernambuco de 33 anos, que vende pipocas e bebidas no carnaval desde 2006. “Tenho emprego de carteira assinada há oito meses”, conta ela. Mas ela aproveita a época para completar renda, que no momento é de pouco mais de um salário mínimo. "Não gosto porque tem muita confusão de pessoas e uma agitação tremenda”, admite. “Mas tenho que aturar tudo isso só pra ganhar uma grana."
Apesar de serem apenas quatro dias, a grana extra não é único motivo para a dona de casa Lucia de Melo Santos, 29 anos, ganhar as ruas com as mãos cheias de mercadoria. Uma foliã desde o início da adolescência, ela tenta conciliar a necessidade de uma renda extra com a de estar junto do marido. "Eu não sei o que seria de mim sem o carnaval porque é só nessa época que eu e meu marido conseguimos ficar bem juntinhos mesmo trabalhando", afirma a dona de casa.
Mas não são apenas os comerciantes que aproveitam o carnaval para fazer um dinheiro extra. Que o diga o malabarista Leandro Furtado, que no ano passado pegou o seu material de trabalho e se mandou para o litoral sul do Rio de Janeiro, apresentando-se para públicos diversos em Paraty, Ilha Grande e Trindade. "Consegui R$90 em três bares de Ilha Grande”, lembra o malabarista. Mas ele sabe que o seu lucro nem sempre é garantido. “Passei o dia quase todo trabalhando em Trindade e só consegui R$30", confessa. Apesar dos altos e baixos da profissão, ele vai repetir a dose esse ano, dessa vez em Sana.
por Marina Rosa
Pode ser que para a maioria das pessoas o carnaval represente dias de folia ou, para os que não curtam, alguns dias para descansar em casa. Mas o que seria do carnaval dos foliões sem os ambulantes, as barraquinhas, os guardadores de carro?
Pois é, o carnaval não é só folia pra todo mundo que gosta de curtir. Há muitas pessoas que fazem parte dessa festa trabalhando. Não se tratam de pessoas viciadas em trabalho. Elas apenas enxergam nas multidões arrastadas pelos blocos e escolas de samba uma possibilidade de fazer um trocado.
Até quem não tem idade para trabalhar e deveria se preocupar apenas com diversão acaba cedendo à tentação de ganhar uma grana nos dias de folia. O jovem estudante João Freitas, 16 anos, morador de Boa Esperança, incentivou o pai desempregado a comprar bebidas para ele próprio vender nas ruas. “É que eu quero comprar um tênis novo e minha família neste momento não está podendo”, explica o jovem.
Apesar da pouca idade, João Freitas gostaria de estar trabalhando para ajudar a mãe, que trabalha como auxiliar de limpeza para sustentar os três filhos. Mas o máximo que consegue é uns bicos de vez em quando. “Não dá pra ajudar nem em casa direto, imagine pra comprar algo pra mim". O adolescente curte o carnaval desde os 10 anos de idade e, assim que vender as mercadorias nas quais a família investiu, vai cair no samba. "Depois que eu conseguir o dinheiro que eu preciso pra comprar meu tênis, eu vou curtir um pouco.”
Tem que aturar
É possível que João Freitas cruze com a atendente de loja Lurdes, uma moradora de Jardim Pernambuco de 33 anos, que vende pipocas e bebidas no carnaval desde 2006. “Tenho emprego de carteira assinada há oito meses”, conta ela. Mas ela aproveita a época para completar renda, que no momento é de pouco mais de um salário mínimo. "Não gosto porque tem muita confusão de pessoas e uma agitação tremenda”, admite. “Mas tenho que aturar tudo isso só pra ganhar uma grana."
Apesar de serem apenas quatro dias, a grana extra não é único motivo para a dona de casa Lucia de Melo Santos, 29 anos, ganhar as ruas com as mãos cheias de mercadoria. Uma foliã desde o início da adolescência, ela tenta conciliar a necessidade de uma renda extra com a de estar junto do marido. "Eu não sei o que seria de mim sem o carnaval porque é só nessa época que eu e meu marido conseguimos ficar bem juntinhos mesmo trabalhando", afirma a dona de casa.
Mas não são apenas os comerciantes que aproveitam o carnaval para fazer um dinheiro extra. Que o diga o malabarista Leandro Furtado, que no ano passado pegou o seu material de trabalho e se mandou para o litoral sul do Rio de Janeiro, apresentando-se para públicos diversos em Paraty, Ilha Grande e Trindade. "Consegui R$90 em três bares de Ilha Grande”, lembra o malabarista. Mas ele sabe que o seu lucro nem sempre é garantido. “Passei o dia quase todo trabalhando em Trindade e só consegui R$30", confessa. Apesar dos altos e baixos da profissão, ele vai repetir a dose esse ano, dessa vez em Sana.
Água na boca
Bloco Chupa sem Babar arrasta multidões no Cacuia
por Tatiana Sant'Anna, Viviane Menezes e Suelen.
Chupa sem Babar – este é o nome do bloco que movimenta, anima e transforma o carnaval da Cacuia em uma grande festa. Para alegria do povo, ele sai nos quatro dias de folia.
Dono da quadra onde o bloco se reúne, Joel de Araújo, 66 anos, fica feliz da vida ao ver na rua o resultado de meses de ensaios. "É um sucesso!”, orgulha-se ele, que tem plena consciência da dureza com que essa festa é construída.
O Chupa sem Babar movimenta o carnaval do Cacuia há oito anos: "Se ele não sair, o carnaval do Cacuia morre". Mas não é só de alegria e sucesso que vive o bloco. Segundo Joel, uma das coisas mais necessárias seria um apoio como fantasias para os foliões: "Isso é o mínimo", protesta.
Cento e cinqüenta pessoas saem no bloco, incluindo os 15 ritmistas. A ajuda de custo sobre o bloco vem de Joel e do presidente Franklin: "Se não tiver o bloco, não tem carnaval aqui. As pessoas esperam por nós, a animação é nossa. Essa é a motivação para continuar". E completa: "O bloco arrasta as pessoas".
As fantasias usadas pelos foliões são exclusivamente feitas por eles: “Cada um trás a sua. Não temos verba para comprar fantasia padrão para todos. Então cada folião confecciona a sua fantasia”, conta Joel, que revela que a fantasia é apenas um adereço. O que vale é a alegria que cada componente carrega no coração: “Eles (foliões) estão aqui porque gostam. O que vale é a animação”.
O Chupa sem Babar tem presença garantida nos quatros dias de carnaval, iniciando sua concentração a partir das 20:00 na quadra do Espaço Musical do Cacuia. Por onde passa, o bloco arrasta as pessoas na rua até chegar ao campo do Cacuia, seu destino final. "Damos uma parada lá e outra aqui". A festa só tem hora marcada para começar, mas pode ir até o sol raiar. "Não temos hora para terminar".
O bloco apresenta um samba novo a cada ano, mas, durante o desfile, a bateria pode recorrer a músicas de carnavais passados. "Nós temos o samba do bloco. Mas, se der problema, a gente bota um samba antigo pra rodar.” Segundo Joel Seresteiro, os foliões estão sempre pedindo músicas do repertório do Chupa sem Babar. "De repente, pode acontecer de a música de 2009 estar mais bonita do que a do ano passado."
Os foliões do Chupa sem Babar só se incomodam com o som emitido dos carros, que são a versão iguaçuana do trio elétrico baiano "Não quero discriminar os outros sons, mas, no carnaval, as pessoas gostam de ouvir coisas de carnaval, como as marchinhas. Carnaval é carnaval... É samba... É marchinha."
Camarote
Há três anos morando no bairro, o gestor de vendas Sérgio da Fonseca, 31 anos, tem vários motivos para estar feliz com a sua casa. Um deles é que, no carnaval, pode curtir o carnaval do Cacuia da sacada do primeiro andar, que ele chama de “camarote”. “Não preciso participar do tumulto”, comemora.
Apreciada por quem olha do nível do chão, várias pessoas já se ofereceram para passar o carnaval na sua casa. “Mas aqui só entram os familiares e os amigos mais próximos”, avisa. Para ele, o aspecto positivo é se divertir sem estar no meio da multidão. "É interessante ver a alegria do povo e principalmente a do bloco passando", conta, referindo-se ao bloco Chupa sem Babar.
Fonseca não se incomoda com o barulho do carnaval do Cacuia, que começa às 17:00 e vai até à meia-noite. É por isso que sequer cogita a possibilidade de sair do “camarote” de sua casa no carnaval de 2009. "Não me arrependo. Gosto daqui, e ainda economizo", diz, satisfeito.
por Tatiana Sant'Anna, Viviane Menezes e Suelen.
Chupa sem Babar – este é o nome do bloco que movimenta, anima e transforma o carnaval da Cacuia em uma grande festa. Para alegria do povo, ele sai nos quatro dias de folia.
Dono da quadra onde o bloco se reúne, Joel de Araújo, 66 anos, fica feliz da vida ao ver na rua o resultado de meses de ensaios. "É um sucesso!”, orgulha-se ele, que tem plena consciência da dureza com que essa festa é construída.
O Chupa sem Babar movimenta o carnaval do Cacuia há oito anos: "Se ele não sair, o carnaval do Cacuia morre". Mas não é só de alegria e sucesso que vive o bloco. Segundo Joel, uma das coisas mais necessárias seria um apoio como fantasias para os foliões: "Isso é o mínimo", protesta.
Cento e cinqüenta pessoas saem no bloco, incluindo os 15 ritmistas. A ajuda de custo sobre o bloco vem de Joel e do presidente Franklin: "Se não tiver o bloco, não tem carnaval aqui. As pessoas esperam por nós, a animação é nossa. Essa é a motivação para continuar". E completa: "O bloco arrasta as pessoas".
As fantasias usadas pelos foliões são exclusivamente feitas por eles: “Cada um trás a sua. Não temos verba para comprar fantasia padrão para todos. Então cada folião confecciona a sua fantasia”, conta Joel, que revela que a fantasia é apenas um adereço. O que vale é a alegria que cada componente carrega no coração: “Eles (foliões) estão aqui porque gostam. O que vale é a animação”.
O Chupa sem Babar tem presença garantida nos quatros dias de carnaval, iniciando sua concentração a partir das 20:00 na quadra do Espaço Musical do Cacuia. Por onde passa, o bloco arrasta as pessoas na rua até chegar ao campo do Cacuia, seu destino final. "Damos uma parada lá e outra aqui". A festa só tem hora marcada para começar, mas pode ir até o sol raiar. "Não temos hora para terminar".
O bloco apresenta um samba novo a cada ano, mas, durante o desfile, a bateria pode recorrer a músicas de carnavais passados. "Nós temos o samba do bloco. Mas, se der problema, a gente bota um samba antigo pra rodar.” Segundo Joel Seresteiro, os foliões estão sempre pedindo músicas do repertório do Chupa sem Babar. "De repente, pode acontecer de a música de 2009 estar mais bonita do que a do ano passado."
Os foliões do Chupa sem Babar só se incomodam com o som emitido dos carros, que são a versão iguaçuana do trio elétrico baiano "Não quero discriminar os outros sons, mas, no carnaval, as pessoas gostam de ouvir coisas de carnaval, como as marchinhas. Carnaval é carnaval... É samba... É marchinha."
Camarote
Há três anos morando no bairro, o gestor de vendas Sérgio da Fonseca, 31 anos, tem vários motivos para estar feliz com a sua casa. Um deles é que, no carnaval, pode curtir o carnaval do Cacuia da sacada do primeiro andar, que ele chama de “camarote”. “Não preciso participar do tumulto”, comemora.
Apreciada por quem olha do nível do chão, várias pessoas já se ofereceram para passar o carnaval na sua casa. “Mas aqui só entram os familiares e os amigos mais próximos”, avisa. Para ele, o aspecto positivo é se divertir sem estar no meio da multidão. "É interessante ver a alegria do povo e principalmente a do bloco passando", conta, referindo-se ao bloco Chupa sem Babar.
Fonseca não se incomoda com o barulho do carnaval do Cacuia, que começa às 17:00 e vai até à meia-noite. É por isso que sequer cogita a possibilidade de sair do “camarote” de sua casa no carnaval de 2009. "Não me arrependo. Gosto daqui, e ainda economizo", diz, satisfeito.
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009
Proibido para menores de 40 anos
Foliões lembram como era o carnaval em sua juventude
por Suelen Cunha, Luana Faria e Larissa Leotério
Aos 56 anos, Dona Elisabeth Gomes diz que em sua juventude participou inúmeras vezes das folias carnavalescas pelos bairros e comunidades próximos a sua casa, onde a prefeitura ou os próprios moradores montavam palanques em lugares adequados, próximos aos Centros Comerciais, atraindo centenas de pessoas querendo se divertir. Nessas festas, vários blocos surgiam, dentre eles, vários “Blocos das piranhas”, que eram de homens vestidos de mulher. Eles faziam a maior graça. Próximos aos palanques, surgiam muitas barraquinhas de vendas variadas e o pessoal adorava sambar, dizendo no pé o seu contentamento. Hoje, Dona Elisabeth não participa mais, devido à escolha religiosa, mas diz que era assim o carnaval de Austin.
Já Diogo Cunha, 25 anos, diz que até aos 7 anos seus pais costumavam levá-lo para o carnaval do bairro em que mora. Havia a Escola de Samba, ainda no fundo de um quintal, a Tupi, onde o samba, de primeira, lotava as ruas, com muita “azaração” e fantasias engraçadas, feitas de última hora, ao gosto de cada um.
Ricardo Sampaio, 42 anos, conta que o carnaval de antigamente era mais animado. Os moradores ficavam na cidade ou nos bairros, para brincar. Hoje eles procuram praias, cidades pequenas ou retiros. Antes, o carnaval de rua era forte, comparando-se à festa de Santo Antônio, em números atuais. Os blocos eram mais cheios e mais numerosos. Todos se encontravam, vindos de vários bairros, firmando laços de amizade, o que, talvez, passou a rarear, devido à diversidade evangélica.
“Mas gosto de carnaval!”, diz. “Frequento a rua em todos os dias de folia, acompanhando os blocos. Saudade do antigo carnaval. Quem é que não tem? Tenho a impressão que está voltando a ser popular outra vez! Carnaval bem povo. Aquele momento em que as pessoas se encontram, pois é um lazer bom pra todo o mundo, onde só se paga o que se consome”.
Ricardo ainda lembra de quando se fantasiava. A última fantasia foi aos 10 anos. Mostra uma foto fantasiado de Falcão Negro. Depois, até aos 25 anos, o carnaval passou a ser, para ele, uma forma de ganhar dinheiro. “Hoje a minha diversão é assistir os blocos: Bola Preta, Bafo da Onça e Cacique de Ramos, pois o carnaval é nossa identidade cultural. Nesses dias todos são iguais, não importa o dinheiro. O espírito carnavalesco é o que vale. O lado negativo ainda é a “mídia televisiva”, onde a beleza vira uma indústria. O que mais acho graça são os grupos de homens vestidos de mulher. Me lembra o filme “Priscila, a rainha do deserto”. Isso virou uma “marca registrada” em Nova Iguaçu."
Dona Marilene Barbosa Mixo conta que o carnaval não é mais o mesmo e mostra as fotos das pessoas de Nova Iguaçu em “uma época dourada” do carnaval de rua. Ela também participou do carnaval nos clubes Esporte Clube Iguaçu, Iguaçu Basquete Clube, Nova Iguaçu Country Clube, entre outros. “Os sócios ficavam nos clubes e nas ruas havia coretos", diz. “A prefeitura montava coretos para os foliões e assim começava a guerra de confete, serpentina e o (ainda inocente) lança-perfume. Além disso tinham os concursos de fantasias, com premiações simples. Para as crianças, eram balas e doces. As fantasias vencedoras dos clubes iam se apresentar em outros lugares. As pessoas iam e vinham a pé, pois os moradores botavam as cadeiras em frente das casas para acompanharem e comentarem.”
Dona Marilene diz que o carnaval de rua era tranqüilo, tanto para os adultos, que brincavam de 11 da noite até às quatro da manhã, quanto para as crianças, que brincavam das quatro da tarde até às 7 da noite. Mesmo quando acontecia de as crianças e os adultos se encontrarem, entre um ou outro horário, nunca havia problema. Às vezes, a diversão era ainda maior, pois as crianças se divertiam com os adultos, principalmente no “Bloco das Piranhas”, como esse que existe até hoje no bairro Jardim Alvorada. Dona Marilene busca, saudosa, imagens da sua infância, relembrando sua mãe, no afã, costurando e bordando inúmeras fantasias. Muitas delas saíram vencedoras de concursos. “Por volta de meus 19 anos é que o carnaval começou a se transformar na cidade, ficando, às vezes, perigoso. Muitas famílias decidiram não mais passar os quatro dias brincando nas ruas iguaçuanas. As pessoas não têm o mesmo respeito. Algumas turmas de Clóvis causam medo! Antes eram muitos Blocos de Sujo, animados. Sem assaltos, bebedeiras ou “fumados”, como hoje existem em alguns lugares. Mas nos últimos quatro ou cinco anos, o carnaval parece estar voltando às ruas de Nova Iguaçu.”
O historiador, compositor e antigo folião Ney Alberto conta que sempre foi uma tradição na cidadeos Blocos de Sujo (antes chamados de Blocos do Fedor), o Bloco dos Chifrudos, os Foliões de Iguaçu e, mais tarde, os blocos: Bafo da Cobra, Pulo do Gato e Filhos de Iguaçu. O professor Ney conta que os blocos visitavam as residências que lhes abriam as portas e também os clubes. Que as marchinhas, os coretos, os blocos improvisados e, também, as fantasias improvisadas, sempre contagiaram mais a alegria dos bairros.
por Suelen Cunha, Luana Faria e Larissa Leotério
Aos 56 anos, Dona Elisabeth Gomes diz que em sua juventude participou inúmeras vezes das folias carnavalescas pelos bairros e comunidades próximos a sua casa, onde a prefeitura ou os próprios moradores montavam palanques em lugares adequados, próximos aos Centros Comerciais, atraindo centenas de pessoas querendo se divertir. Nessas festas, vários blocos surgiam, dentre eles, vários “Blocos das piranhas”, que eram de homens vestidos de mulher. Eles faziam a maior graça. Próximos aos palanques, surgiam muitas barraquinhas de vendas variadas e o pessoal adorava sambar, dizendo no pé o seu contentamento. Hoje, Dona Elisabeth não participa mais, devido à escolha religiosa, mas diz que era assim o carnaval de Austin.
Já Diogo Cunha, 25 anos, diz que até aos 7 anos seus pais costumavam levá-lo para o carnaval do bairro em que mora. Havia a Escola de Samba, ainda no fundo de um quintal, a Tupi, onde o samba, de primeira, lotava as ruas, com muita “azaração” e fantasias engraçadas, feitas de última hora, ao gosto de cada um.
Ricardo Sampaio, 42 anos, conta que o carnaval de antigamente era mais animado. Os moradores ficavam na cidade ou nos bairros, para brincar. Hoje eles procuram praias, cidades pequenas ou retiros. Antes, o carnaval de rua era forte, comparando-se à festa de Santo Antônio, em números atuais. Os blocos eram mais cheios e mais numerosos. Todos se encontravam, vindos de vários bairros, firmando laços de amizade, o que, talvez, passou a rarear, devido à diversidade evangélica.
“Mas gosto de carnaval!”, diz. “Frequento a rua em todos os dias de folia, acompanhando os blocos. Saudade do antigo carnaval. Quem é que não tem? Tenho a impressão que está voltando a ser popular outra vez! Carnaval bem povo. Aquele momento em que as pessoas se encontram, pois é um lazer bom pra todo o mundo, onde só se paga o que se consome”.
Ricardo ainda lembra de quando se fantasiava. A última fantasia foi aos 10 anos. Mostra uma foto fantasiado de Falcão Negro. Depois, até aos 25 anos, o carnaval passou a ser, para ele, uma forma de ganhar dinheiro. “Hoje a minha diversão é assistir os blocos: Bola Preta, Bafo da Onça e Cacique de Ramos, pois o carnaval é nossa identidade cultural. Nesses dias todos são iguais, não importa o dinheiro. O espírito carnavalesco é o que vale. O lado negativo ainda é a “mídia televisiva”, onde a beleza vira uma indústria. O que mais acho graça são os grupos de homens vestidos de mulher. Me lembra o filme “Priscila, a rainha do deserto”. Isso virou uma “marca registrada” em Nova Iguaçu."
Dona Marilene Barbosa Mixo conta que o carnaval não é mais o mesmo e mostra as fotos das pessoas de Nova Iguaçu em “uma época dourada” do carnaval de rua. Ela também participou do carnaval nos clubes Esporte Clube Iguaçu, Iguaçu Basquete Clube, Nova Iguaçu Country Clube, entre outros. “Os sócios ficavam nos clubes e nas ruas havia coretos", diz. “A prefeitura montava coretos para os foliões e assim começava a guerra de confete, serpentina e o (ainda inocente) lança-perfume. Além disso tinham os concursos de fantasias, com premiações simples. Para as crianças, eram balas e doces. As fantasias vencedoras dos clubes iam se apresentar em outros lugares. As pessoas iam e vinham a pé, pois os moradores botavam as cadeiras em frente das casas para acompanharem e comentarem.”
Dona Marilene diz que o carnaval de rua era tranqüilo, tanto para os adultos, que brincavam de 11 da noite até às quatro da manhã, quanto para as crianças, que brincavam das quatro da tarde até às 7 da noite. Mesmo quando acontecia de as crianças e os adultos se encontrarem, entre um ou outro horário, nunca havia problema. Às vezes, a diversão era ainda maior, pois as crianças se divertiam com os adultos, principalmente no “Bloco das Piranhas”, como esse que existe até hoje no bairro Jardim Alvorada. Dona Marilene busca, saudosa, imagens da sua infância, relembrando sua mãe, no afã, costurando e bordando inúmeras fantasias. Muitas delas saíram vencedoras de concursos. “Por volta de meus 19 anos é que o carnaval começou a se transformar na cidade, ficando, às vezes, perigoso. Muitas famílias decidiram não mais passar os quatro dias brincando nas ruas iguaçuanas. As pessoas não têm o mesmo respeito. Algumas turmas de Clóvis causam medo! Antes eram muitos Blocos de Sujo, animados. Sem assaltos, bebedeiras ou “fumados”, como hoje existem em alguns lugares. Mas nos últimos quatro ou cinco anos, o carnaval parece estar voltando às ruas de Nova Iguaçu.”
O historiador, compositor e antigo folião Ney Alberto conta que sempre foi uma tradição na cidadeos Blocos de Sujo (antes chamados de Blocos do Fedor), o Bloco dos Chifrudos, os Foliões de Iguaçu e, mais tarde, os blocos: Bafo da Cobra, Pulo do Gato e Filhos de Iguaçu. O professor Ney conta que os blocos visitavam as residências que lhes abriam as portas e também os clubes. Que as marchinhas, os coretos, os blocos improvisados e, também, as fantasias improvisadas, sempre contagiaram mais a alegria dos bairros.
Baixinhos no Top
Pais podem deixar filhos no baile enquanto curtem um cineminha
por Julliane Mello e Lucas Lima
Carnaval é para todas as idades. Afinal, quem não gosta de cair na folia e aproveitar a festa?
Aqui em Nova Iguaçu sempre foi difícil encontrar opções de divertimento nesta época, principalmente para crianças. Mas em 2009 está sendo diferente.
Neste carnaval, as crianças já têm onde se aquecer para curtir os quatro dias de bagunça.
Desde o dia 6 de fevereiro, o Top Shopping abriu suas portas das 14:00 às 20:00 para a turminha, oferecendo um camarim com fantasias, maquiagens, oficinas de arte e pista de dança com confetes, serpentinas e alegria de sobra. A folia vai até o dia 21deste mês – próximo sábado.
Essa foi a primeira vez que o Top Shopping produziu um evento voltado para as crianças no período carnavalesco. “Estou adorando ver a garotada se divertindo”, diz Aline Cattem, a coordenadora do evento. Trabalhando há 13 anos no shopping, ela sempre sentiu falta de eventos voltados para a criançada. “A cidade é muito carente de diversão, e eu fico triste quando não tem evento aos domingos.”
O evento recebe uma média de 150 crianças por dia, e tem carregado muitas famílias para o shopping. Enquanto os papais curtem um cineminha, os filhotes pulam o carnaval. A faixa etária das crianças é de 3 a 12 anos, e o evento é gratuito.
Folia caseira
Famílias da Baixada preferem fazer a festa na frente da tv
por Josy Antunes
Nem só de badalação se faz o carnaval. Há aqueles que trocam a agitação das ruas pelo conforto de suas próprias casas, onde rola um outro tipo de festa. Indo contra a preferência da maioria, Lilian Freitas, uma moradora de Austin, de 19 anos, responde com firmeza ao ser perguntada sobre o tão esperado feriado: “Gosto de assistir aos desfiles das escolas de samba!” Apesar dos três irmãos pequenos, o alvoroço durante a madrugada não se abala. “Eu torço pela Beija-Flor de Nilópolis!”, diz ela, já na expectativa pelos desfiles.
A fase pré-carnaval chega a ser tensa em algumas casas. Além da ansiedade pelo desfile das respectivas escolas, há o período da compra e preparação dos mantimentos. “A movimentação é quase igual a ir à Sapucaí”, explica Sidnea Rodrigues, moradora de Vila de Cava, que passa a data com cerca de treze pessoas, entre familiares e amigos. Pra garantir a fartura durante os dias de momo, ela e suas irmãs trabalham com dedicação. “São muitos comes-e-bebes. Depois, é de sábado até quarta-feira comendo”, explica ela.
Na grande sala da casa, mesmo abrigando seguidores de diferentes escolas de samba, o gosto e o respeito pelo carnaval são unânimes. “É tipo uma reunião familiar. Fica todo mundo sentadinho, falando sobre o dia-a-dia”, conta Sidnea, que não abre mão desse momento, nem na hipótese de assistir ao desfile ao vivo. “Não sei se seria tão bom quanto é em casa”. E a preferência não se dá apenas por causa da grande reunião. Ela considera que a festa nas ruas e avenidas tem sido cada vez mais perigosas, e que a falta da certeza do regresso até impede que a plena diversão aconteça. “A diversão é a mesma, só que em casa tem segurança”, avalia ela.
Na grande sala da casa, mesmo abrigando seguidores de diferentes escolas de samba, o gosto e o respeito pelo carnaval são unânimes. “É tipo uma reunião familiar. Fica todo mundo sentadinho, falando sobre o dia-a-dia”, conta Sidnea, que não abre mão desse momento, nem na hipótese de assistir ao desfile ao vivo. “Não sei se seria tão bom quanto é em casa”. E a preferência não se dá apenas por causa da grande reunião. Ela considera que a festa nas ruas e avenidas tem sido cada vez mais perigosas, e que a falta da certeza do regresso até impede que a plena diversão aconteça. “A diversão é a mesma, só que em casa tem segurança”, avalia ela.
Como acompanhamento dos desfiles, Sidnea tem sempre à mão sua famosa batata-frita, que faz questão de preparar pessoalmente. Um corte fino e preciso é o segredo para que ela fique crocante e garanta o agrado do paladar durante toda a madrugada: “Vai até oito da manhã.”
Torcedora da Portela, “com muito orgulho”, ela está confiante na vitória para esse ano. “Vamos ser campeões!”, decreta ela, lamentando os quase dez anos de jejum de títulos da sua escola.
Zoação
Josemar Gomes, 20 anos, morador de Vila Nova, é apaixonado pela Estação Primeira da Mangueira desde bem pequeno. “Sempre fui muito zoado por ser mangueirense, principalmente quando quem ganhava era a Beija-Flor. Mas nunca me importei muito, enxergo as qualidades da escola. Ela tem história, cultura, preserva sua raiz”, defende. Para ele, a paixão vai além dos quatro dias, que passa vestindo a camisa da verde e rosa. “Compro o CD dos sambas, depois compro o DVD para assistir aos ensaios. Faço questão de decorar os sambas-enredos assim que eles são divulgados, mais ou menos em novembro”, declara ele, já com o de 2009 na ponta da língua: “Um elo de amor à minha bandeira! Canta Estação Primeira!”
Sozinho contra seus pais, que torcem pela Beija-Flor, Josemar mantém sua atenção redobrada durante os desfiles, para poder comparar, concordando ou não com os jurados no dia da apuração. “Geralmente assistimos aos desfiles em cômodos diferentes, para não haver problemas”, explica ele, acrescentando que a disputa vira um dilema não só na quarta-feira de cinzas. “Certas notas são comentadas o ano inteiro”, lembra Josemar, que garante que cada nota dez obtida é uma conquista. “E quando a escola do outro ganha uma nota inferior, já vira motivo de chacota.”
Não lhe falta vontade de ver os desfiles de perto, mas os preços dos ingressos não contribuem. Eles custam em média 180 reais, podendo variar de acordo com a visibilidade da avenida e a comodidade. “Já tive o dinheiro do ingresso, mas não encontrei companhias”, queixa-se Josemar, que também tem planos de um dia desfilar na sua escola. “Acredito que nada compensa assistir ao desfile ao vivo. A energia e vibração certamente são maiores”, acrescenta ele, conformando-se com a TV.
Moradora de Cabuçu, Cibele da Costa, de 18 anos, vê o carnaval como a época mais divertida do ano: “Podemos sair fantasiados, andar atrás de trios, pular, sambar, mulheres se vestindo de homem e vice-versa.” Durante os desfiles, ela está pelas ruas, mas a reprise é sagrada. “Quando não dá pra assistir na televisão, assisto no youtube, preciso ver como foi minha escola”, afirma.
Próximo ano
Acompanhada do tio, mangueirense como ela, Cibele tem a transmissão dos desfiles regada não só cerveja. “Às vezes, eu choro de emoção. E quando minha escola perde também. Mas ninguém sabe, por que eu tento me mostrar superior”, diz ela em meio a risos. Quando a derrota acontece, as esperanças para o próximo ano já se iniciam: “Fico esperando que o próximo ano seja melhor.”
Nada abala a devoção de Josemar pela Mangueira. “Hoje sou mangueirense roxo, ou melhor, verde e rosa, mesmo que a escola um dia volte a ser bloco de rua. Não é sempre que os desfiles me agradam, mas faz parte”.
Nos casos de vitória, uma nova festa é iniciada em comemoração, com direito a muitas piadas atacando os adversários. “É a maior alegria, nós nos abraçamos e uma vez eu até chorei”, lembra Cibele.
Torcedora da Portela, “com muito orgulho”, ela está confiante na vitória para esse ano. “Vamos ser campeões!”, decreta ela, lamentando os quase dez anos de jejum de títulos da sua escola.
Zoação
Josemar Gomes, 20 anos, morador de Vila Nova, é apaixonado pela Estação Primeira da Mangueira desde bem pequeno. “Sempre fui muito zoado por ser mangueirense, principalmente quando quem ganhava era a Beija-Flor. Mas nunca me importei muito, enxergo as qualidades da escola. Ela tem história, cultura, preserva sua raiz”, defende. Para ele, a paixão vai além dos quatro dias, que passa vestindo a camisa da verde e rosa. “Compro o CD dos sambas, depois compro o DVD para assistir aos ensaios. Faço questão de decorar os sambas-enredos assim que eles são divulgados, mais ou menos em novembro”, declara ele, já com o de 2009 na ponta da língua: “Um elo de amor à minha bandeira! Canta Estação Primeira!”
Sozinho contra seus pais, que torcem pela Beija-Flor, Josemar mantém sua atenção redobrada durante os desfiles, para poder comparar, concordando ou não com os jurados no dia da apuração. “Geralmente assistimos aos desfiles em cômodos diferentes, para não haver problemas”, explica ele, acrescentando que a disputa vira um dilema não só na quarta-feira de cinzas. “Certas notas são comentadas o ano inteiro”, lembra Josemar, que garante que cada nota dez obtida é uma conquista. “E quando a escola do outro ganha uma nota inferior, já vira motivo de chacota.”
Não lhe falta vontade de ver os desfiles de perto, mas os preços dos ingressos não contribuem. Eles custam em média 180 reais, podendo variar de acordo com a visibilidade da avenida e a comodidade. “Já tive o dinheiro do ingresso, mas não encontrei companhias”, queixa-se Josemar, que também tem planos de um dia desfilar na sua escola. “Acredito que nada compensa assistir ao desfile ao vivo. A energia e vibração certamente são maiores”, acrescenta ele, conformando-se com a TV.
Moradora de Cabuçu, Cibele da Costa, de 18 anos, vê o carnaval como a época mais divertida do ano: “Podemos sair fantasiados, andar atrás de trios, pular, sambar, mulheres se vestindo de homem e vice-versa.” Durante os desfiles, ela está pelas ruas, mas a reprise é sagrada. “Quando não dá pra assistir na televisão, assisto no youtube, preciso ver como foi minha escola”, afirma.
Próximo ano
Acompanhada do tio, mangueirense como ela, Cibele tem a transmissão dos desfiles regada não só cerveja. “Às vezes, eu choro de emoção. E quando minha escola perde também. Mas ninguém sabe, por que eu tento me mostrar superior”, diz ela em meio a risos. Quando a derrota acontece, as esperanças para o próximo ano já se iniciam: “Fico esperando que o próximo ano seja melhor.”
Nada abala a devoção de Josemar pela Mangueira. “Hoje sou mangueirense roxo, ou melhor, verde e rosa, mesmo que a escola um dia volte a ser bloco de rua. Não é sempre que os desfiles me agradam, mas faz parte”.
Nos casos de vitória, uma nova festa é iniciada em comemoração, com direito a muitas piadas atacando os adversários. “É a maior alegria, nós nos abraçamos e uma vez eu até chorei”, lembra Cibele.
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009
Fera no Calçadão
Equipe do programa Beat 98 faz a festa no Centro de Nova Iguaçu
por Marina Rosa
O programa de grande sucesso de audiência entre pessoas de todas as idades da radio Beat 98 visitou Nova Iguaçu na última segunda-feira.
Tino Junior e equipe vieram com tudo para fazer o quadro "Tino nas ruas" na praça Rui Barbosa, no Centro. O alvoroço foi total e contagiante. Parecia um bloco de carnaval em pleno começo de semana. Os moradores e visitantes da cidade paravam, tiravam fotos, pediam autógrafos e participavam das brincadeiras.
Os ouvintes do programa amaram e faziam de tudo para registrar o momento. "Nem acredito que eles vieram mesmo aqui. Eu ouço o programa todos os dias, em qualquer lugar, sou fissurada" – disse Ana Paula , 17 anos, moradora do bairro Cacuia. Mesmo acompanhando o programa, ela só conseguiu acreditar na visita quando conseguiu enxergar Tino Junior, Mulher Bacalhau, Jabuti, Picles, Pinto e a Incrível Tia no meio da multidão.
Como jovem repórter, logo me interessei em entrevistá-los. Esperei até o final, mas o entusiasmo do povo era tanto que não tinha jeito de conseguir algo ali. Por sorte, um dos produtores perguntou a equipe se eu podia entrevista-los e então fui convidada a ir ao estúdio da rádio tanto para conhecer e assistir ao programa quanto participar. Sem pensar duas vezes, aceitei o convite.
Num clima sempre animado e jovem, o locutor inventa bordões que já viraram mania na boca do povo. O “que é isso, fera?” já virou febre entre os jovens da cidade. Quando veem uma menina por que se interessam, os meninos apelam para o "que é isso fera?, chupo sua lingüinha". Embora naturalmente mais tímidas, as meninas também estão aderindo ao bordão do Tino Junior. "Quando eu vejo um carinha muito lindo e quero chamar a atenção dele, acabo dizendo 'que é isso, fera?'”, confessa a estudante Mariana Almeida, 15 anos, moradora do Centro. É assim que ela tenta demonstrar o quanto ficou interessada pela beleza dele.
Fitas K7
O programa do Tino é transmitido diariamente, das oito ao meio-dia, desde setembro de 2008. É um líder de audiência na rádio, nas ruas e na internet. As comunidades são abarrotadas. Apesar disso, ele não se sente um ícone da nova geração da rádio carioca. "Eu sou um ouvinte e um apaixonado por rádio que tem a oportunidade de falar no microfone, só isso”, contou ele, que atribui o seu sucesso ao fato de fazer tudo que o ouvinte gostaria de fazer. Ele acha que seu trabalho é uma extensão das brincadeiras que fazia desde os seis anos de idade, quando usava fitas K7 para alternar entrevistas com a mãe e a execução de músicas.
O sucesso do programa ficou evidente na visita da equipe à cidade. Como o locutor mesmo disse, foi muito legal e quem estava lá pode ver. "O povo recebeu muito bem e isso tem sido uma constante de forma cada vez mais intensa. E o legal é que o Tino não só recebe atenção, carinho e admiração das mulheres, mas dos homens também, o que mostra um respeito muito grande apesar de eu ser meio estourado, às vezes, por falar o que penso. Sou honesto porque acho que a mídia tá muita hipócrita."
Como os ouvintes dos outros cantos do Rio de Janeiro, os iguaçuanos estão animadíssimos com o Banana no Bacalhau, o bloco criado pelo programa. No meio da multidão, a saída no bloco foi tema de muitas conversas. Todos queriam trocar um quilo de alimentos não perecíveis pelo abadá do bloco, que sairá na sexta-feira, às 14h, na praça em frente ao prédio da rádio.
A grande empolgação dos marmanjos era conseguir ser o banana do bloco, pois a mulher bacalhau já foi escolhida. Um dos candidatos foi Jonathan, 20 anos, morador do bairro Santa Rita. Ele rebolou o quanto pode para ser o escolhido.
Além de toda a festa organizada pela equipe, os moradores da cidade também puderam ganhar prêmios com as brincadeiras e promoções do programa como MP4, MP3, kits e camisas. Tudo foi gravado, fotografado e registrado no site da rádio. Quem não participou da folia, pode conferir tudo o que rolou através das fotos.
Farra divina
Religiosos aproveitam carnaval para orar
por Frank Alves, Marina Rosa, Rafaela Herrera e Vani
O carnaval já está nas ruas. É uma tradição milenar, que vem de longe, desde a antiga Roma.Um clima de feriado está presente em toda a cidade. Só se fala nos dias de folia. Dos ambulantes às igrejas, dos foliões que preparam fantasias pra “cair na gandaia” aos religiosos que fazem sua pregação alertando para os perigos do reinado de Momo, todos se preparam para fazer seu carnaval. Mas cada um a seu modo.
Para os fiéis das dezenas de religiões, o reinado da folia deveria acabar, pelo menos da maneira em que é feito nos dias de hoje. Nada de inversão e desregramento. A folia deveria ser trocada por uma louvação da palavra e dos mandamentos de Deus. Seria o fim do “reino da licenciosidade” e o começo de um “reino de paz”. Todos seguramente poderiam viver melhor durante o ano todo.
Os fieis se organizam e viajam para longe dos blocos e das fantasias para estarem mais próximos da meditação e da busca da divindade, em paz e harmonia. As viagens durante o carnaval são diferentes das vigílias de oração. É também uma grande festa, para não fugir do espírito carnavalesco, com uma grande diferença. Em vez da falta de regras que predomina entre os foliões, tem hora pra tudo, inclusive brincar, zoar, se divertir. Mas o principal são as orações para entrar em comunhão com o sagrado.
Tempo de reflexão
Católicos e evangélicos vão aproveitar os quatro dias de carnaval para refletir e orar, avaliando o papel de Deus em suas vidas. Avessos às festas regadas a muita bebida e longe das drogas, os religiosos aproveitam o período em retiro para conhecer novas amizades, formando redes de relacionamentos entre pessoas que comungam da mesma fé, através das orações.
Para a Igreja Católica, o carnaval é uma festa de três dias de muita comilança para celebrar a alegria que antecede o período de oração, penitência e jejum da Quaresma, que se estende da Quarta-Feira de Cinzas ao domingo de Páscoa. Contrariando o que muitos pensam, a religião católica possui certas regras para esse período de diversão. "O carnaval é uma festa com profundas ligações religiosas, inclusive de irmandades de negros, tanto em igrejas como em outras casas de culto", explica o padre Oscar Beozzo.
O padre tem um profundo respeito pelo trabalho sócio-educativo das escolas de samba. Mas, para ele, as pessoas não sabem discernir o que há de benéfico e vulgar no carnaval, entrando em choque com os preceitos ecumênicos. “Para nós, o grande retiro é a Quaresma e vai até a Semana Santa”, ressalva o padre. “Queremos uma alegria sadia, num ambiente agradável. É um encontro com os irmãos em fé juntamente com Jesus, através de diversos procedimentos como dinâmica de grupo, representação teatral, dramatizações para motivar os fiéis.”
Coisas ruins
Os evangélicos também se afastam durante o carnaval, com a intenção de refletir e orar sobre o que de nefasto pode acontecer durante essa época do ano. "Nós fazemos retiros, para ficar mais perto de Deus, nessa época do ano que tem muitas coisas ruins acontecendo", diz Cláudia, de 34 anos, que ressalta a união entre os jovens como o que existe de mais lindo. “Para nós, o motivo principal é a busca por Deus. E também além de orar, encontramos amigos e as famílias se conhecem. Serão dias de muita festa e louvor ao nosso Deus. É um carnaval saudável para toda a família.Os jovens comparecem em peso. Eles são a prova viva de que é possível aproveitar um carnaval diferente."
Os espíritas veem o carnaval como um momento de alegria, de expandir toda a felicidade. “Um momento de compartilhar com a família essa diversão, mas de 'cara limpa', sem máscaras", como diz a espírita Carla, de 22 anos. Eles aconselham a tomar muito cuidado, evitando os excessos.
Alguns dias antes do carnaval, os espíritas fazem uma sessão nos terreiros com o objetivo de obter proteção. "Nesse período antes da Quaresma, muitos seres cheios de más intenções se aproveitam para tentar afastar as pessoas da luz”, explica Melina, de 20 anos. “São espíritos ainda imersos na escuridão. As pessoas vulneráveis são as escolhidas."
O carnaval de Latife Assed, 20 anos, moradora do bairro Rancho Novo, mudou da água para o vinho. “Sempre fui apaixonada por carnaval”, diz ela, que até o ano passado ficava maluca só de ouvir um samba enredo. Ela, que não conseguia ficar em casa. Sossegada, viajava, fazia fantasias, saía no bloco, sambando até o sol raiar. Mas no meio do ano passado ela se converteu e desde então tem seguido o que chama de “caminho de fé”. “Agora me sinto muito melhor, em paz e harmonia não só com os outros, mas também comigo mesma.”
Para os fiéis das dezenas de religiões, o reinado da folia deveria acabar, pelo menos da maneira em que é feito nos dias de hoje. Nada de inversão e desregramento. A folia deveria ser trocada por uma louvação da palavra e dos mandamentos de Deus. Seria o fim do “reino da licenciosidade” e o começo de um “reino de paz”. Todos seguramente poderiam viver melhor durante o ano todo.
Os fieis se organizam e viajam para longe dos blocos e das fantasias para estarem mais próximos da meditação e da busca da divindade, em paz e harmonia. As viagens durante o carnaval são diferentes das vigílias de oração. É também uma grande festa, para não fugir do espírito carnavalesco, com uma grande diferença. Em vez da falta de regras que predomina entre os foliões, tem hora pra tudo, inclusive brincar, zoar, se divertir. Mas o principal são as orações para entrar em comunhão com o sagrado.
Tempo de reflexão
Católicos e evangélicos vão aproveitar os quatro dias de carnaval para refletir e orar, avaliando o papel de Deus em suas vidas. Avessos às festas regadas a muita bebida e longe das drogas, os religiosos aproveitam o período em retiro para conhecer novas amizades, formando redes de relacionamentos entre pessoas que comungam da mesma fé, através das orações.
Para a Igreja Católica, o carnaval é uma festa de três dias de muita comilança para celebrar a alegria que antecede o período de oração, penitência e jejum da Quaresma, que se estende da Quarta-Feira de Cinzas ao domingo de Páscoa. Contrariando o que muitos pensam, a religião católica possui certas regras para esse período de diversão. "O carnaval é uma festa com profundas ligações religiosas, inclusive de irmandades de negros, tanto em igrejas como em outras casas de culto", explica o padre Oscar Beozzo.
O padre tem um profundo respeito pelo trabalho sócio-educativo das escolas de samba. Mas, para ele, as pessoas não sabem discernir o que há de benéfico e vulgar no carnaval, entrando em choque com os preceitos ecumênicos. “Para nós, o grande retiro é a Quaresma e vai até a Semana Santa”, ressalva o padre. “Queremos uma alegria sadia, num ambiente agradável. É um encontro com os irmãos em fé juntamente com Jesus, através de diversos procedimentos como dinâmica de grupo, representação teatral, dramatizações para motivar os fiéis.”
Coisas ruins
Os evangélicos também se afastam durante o carnaval, com a intenção de refletir e orar sobre o que de nefasto pode acontecer durante essa época do ano. "Nós fazemos retiros, para ficar mais perto de Deus, nessa época do ano que tem muitas coisas ruins acontecendo", diz Cláudia, de 34 anos, que ressalta a união entre os jovens como o que existe de mais lindo. “Para nós, o motivo principal é a busca por Deus. E também além de orar, encontramos amigos e as famílias se conhecem. Serão dias de muita festa e louvor ao nosso Deus. É um carnaval saudável para toda a família.Os jovens comparecem em peso. Eles são a prova viva de que é possível aproveitar um carnaval diferente."
Os espíritas veem o carnaval como um momento de alegria, de expandir toda a felicidade. “Um momento de compartilhar com a família essa diversão, mas de 'cara limpa', sem máscaras", como diz a espírita Carla, de 22 anos. Eles aconselham a tomar muito cuidado, evitando os excessos.
Alguns dias antes do carnaval, os espíritas fazem uma sessão nos terreiros com o objetivo de obter proteção. "Nesse período antes da Quaresma, muitos seres cheios de más intenções se aproveitam para tentar afastar as pessoas da luz”, explica Melina, de 20 anos. “São espíritos ainda imersos na escuridão. As pessoas vulneráveis são as escolhidas."
O carnaval de Latife Assed, 20 anos, moradora do bairro Rancho Novo, mudou da água para o vinho. “Sempre fui apaixonada por carnaval”, diz ela, que até o ano passado ficava maluca só de ouvir um samba enredo. Ela, que não conseguia ficar em casa. Sossegada, viajava, fazia fantasias, saía no bloco, sambando até o sol raiar. Mas no meio do ano passado ela se converteu e desde então tem seguido o que chama de “caminho de fé”. “Agora me sinto muito melhor, em paz e harmonia não só com os outros, mas também comigo mesma.”
Boemia customizada
Bar em Santa Eugênia é refúgio para os admiradores da boa música
por Daniel Santos
A curiosidade é grande para quem passa na rua Pascoal Palladino, no bairro Santa Eugenia. É inevitável que os olhares sejam atraídos para o Ecleticópolis rock blues bar, que há anos faz da história do lugar. Além de ser um refúgio da boemia, tem um som de alta qualidade.
Com características próprias, o bar conta com uma decoração feita através de centenas de discos de vinis de diversas bandas consagradas do jazz, blues, rock e também da musica soul. A luz néon o diferencia anda mais dos demais estabelecimentos do mesmo segmento.
Inaugurado em 25 de maio de 2001, o bar era um sonho antigo do seu proprietário. Inicialmente chamado de Casa da cerveja, problemas de aluguel e venda do ponto obrigaram o proprietário a mudar de endereço em diversas ocasiões. Prestes a completar oito anos, o Ecleticópolis rock blues bar voltou a funcionar em um dos endereços do passado. "Meu estabelecimento é mais antigo do que o atentado ao edifício das torres gêmeas", afirma o dono Rodolfo Casimiro, 46 anos.
O dono do bar pode abrir mão do endereço, mas é irredutível quando o que está em questão é a decoração, baseada nas capas de disco que Rodolfo consegue circulando por sebos da Baixada e do Rio. Atualmente, há 203 discos espalhadas pelas paredes do bar. Esses discos podem ser ouvidos pelos fregueses, que pagam R$ 1,50 para ouvi-los inteiros. "É mais vantagem do que ouvir no jukebox”, explica o comerciante. “Lá, você paga R$ 2 pra ouvir quatro músicas. Está nos planos de Rodolfo aumentar em 100 LPs o repertório do Ecleticópolis.
Clima do lugar
Embora o nome do bar remeta a uma transigência para com todos os estilos musicais, não há dinheiro que faça o seu dono tocar o funk carioca e o hip-hop, que ele chama de lixo cultural. "Meu foco é ter um público que garanta a subsistência do estabelecimento e que goste do clima do lugar. O importante é trabalhar prazerosamente. Imagina eu trabalhar ouvindo um montão de imundícies cheias de violências e obscenidades, irritando minha cabeça o dia inteiro? Em troca de dinheiro? Isso é piada, cara, comigo não.”
Mais conhecido como Grande, o dono do Ecleticópolis é alvo de muitas gozações dos clientes, que sempre estão pedindo para que toque pagode. “Tem que mudar porra nenhuma”, resmunga ele, que já tem uma resposta na ponta da língua para essas brincadeiras. “Se eu for ao pagode e pedir pra ouvir o som que eu gosto, vão colocar pra mim? Claro que não! Pelo contrário, vão é me meter a porrada.”
Se o cliente faz algum questionamento quanto ao nome, ele diz que o bar é eclético, sim, mas porque lá rolam blues, soul, jazz e rock de qualidade. O próprio rock, embora seja um fã ardoroso deste gênero musical, é recebido com reservas pelo Grande. “Não é qualquer rock que eu boto para tocar aqui”, anuncia com o seu jeito invocado, que procura conter quando está diante de um cliente com gosto musical diferente do dele. Uma pista do tipo de som que rola nas pickups é a banda Pink Floyd, que ele ouve há quase 30 anos.
Os fieis clientes do Ecleticópolis sabem exatamente o que vão encontrar no bar, e adoram. "Vim pra cá por causa do vinil”, conta Alex Vidal, 36 anos. “Aqui é o único lugar que posso escutar um bom rock 'n roll na veia, tomando uma cerveja gelada.” Para Vidal, quem viveu a época do vinil jamais a esquecerá, ainda que hoje em dia o repertório das décadas das guitarras histéricas possa ser resgatado pelos CDs, DVDs e MP3s que ele próprio tem. “Meus vinis são meus vinis, relíquias que ninguém tocam."
Referência
Tem fã veterano que enxerga o point como maior referência do rock na cidade "Curto rock há 20 anos, mas por incrível nunca assisti a um show ao vivo”, conta Jairo Luiz, 37 anos. É no Ecleticópolis que ele pode ficar mais perto das bandas de que gosta. Jairo Luiz faz questão de apresentar o bar aos amigos.
O bar também é o lugar onde a legião de roqueiros da Baixada pode recordar os shows já assistidos. "Já fui a todas as edições do Rock in Rio", lembra o militar José Antônio Cardoso, 47 anos, que curte rock desde os 12 e possui uma coleção de LPs raros de causar inveja nos amigos.
A sofisticação do estilo musical não é a única razão para o bar estar sempre cheio. "Desde a primeira inauguração que eu freqüento”, afirma o músico Diogo Rocha, 25 anos, que não gasta menos de R$ 200 por mês no Ecleticópolis. “Aqui é o meu bar preferido. Aqui tem uma identidade que é o rock, mas eu também gosto do atendimento e da sinuquinha.”
O percussionista Gefferson Carvalho tem dificuldade de se adaptar ao rock pauleira, sempre no último volume. Mas além de recomendá-lo para os amigos, pode ser visto com frequência sentado a uma das mesas. “Já trouxe até uma rapaziada do Méier pra curtir o ambiente”, conta o pagodeiro. Talvez por causa do distintivo, o detetive Jorge Freitas, 32 anos, consegue quebrar a rotina musical do bar. “Com um jeitinho, ele bota um pagode, um MPB e outros gostos pra tocar.”
Como todo lugar de boemia, são inevitáveis os acontecimentos curiosos. Uma dessas histórias engraçadas aconteceu com André Serrano, 22 anos. Ela estava voltando de uma festa já totalmente embriagado, quando resolveu bater o cartão no bar. "Eu deitei em cima da mesa de supino com a caneca da festa e uma garrafa com cerveja na mão, que eu não soltava por nada, por mais apagado que estivesse.” No dia seguinte, o estudante só acreditou no mico que pagou quando viu as fotos e os vídeos feitos pelos outros clientes do Ecleticópolis.
por Daniel Santos
A curiosidade é grande para quem passa na rua Pascoal Palladino, no bairro Santa Eugenia. É inevitável que os olhares sejam atraídos para o Ecleticópolis rock blues bar, que há anos faz da história do lugar. Além de ser um refúgio da boemia, tem um som de alta qualidade.
Com características próprias, o bar conta com uma decoração feita através de centenas de discos de vinis de diversas bandas consagradas do jazz, blues, rock e também da musica soul. A luz néon o diferencia anda mais dos demais estabelecimentos do mesmo segmento.
Inaugurado em 25 de maio de 2001, o bar era um sonho antigo do seu proprietário. Inicialmente chamado de Casa da cerveja, problemas de aluguel e venda do ponto obrigaram o proprietário a mudar de endereço em diversas ocasiões. Prestes a completar oito anos, o Ecleticópolis rock blues bar voltou a funcionar em um dos endereços do passado. "Meu estabelecimento é mais antigo do que o atentado ao edifício das torres gêmeas", afirma o dono Rodolfo Casimiro, 46 anos.
O dono do bar pode abrir mão do endereço, mas é irredutível quando o que está em questão é a decoração, baseada nas capas de disco que Rodolfo consegue circulando por sebos da Baixada e do Rio. Atualmente, há 203 discos espalhadas pelas paredes do bar. Esses discos podem ser ouvidos pelos fregueses, que pagam R$ 1,50 para ouvi-los inteiros. "É mais vantagem do que ouvir no jukebox”, explica o comerciante. “Lá, você paga R$ 2 pra ouvir quatro músicas. Está nos planos de Rodolfo aumentar em 100 LPs o repertório do Ecleticópolis.
Clima do lugar
Embora o nome do bar remeta a uma transigência para com todos os estilos musicais, não há dinheiro que faça o seu dono tocar o funk carioca e o hip-hop, que ele chama de lixo cultural. "Meu foco é ter um público que garanta a subsistência do estabelecimento e que goste do clima do lugar. O importante é trabalhar prazerosamente. Imagina eu trabalhar ouvindo um montão de imundícies cheias de violências e obscenidades, irritando minha cabeça o dia inteiro? Em troca de dinheiro? Isso é piada, cara, comigo não.”
Mais conhecido como Grande, o dono do Ecleticópolis é alvo de muitas gozações dos clientes, que sempre estão pedindo para que toque pagode. “Tem que mudar porra nenhuma”, resmunga ele, que já tem uma resposta na ponta da língua para essas brincadeiras. “Se eu for ao pagode e pedir pra ouvir o som que eu gosto, vão colocar pra mim? Claro que não! Pelo contrário, vão é me meter a porrada.”
Se o cliente faz algum questionamento quanto ao nome, ele diz que o bar é eclético, sim, mas porque lá rolam blues, soul, jazz e rock de qualidade. O próprio rock, embora seja um fã ardoroso deste gênero musical, é recebido com reservas pelo Grande. “Não é qualquer rock que eu boto para tocar aqui”, anuncia com o seu jeito invocado, que procura conter quando está diante de um cliente com gosto musical diferente do dele. Uma pista do tipo de som que rola nas pickups é a banda Pink Floyd, que ele ouve há quase 30 anos.
Os fieis clientes do Ecleticópolis sabem exatamente o que vão encontrar no bar, e adoram. "Vim pra cá por causa do vinil”, conta Alex Vidal, 36 anos. “Aqui é o único lugar que posso escutar um bom rock 'n roll na veia, tomando uma cerveja gelada.” Para Vidal, quem viveu a época do vinil jamais a esquecerá, ainda que hoje em dia o repertório das décadas das guitarras histéricas possa ser resgatado pelos CDs, DVDs e MP3s que ele próprio tem. “Meus vinis são meus vinis, relíquias que ninguém tocam."
Referência
Tem fã veterano que enxerga o point como maior referência do rock na cidade "Curto rock há 20 anos, mas por incrível nunca assisti a um show ao vivo”, conta Jairo Luiz, 37 anos. É no Ecleticópolis que ele pode ficar mais perto das bandas de que gosta. Jairo Luiz faz questão de apresentar o bar aos amigos.
O bar também é o lugar onde a legião de roqueiros da Baixada pode recordar os shows já assistidos. "Já fui a todas as edições do Rock in Rio", lembra o militar José Antônio Cardoso, 47 anos, que curte rock desde os 12 e possui uma coleção de LPs raros de causar inveja nos amigos.
A sofisticação do estilo musical não é a única razão para o bar estar sempre cheio. "Desde a primeira inauguração que eu freqüento”, afirma o músico Diogo Rocha, 25 anos, que não gasta menos de R$ 200 por mês no Ecleticópolis. “Aqui é o meu bar preferido. Aqui tem uma identidade que é o rock, mas eu também gosto do atendimento e da sinuquinha.”
O percussionista Gefferson Carvalho tem dificuldade de se adaptar ao rock pauleira, sempre no último volume. Mas além de recomendá-lo para os amigos, pode ser visto com frequência sentado a uma das mesas. “Já trouxe até uma rapaziada do Méier pra curtir o ambiente”, conta o pagodeiro. Talvez por causa do distintivo, o detetive Jorge Freitas, 32 anos, consegue quebrar a rotina musical do bar. “Com um jeitinho, ele bota um pagode, um MPB e outros gostos pra tocar.”
Como todo lugar de boemia, são inevitáveis os acontecimentos curiosos. Uma dessas histórias engraçadas aconteceu com André Serrano, 22 anos. Ela estava voltando de uma festa já totalmente embriagado, quando resolveu bater o cartão no bar. "Eu deitei em cima da mesa de supino com a caneca da festa e uma garrafa com cerveja na mão, que eu não soltava por nada, por mais apagado que estivesse.” No dia seguinte, o estudante só acreditou no mico que pagou quando viu as fotos e os vídeos feitos pelos outros clientes do Ecleticópolis.
terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
Sapinhos em série
Jovens aproveitam carnaval para ver quem beija mais
por Brenner Oliveira
O clima é de azaração. A adrenalina vem à tona, você estremece. Os olhares se encontram, o sorriso é inevitável. Os corpos se atraem, nasce um suspiro. Surge o beijo. Das velhas marchinhas de carnaval até os atuais e modernos trios elétricos, o beijo é o foco de muitos jovens durante aqueles quatro dias onde a pegação é totalmente liberada.
No carnaval e nas micaretas, surge a onda do ‘serial kisses’ (beijos em série), uma vez que ninguém se sacia apenas com um parceiro. São beijos pra cá, sapinhos pra lá. Não importa o que possa aparecer na sua boca, o que interessa é beijar. Quanto mais, melhor.
Grupos de amigos criam disputas para eleger o maior beijoqueiro do bonde. Há quem trapaceie, somando apenas paqueras ou pegando os ‘canhões’, como diz o estudante Rodrigo de Oliveira, 15 anos.
O mais comum de se presenciar nos carnavais são homens forçando a barra das meninas atrás dos ‘troféus’ ou de uma afirmação no seu grupo, o que é mais provável. É o que revela Tatiana Lopes, 16 anos, moradora do Centro de Nova Iguaçu: “Acho isso muito ridículo”, desabafa ela. “Eles pegam com força mesmo.” No afã de aparecerem para os amigos, os meninos chegam a machucar as meninas.
Elas entraram na disputa
O que muitos não sabem é que essa rivalidade não acontece apenas no mundo masculino. O público feminino também vem aderindo ao ‘serial kisses’ e às disputas. “Raras são as vezes em que nós disputamos quantidade”, conta a estudante Caroline Machado, 17 anos, moradora de Jardim Iguaçu. “Normalmente, a gente vê quem pega o mais gatinho.” Para ela, o carnaval foi feito para essas aventuras. “É pura perdição”, diz, rindo.
A mesma Caroline Machado lembra que, no carnaval passado, estava com muita raiva do ex-namorado e, por isso, entrou na disputa com as amigas. “Foram 31 beijos e muitos olhares”, contabiliza. Com medo de perder, a amiga de Caroline fez com que Carol pegasse um amigo dela e sumiu com o grupo. “Eu fiquei presa com o cara e ela livre pra pegar mais garotos”, lembra Caroline.
A estudante Amanda Mendes, 18 anos, não liga que as pessoas pensem que ela é ‘piranha’ ou ‘fácil demais’. “Só quero bater os recordes de carnavais passados”, anuncia. Essa tentativa de superação de marcas muitas vezes leva as meninas a encontrarem sua alma gêmea. Esse foi o caso de Ana Lúcia, 19 anos: “De tanto pegar geral no Bola Preta, eu conheci o Júlio, com quem estou namorando há dois anos”, conta ela.
É, a azaração está por vir, agora que falta menos de uma semana para o carnaval. As recomendações não variam muito. Beber muito líquido e ingerir bastante carboidratos são prescrições necessárias pra curtir o carnaval com muita saúde. E, é claro, beijar muito na boca.
por Brenner Oliveira
O clima é de azaração. A adrenalina vem à tona, você estremece. Os olhares se encontram, o sorriso é inevitável. Os corpos se atraem, nasce um suspiro. Surge o beijo. Das velhas marchinhas de carnaval até os atuais e modernos trios elétricos, o beijo é o foco de muitos jovens durante aqueles quatro dias onde a pegação é totalmente liberada.
No carnaval e nas micaretas, surge a onda do ‘serial kisses’ (beijos em série), uma vez que ninguém se sacia apenas com um parceiro. São beijos pra cá, sapinhos pra lá. Não importa o que possa aparecer na sua boca, o que interessa é beijar. Quanto mais, melhor.
Grupos de amigos criam disputas para eleger o maior beijoqueiro do bonde. Há quem trapaceie, somando apenas paqueras ou pegando os ‘canhões’, como diz o estudante Rodrigo de Oliveira, 15 anos.
O mais comum de se presenciar nos carnavais são homens forçando a barra das meninas atrás dos ‘troféus’ ou de uma afirmação no seu grupo, o que é mais provável. É o que revela Tatiana Lopes, 16 anos, moradora do Centro de Nova Iguaçu: “Acho isso muito ridículo”, desabafa ela. “Eles pegam com força mesmo.” No afã de aparecerem para os amigos, os meninos chegam a machucar as meninas.
Elas entraram na disputa
O que muitos não sabem é que essa rivalidade não acontece apenas no mundo masculino. O público feminino também vem aderindo ao ‘serial kisses’ e às disputas. “Raras são as vezes em que nós disputamos quantidade”, conta a estudante Caroline Machado, 17 anos, moradora de Jardim Iguaçu. “Normalmente, a gente vê quem pega o mais gatinho.” Para ela, o carnaval foi feito para essas aventuras. “É pura perdição”, diz, rindo.
A mesma Caroline Machado lembra que, no carnaval passado, estava com muita raiva do ex-namorado e, por isso, entrou na disputa com as amigas. “Foram 31 beijos e muitos olhares”, contabiliza. Com medo de perder, a amiga de Caroline fez com que Carol pegasse um amigo dela e sumiu com o grupo. “Eu fiquei presa com o cara e ela livre pra pegar mais garotos”, lembra Caroline.
A estudante Amanda Mendes, 18 anos, não liga que as pessoas pensem que ela é ‘piranha’ ou ‘fácil demais’. “Só quero bater os recordes de carnavais passados”, anuncia. Essa tentativa de superação de marcas muitas vezes leva as meninas a encontrarem sua alma gêmea. Esse foi o caso de Ana Lúcia, 19 anos: “De tanto pegar geral no Bola Preta, eu conheci o Júlio, com quem estou namorando há dois anos”, conta ela.
É, a azaração está por vir, agora que falta menos de uma semana para o carnaval. As recomendações não variam muito. Beber muito líquido e ingerir bastante carboidratos são prescrições necessárias pra curtir o carnaval com muita saúde. E, é claro, beijar muito na boca.
Força das águas
Esperança do Amanhã procura energia das águas para vencer primeiro carnaval
por Fernanda Bastos e Wanderson Santos
O Grêmio Recreativo Escola de Samba Esperança do Amanhã surgiu a partir de uma conversa de bar na rua Seridó Lote 06 Quadra 48 em Cabuçu, em 1988. A conversa, da qual participavam a hoje presidente Edna dos Santos Santiago e sua irmã Eunice dos Santos Francisco, foi animada por um surdo, duas latas e um repique.
Vinte e um anos depois, a escola vai entrar na Avenida Marechal Floriano Peixoto com 580 componentes, divididos entre as alas das baianas, fantasias e bateria. O enredo da escola, concebido pelo carnavalesco Alexandre Santiago, 31 anos, é o Planeta Água. "Temos uma grande preocupação com o meio ambiente e com os reservatórios naturais subterrâneos de água", explica o carnavalesco.
Embora seja considerada uma escola de elite do carnaval iguaçuano, a Esperança do Amanhã jamais ganhou um desfile. "Ficamos sempre em 2º ou em 3º lugar", lamenta a presidente da escola. No entanto, Edna dos Santos tem certeza de que o Planeta Água vai quebrar a maldição que acompanha a escola. "Este ano vai ter festa em Cabuçu", garante.
O carnavalesco Alexandre Santiago, que está na escola há 14 anos, explica o enredo que a Esperança do Amanhã defenderá na Avenida Amaral Peixoto. "Haverá duas alas", explica. "A primeira, de cor dourada e adornada com detalhes de folheado, mostra a energia que vem das águas." A outra pretende traduzir emoções que produzem lágrimas, na qual haverá fantasias no formato de olhos e do arco-íris. O lado místico das águas está presente nas fantasias criadas especialmente para homenagear os deuses africanos da água.
Ligação com a comunidade
A Esperança do Amanhã tem uma forte ligação com a comunidade, que recebe gratuitamente as fantasias e trabalha intensamente no barracão da escola. O processo de escolha do samba também estreita os vínculos da escola com Cabuçu. "Primeiro eu faço a sinopse da escola e do samba", conta o carnavalesco. Depois disso, passamos para os sambistas." Com base no resumo que têm em mãos, eles fazem os sambas.
Mesmo com a alegria levada pela escola aos moradores de Cabuçu, Edna e Eunice se sentem frustradas com a dificuldade enfrentada pela Esperança do Amanhã para conseguir patrocinadores para o carnaval. "Nossa única subvenção vem da Prefeitura de Nova Iguaçu", lamenta as irmãs. "Só que esse dinheiro só chega em cima da hora, e acaba cobrindo apenas alguns custos e dívidas que foram feitas para agilizar o desfile."
A diretoria da Esperança do Amanhã que esse círculo vicioso só será interrompido no dia em que as escolas de Nova Iguaçu se articularem para atrair a atenção das televisões. "Com toda certeza, conseguiríamos muitos patrocinadores", afirma a presidente.
por Fernanda Bastos e Wanderson Santos
O Grêmio Recreativo Escola de Samba Esperança do Amanhã surgiu a partir de uma conversa de bar na rua Seridó Lote 06 Quadra 48 em Cabuçu, em 1988. A conversa, da qual participavam a hoje presidente Edna dos Santos Santiago e sua irmã Eunice dos Santos Francisco, foi animada por um surdo, duas latas e um repique.
Vinte e um anos depois, a escola vai entrar na Avenida Marechal Floriano Peixoto com 580 componentes, divididos entre as alas das baianas, fantasias e bateria. O enredo da escola, concebido pelo carnavalesco Alexandre Santiago, 31 anos, é o Planeta Água. "Temos uma grande preocupação com o meio ambiente e com os reservatórios naturais subterrâneos de água", explica o carnavalesco.
Embora seja considerada uma escola de elite do carnaval iguaçuano, a Esperança do Amanhã jamais ganhou um desfile. "Ficamos sempre em 2º ou em 3º lugar", lamenta a presidente da escola. No entanto, Edna dos Santos tem certeza de que o Planeta Água vai quebrar a maldição que acompanha a escola. "Este ano vai ter festa em Cabuçu", garante.
O carnavalesco Alexandre Santiago, que está na escola há 14 anos, explica o enredo que a Esperança do Amanhã defenderá na Avenida Amaral Peixoto. "Haverá duas alas", explica. "A primeira, de cor dourada e adornada com detalhes de folheado, mostra a energia que vem das águas." A outra pretende traduzir emoções que produzem lágrimas, na qual haverá fantasias no formato de olhos e do arco-íris. O lado místico das águas está presente nas fantasias criadas especialmente para homenagear os deuses africanos da água.
Ligação com a comunidade
A Esperança do Amanhã tem uma forte ligação com a comunidade, que recebe gratuitamente as fantasias e trabalha intensamente no barracão da escola. O processo de escolha do samba também estreita os vínculos da escola com Cabuçu. "Primeiro eu faço a sinopse da escola e do samba", conta o carnavalesco. Depois disso, passamos para os sambistas." Com base no resumo que têm em mãos, eles fazem os sambas.
Mesmo com a alegria levada pela escola aos moradores de Cabuçu, Edna e Eunice se sentem frustradas com a dificuldade enfrentada pela Esperança do Amanhã para conseguir patrocinadores para o carnaval. "Nossa única subvenção vem da Prefeitura de Nova Iguaçu", lamenta as irmãs. "Só que esse dinheiro só chega em cima da hora, e acaba cobrindo apenas alguns custos e dívidas que foram feitas para agilizar o desfile."
A diretoria da Esperança do Amanhã que esse círculo vicioso só será interrompido no dia em que as escolas de Nova Iguaçu se articularem para atrair a atenção das televisões. "Com toda certeza, conseguiríamos muitos patrocinadores", afirma a presidente.
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009
Onde as tribos se encontram
Praça Santos Dumont é o point da diversidade sexual
por Josy Antunes
O que começou como orkontro - encontro marcado através do orkut - agora é um grande atrativo para jovens de diversos estilos. Trata-se de um bar, localizado na praça Santos Dumont, que desde meados de 2008 tornou-se um point GLS.
No início, os encontros aconteciam na própria praça, com pequenos grupos de emos - um estilo dentro do rock – que compravam bebidas nos bares da proximidade. Quando os orkontros foram perdendo o sabor de novidade, os grupos recorreram aos bares. Além da bebida, era possível ouvir música e, claro, dançar.
Ao perceber o crescimento do público, os donos de um dos bares reservaram as noites de domingo para o público GLS. “E foi assim que virou o que é hoje, esse babado!”, explica Pedro Silva, 19 anos, assíduo frequentador do bar há cinco meses. Morador do Centro de Nova Iguaçu, ele justifica o sucesso do bar pelo fácil acesso e pela falta de opções para gays na Baixada.
Outras tribos
Aos poucos, foram se juntando aos emos jovens seguidores de outros estilos musicais, como o funk, hip hop, axé e música eletrônica. Isso logo se refletiu na pista de dança, onde o repertório das músicas ficou bastante diversificado. Mas nem todos ficaram satisfeitos, como explica Eduardo Sandre, 19 anos, morador de Belford Roxo: “Quando eu comecei a freqüentar, só tocava hip hop e eletrônica. Com a chegada dos funkeiros, passaram a tocar mais funk. Eu não me vejo dançando esse ritmo.” Antes de adotar a política de abandonar as pistas, ele tentou negociar uma mudança do repertório com o DJ. “Ele respondeu que se quiséssemos o controle da mesa de som, ele a virava para que nós mesmos manuseássemos.”
O público passou a experimentar outras noites, superlotando a praça a partir da quinta-feira. “As quintas e sextas também passaram a ser voltadas para o publico GLS e, como no domingo, acabaram dando certo”, explica Pedro Silva. A única noite que não caiu na simpatia do público GLS da Baixada foi a de sábado. “Nesses dias, nós vamos para uma boate gay na Califórnia”, lembra Pedro. Nos sábados, as noites da praça Santos Dumont são dominadas pelos heteros, e a música predominante é o pagode. Por curiosidade, Pedro já foi ao bar em dias de sábados, e comprovou as diferenças: “Não combina comigo, vi que aquilo não é pra mim”.
Apesar da tradição conservadora da Baixada, a diversidade sexual da Santos Dumont não perturba a paz das tribos que a frequentam. “Acaba que homossexuais e heteros se misturam. Nunca vi problema nenhum em relação a isso”, afirma Pedro. Essa democracia resiste inclusive a situações constrangedoras como as enfrentadas por Igor dos Santos, 16 anos, um morador hetero de Cabuçu. “Várias vezes os homossexuais não aceitaram um 'não' como resposta, quando disseram que queriam me beijar”, queixa-se Igor, que frequenta a praça há apenas três semanas. Apesar desses percalços, ele nunca presenciou brigas ali.
Fim da opressão
Moradora de Mesquita, e ex-seguidora do encontro de rock existente lá - atualmente localizado no antigo galpão da Visão de Águia - , Andressa de Souza, de 18 anos, encontrou mais aceitação no point da Santos Dumont: “Aqui é muito melhor. É um bar gay como nenhum outro é”, declara a moça, que bate ponto todas as noites de domingo na praça.
Tendo em comum com Andressa a troca do rock de Mesquita pelo bar, Osmar Luiz, 19 anos, morador do mesmo bairro, vai mais além na defesa do novo local: “No rock, os gays eram muito discriminados. Ficávamos escondidos, agrupados num cantinho demarcado pra nós. Quando viemos pro bar, encontramos um mundo só pra gente, foi totalmente diferente. Não precisamos mais ficar oprimidos nos cantinhos”. Ele já presenciou cenas de descriminação, por parte dos responsáveis pelo bar - que são todos heteros – nos horários diferentes dos voltados para os GLS. “Mas no nosso horário, eles respeitam totalmente.”
por Josy Antunes
O que começou como orkontro - encontro marcado através do orkut - agora é um grande atrativo para jovens de diversos estilos. Trata-se de um bar, localizado na praça Santos Dumont, que desde meados de 2008 tornou-se um point GLS.
No início, os encontros aconteciam na própria praça, com pequenos grupos de emos - um estilo dentro do rock – que compravam bebidas nos bares da proximidade. Quando os orkontros foram perdendo o sabor de novidade, os grupos recorreram aos bares. Além da bebida, era possível ouvir música e, claro, dançar.
Ao perceber o crescimento do público, os donos de um dos bares reservaram as noites de domingo para o público GLS. “E foi assim que virou o que é hoje, esse babado!”, explica Pedro Silva, 19 anos, assíduo frequentador do bar há cinco meses. Morador do Centro de Nova Iguaçu, ele justifica o sucesso do bar pelo fácil acesso e pela falta de opções para gays na Baixada.
Outras tribos
Aos poucos, foram se juntando aos emos jovens seguidores de outros estilos musicais, como o funk, hip hop, axé e música eletrônica. Isso logo se refletiu na pista de dança, onde o repertório das músicas ficou bastante diversificado. Mas nem todos ficaram satisfeitos, como explica Eduardo Sandre, 19 anos, morador de Belford Roxo: “Quando eu comecei a freqüentar, só tocava hip hop e eletrônica. Com a chegada dos funkeiros, passaram a tocar mais funk. Eu não me vejo dançando esse ritmo.” Antes de adotar a política de abandonar as pistas, ele tentou negociar uma mudança do repertório com o DJ. “Ele respondeu que se quiséssemos o controle da mesa de som, ele a virava para que nós mesmos manuseássemos.”
O público passou a experimentar outras noites, superlotando a praça a partir da quinta-feira. “As quintas e sextas também passaram a ser voltadas para o publico GLS e, como no domingo, acabaram dando certo”, explica Pedro Silva. A única noite que não caiu na simpatia do público GLS da Baixada foi a de sábado. “Nesses dias, nós vamos para uma boate gay na Califórnia”, lembra Pedro. Nos sábados, as noites da praça Santos Dumont são dominadas pelos heteros, e a música predominante é o pagode. Por curiosidade, Pedro já foi ao bar em dias de sábados, e comprovou as diferenças: “Não combina comigo, vi que aquilo não é pra mim”.
Apesar da tradição conservadora da Baixada, a diversidade sexual da Santos Dumont não perturba a paz das tribos que a frequentam. “Acaba que homossexuais e heteros se misturam. Nunca vi problema nenhum em relação a isso”, afirma Pedro. Essa democracia resiste inclusive a situações constrangedoras como as enfrentadas por Igor dos Santos, 16 anos, um morador hetero de Cabuçu. “Várias vezes os homossexuais não aceitaram um 'não' como resposta, quando disseram que queriam me beijar”, queixa-se Igor, que frequenta a praça há apenas três semanas. Apesar desses percalços, ele nunca presenciou brigas ali.
Fim da opressão
Moradora de Mesquita, e ex-seguidora do encontro de rock existente lá - atualmente localizado no antigo galpão da Visão de Águia - , Andressa de Souza, de 18 anos, encontrou mais aceitação no point da Santos Dumont: “Aqui é muito melhor. É um bar gay como nenhum outro é”, declara a moça, que bate ponto todas as noites de domingo na praça.
Tendo em comum com Andressa a troca do rock de Mesquita pelo bar, Osmar Luiz, 19 anos, morador do mesmo bairro, vai mais além na defesa do novo local: “No rock, os gays eram muito discriminados. Ficávamos escondidos, agrupados num cantinho demarcado pra nós. Quando viemos pro bar, encontramos um mundo só pra gente, foi totalmente diferente. Não precisamos mais ficar oprimidos nos cantinhos”. Ele já presenciou cenas de descriminação, por parte dos responsáveis pelo bar - que são todos heteros – nos horários diferentes dos voltados para os GLS. “Mas no nosso horário, eles respeitam totalmente.”
Fantasia para dar e vender
Lojas do Centro oferecem fantasias e adereços para todos os gostos
por Giuseppe Stéfano, Jéssica de Oliveira e Leandro Silva
O carnaval já começou no centro de Nova Iguaçu. Pelo menos é esta impressão que se tem quando se entra na Multifestas, uma loja especializada em fantasias e adereço na Av. Nilo Peçanha. Foi lá que a nossa reportagem encontrou a dona de casa Cleonice dos Santos, que mora em Cabuçu e todo ano vem ao centro de nossa cidade para preparar o filho Pedro Lucas, de cinco anos, para os bailes. Suas preferências são as fantasias de índio e cigano. “Gosto dessas porque são fresquinhas e bonitas”, diz ela. A loja também oferece fantasias de pirata e clóvis, evitadas pela dona de casa por assustarem as crianças.
Mas não é só a criançada que curte um adereço. Tereza da Conceição, de 49 anos, e Ailda Molina, de 50 anos, adoram se produzir para cair na folia. Moradoras de Belford Roxo, elas foram à Multifestas atrás de uma fantasia que as colocasse no clima do carnaval do Espírito Santo, para onde viajam na próxima semana. Era a primeira que as duas iam à Multifestas, onde ficaram encantadas com as opções oferecidas. Mas, apesar da ansiedade com a viagem e com os bailes, as duas saíram de mãos abanando da loja. “Estamos procurando qualidade e preço”, anunciaram antes de iniciar um périplo pelas lojas do centro.
O expressivo aumento de vendas da Multifestas, cujo faturamento no carnaval só é superado pelas encomendas ocorridas durante a semana da criança, também é garantido pelas escolas de samba da cidade. “O carnavalesco da Leão de Nova Iguaçu acabou de levar 50 chapeus de cozinheiro para uma de suas alas”, comemora o gerente Alcides Nascimento, 42 anos. Os blocos que invadem as ruas da cidade também são uma ótima fonte de receita para a Multifestas. É lá que o próprio gerente compra as fantasias para o Bloco das Piranhas, na qual saía até dois anos atrás.
Praticidade
Houve uma época em que as lojas de fantasia e adereços tinham um grande faturamento com a venda de tecidos, que posteriormente seriam transformados nas mãos de costureiras criativas. Mas segundo Ana Carla, que tem 33 anos de idade e há seis anos gerencia a Turuna, os clientes procuram cada vez mais fantasias prontas. “Acho que hoje as pessoas querem mais praticidade”, avalia a gerente. Ao seu lado, Manuela Santana dos Santos, de 21 anos, confirma a sensação de Ana Carla. “Poupo tempo e dinheiro com fantasias prontas”, afirma essa moradora de Belford Roxo.
Flagrada comprando uma peça de cetim na Varejão das fábricas, a estudante Giovanna Gabriella, uma moradora de Comendador Soares de 14 anos, se garante na habilidade da mãe para chamar a atenção dos veranistas de Mangaratiba, onde a família vai passar o carnaval. “Ela costura há 20 anos”, diz a menina, que este ano vai se fantasiar de fada.
por Giuseppe Stéfano, Jéssica de Oliveira e Leandro Silva
O carnaval já começou no centro de Nova Iguaçu. Pelo menos é esta impressão que se tem quando se entra na Multifestas, uma loja especializada em fantasias e adereço na Av. Nilo Peçanha. Foi lá que a nossa reportagem encontrou a dona de casa Cleonice dos Santos, que mora em Cabuçu e todo ano vem ao centro de nossa cidade para preparar o filho Pedro Lucas, de cinco anos, para os bailes. Suas preferências são as fantasias de índio e cigano. “Gosto dessas porque são fresquinhas e bonitas”, diz ela. A loja também oferece fantasias de pirata e clóvis, evitadas pela dona de casa por assustarem as crianças.
Mas não é só a criançada que curte um adereço. Tereza da Conceição, de 49 anos, e Ailda Molina, de 50 anos, adoram se produzir para cair na folia. Moradoras de Belford Roxo, elas foram à Multifestas atrás de uma fantasia que as colocasse no clima do carnaval do Espírito Santo, para onde viajam na próxima semana. Era a primeira que as duas iam à Multifestas, onde ficaram encantadas com as opções oferecidas. Mas, apesar da ansiedade com a viagem e com os bailes, as duas saíram de mãos abanando da loja. “Estamos procurando qualidade e preço”, anunciaram antes de iniciar um périplo pelas lojas do centro.
O expressivo aumento de vendas da Multifestas, cujo faturamento no carnaval só é superado pelas encomendas ocorridas durante a semana da criança, também é garantido pelas escolas de samba da cidade. “O carnavalesco da Leão de Nova Iguaçu acabou de levar 50 chapeus de cozinheiro para uma de suas alas”, comemora o gerente Alcides Nascimento, 42 anos. Os blocos que invadem as ruas da cidade também são uma ótima fonte de receita para a Multifestas. É lá que o próprio gerente compra as fantasias para o Bloco das Piranhas, na qual saía até dois anos atrás.
Praticidade
Houve uma época em que as lojas de fantasia e adereços tinham um grande faturamento com a venda de tecidos, que posteriormente seriam transformados nas mãos de costureiras criativas. Mas segundo Ana Carla, que tem 33 anos de idade e há seis anos gerencia a Turuna, os clientes procuram cada vez mais fantasias prontas. “Acho que hoje as pessoas querem mais praticidade”, avalia a gerente. Ao seu lado, Manuela Santana dos Santos, de 21 anos, confirma a sensação de Ana Carla. “Poupo tempo e dinheiro com fantasias prontas”, afirma essa moradora de Belford Roxo.
Flagrada comprando uma peça de cetim na Varejão das fábricas, a estudante Giovanna Gabriella, uma moradora de Comendador Soares de 14 anos, se garante na habilidade da mãe para chamar a atenção dos veranistas de Mangaratiba, onde a família vai passar o carnaval. “Ela costura há 20 anos”, diz a menina, que este ano vai se fantasiar de fada.
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