Por Flávia Ferreira
Responsável pelas políticas digitais do Ministério da Cultura, Cláudio Prado passou a manhã da última sexta-feira em Nova Iguaçu, movimentando-se pelos corredores que unem o Bairro-Escola à Secretaria Municipal de Cultura e Turismo. Ele veio discutir com Maria Antônia Goulart, coordenadora geral do Bairro-Escola, e com Marcus Vinicius Faustini, secretário municipal de Cultura e Turismo, meios de radicalizar o uso do cyber-espaço em Nova Iguaçu. "Meu trabalho é fazer o cyber-espaço de Nova Iguaçu mais interessante que os outros", disse o assessor do Ministro Gilberto Gil. Modéstia à parte, Cláudio Prado tomou essa iniciativa depois da leitura do blog Jovem Repórter, particularmente das matérias que dedicamos à febre de lan houses na cidade.
No cargo desde o início do governo Lula, Cláudio Prado está acompanhando de perto a evolução do que chamou de epidemia das lan houses no Brasil, que contaminou o país do Oiapoque ao Chuí. Para o responsável pelas políticas digitais do governo federal, porém, é chegada a hora de se qualificar o uso das lan houses. "Estamos mergulhados na idéia de transformar as lan houses em um espaço de produção cultural", anuncia Cláudio Prado. "Queremos trabalhar a lan house como um lugar onde as pessoas possam aprofundar seu conhecimento, o seu uso e seu acesso à internet."
Cláudio Prado sabe que o uso do espaço virtual só não é mais difundido na população de baixa renda por causa da explosiva mistura de baixa renda com altos custos. Um dos instrumentos criados pelo governo Lula para aprofundar a inclusão digital foi o telecentro, que, no entanto, esbarram no limite de horário e na impossibilidade de sua universalização. "Vamos criar um vale lan", diz ele, em primeira mão para o nosso blog. "A população poderá utilizar a lan house e pagar as horas usadas com o vale. O pagamento dessas horas vai ser feito pelo governo federal.
Mais uma vez navegando na contramão do senso comum, o guru dos anos 70 vê nas lan houses uma verdadeira mina de ouro para a juventude, que permite que as pessoas se comuniquem por scraps com outras pessoas através do Orkut. "Se você parar para pensar a realidade desses jovens e compará-los com os de antigamente, perceberá que é a primeira vez que uma geração inteira se comunica por escrito", diz ele. Além de forçar a comunicação por escrito, o Orkut abriu a possibilidade de diálogo com pessoas de todas as partes do mundo.
O assessor de Gilberto Gil também tem um encanto no mínimo inusitado pelos jogos eletrônicos, para muitos tidos como alienantes e perigosos. "Além de fazer com que entendam situações de combate de uma forma extraordinária, esses games desenvolvem a percepção, a destreza e a complexidade." Os combatidos jogos eletrônicos também são um meio para que a juventude das periferias amplie o uso de línguas estrangeiras, particularmente a inglesa. "Além de ser ágil, o jogador tem que entender o que está escrito", diz ele. O texto dos jogos eletrônicos, em sua imensa maioria pirateados pelas lan houses, vem em inglês.
Cláudio Prado também tem um carinho todo especial pelos blogs, que no seu entender estão revolucionando o mundo da informação. Criados no começo da guerra do Iraque pelos correspondentes norte-americanos que foram cobri-la, os blogs permitiram uma democratização nos meios de comunicação que surpreendeu até mesmo o mais delirante dos estudiosos da revolução digital . "De certo modo, há uma desmistificação das velhas mídias e, com isso, as novas mídias, de uma forma linda, furam essa barreira."
Outra grande revolução proporcionada pela internet está no campo da aprendizagem. "Se uma criança de quatro anos começar a utilizar esse veículo, ela não precisará de uma pessoa para alfabetizá-la", sintetiza Cláudio Prado. Essa nova era permite que as pessoas se alfabetizem sozinhas, o que em breve no mínimo redimensionará a função exercida pelos professores. "O professor será mais um auxilio na pesquisa, não um provedor de informação", aposta.
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