sexta-feira, 13 de junho de 2008

Nas mãos da juventude

Panfletagem é alternativa para desemprego jovem

Por: Aline Marques e Natália Ferreira

Fotos: Natália Ferreira

Todos os dias, nas ruas da cidade de Nova Iguaçu, vemos um número muito grande de pessoas entregando panfletos. São os panfletistas, um dos destinos cada vez mais procurados pelos profissionais com baixa qualificação. Esse tipo de atividade é também uma das válvulas de escape para o jovem, que, segundo recente pesquisa do IBGE, é a maior vítima do desemprego nos grandes centros urbanos.

"Só estou nesse emprego porque preciso e não encontrei nada melhor", conta Ana Maria, 20 anos, que entrega panfleto de financeiras no Calçadão de Nova Iguaçu. Ana Maria, que teve que interromper os estudos antes de chegar ao ensino médio, acredita conseguir um emprego digno tão logo conclua seus estudos. Seu caso também revela o drama da desestruturação familiar, cada vez mais pungente nos grandes centros urbanos. "Moro com minha mãe, que muitas vezes me nega um prato de comida", confessa a panfletista.

Dignidade

João Victor Silva, um panfletista da Peg Cred de 22 anos, é a versão masculina do drama vivido por Ana Maria. Além de ser jovem e ter baixa escolaridade, ele pertence a uma família monoparental. "Moro com a minha mãe, mas sempre fui rejeitado por ela", desabafa João, que teve que parar de estudar aos 13 anos para poder comprar suas próprias coisas. João cogitou entrar no crime até conseguir o emprego. "Preferi ter dignidade e seguir o caminho correto."

Com apenas 17 anos e já mãe de uma criança de dois anos, Maria Eduarda também teve que recorrer aos panfletos para fazer frente a um conjunto de problemas que misturam dramas nacionais e pessoais. "Preciso trabalhar porque meus pais jogam na cara a comida, o teto em que nós moramos e a minha falta de responsabilidade por ter engravidado aos 15 anos de uma canalha que não foi homem para assumir a mim e a meu filho", pragueja.

Batalha

A panfletagem não é, porém, uma atividade exclusiva dos jovens. Que o digam Luana Souza e Eunice Ferreira, que têm 39 e 36 anos, respectivamente. Luana, que distribui panfletos para o Grupo Cred, resolveu "encarar essa batalha" porque estava desempregada havia cinco meses e a pensão do pai da filha de 10 anos não é suficiente para as contas das duas. Embora tenha medo da violência, Luana deixa a filha sozinha em casa para entregar seus panfletos. "Fico muito preocupada", confessa.

Eunice Ferreira tem uma série de reclamações do trabalho do qual "será uma grande felicidade" o dia em que puder sair. "Fico em pé o dia inteiro, almoço muito rápido e ainda tenho que aturar a discriminação das pessoas", enumera essa moradora de Miguel Couto, que sempre chega em casa exausta.

Doença contagiosa

As queixas de Eunice não são muito diferentes das de Gabriela Gomes da Silva, apesar da diferença de idade das duas. "No começo eu tinha vergonha", confessa essa panfletista de 22 anos, que trabalha para uma ótica. Gabriela tenta relevar o difícil embate com o público, mas às vezes tem vontade de xingar "os ignorantes". "As pessoas olham para a gente como se tivéssemos algum tipo de doença contagiosa", afirma.

A panfletagem não é uma atividade à qual se agarram apenas jovens desesperados. Com 18 anos, Patrícia Rangel podia passar os dias em casa, onde os pais dizem que não precisa trabalhar. "Gosto de ganhar o meu próprio dinheiro e comprar o que quero", diz essa panfletista da Dinheiro Fácil, que estuda à noite. Além do prazer da independência, Patrícia enxerga a rua como um campo para muitas amizades. "Com essas amizades a gente pode cavar outras oportunidades de trabalho."

3 comentários:

  1. É triste que tantos jovens não tenham condições de concorrer a um emprego melhor, e mais triste ainda é que um dos poucos empregos acessíveis é esse da panfletagem, que polui tanto, gastando papel que acaba no chão, sujando as ruas.

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  2. A quarta foto ficou perfeita!

    parabéns, Natalia!!!

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  3. E eu que passo todos os dias no calçadão e to apaixonado por uma menina q entrega panfletos na frente da toulon???
    q baixinha lindaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa

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