Por Flávia Ferreira
Imagens: Camila Elen
Marcos Silvestre, mais conhecido como Boiadeiro, tinha 18 anos na época em que explodiu o golpe militar de 64. Mesmo com pouca idade, já era envolvido com teatro desde seus 15 anos. "Como a gente sempre fez muita coisa com teatro, não me considerava tão novo assim."
O golpe mobilizou
Boiadeiro conta que toda peça teatral tinha que passar por uma comissão, lá na Praça Mauá. E se eles julgassem a peça como uma ameaça ao governo, ela seria proibida. "Tive amigos que foram presos nas apresentações teatrais por conta da censura." Em sua luta contra a ditadura, enfrentou momentos difíceis como apanhar na rua e ser forçado a entrar em um Opala preto, ao lado de alguns meganhas.
Mas o momento que mais o marcou ocorreu na Praça Santos Dumont. Neste dia, por volta das sete ou oito horas da noite, estudantes se manifestavam aos gritos de "abaixo o militarismo. Democracia já". Foi então que, de repente, a praça foi cercada por caminhões do exército. "Começou a descer aquele monte de homem com o cacetete na mão". Para o azar de Boiadeiro, durante a fuga ele caiu dentro de um valão à beira da linha do trem. "Levei uns cacetetes nas costas", diz ele.
Naquele tempo, além da repressão dos militares nas ruas, havia também um clima desconfortável dentro das próprias casas, os pais controlavam as saídas e os horários dos filhos. "Tínhamos que chegar mais cedo, porque todos tinham medo do que poderia acontecer", diz ele. Para Boiadeiro, no entanto, esse medo ainda existe atualmente. "A ditadura passou, mas hoje também não podemos sair à noite." Como ele mesmo fala, antigamente era possível ir de Nova Iguaçu ao bairro Esplanada à meia-noite, e a pé. "Hoje, isso não é mais possível. A ditadura da violência escraviza o povo, só que de outra forma."
O esperado fim da ditadura Militar trouxe de volta o direito de a população votar e se expressar. Para os artistas era perfeito. Eles não teriam mais que se apresentar diante de uma comissão e correr o risco de ter seus espetáculos censurados. Em tom de desabafo, Boiadeiro diz estar feliz com a redemocratização do país, mas ressalta que alguns governantes dão a impressão de ignorar o sacrifício daqueles que lutaram contra o regime militar. "Parece que a ditadura se instalou de uma outra forma no regime democrático. Isso eu lamento".
Recuperado do momento histórico que passou e trazendo toda sua carga teatral, Boiadeiro se aventurou pelos veículos de comunicação. Ele trabalhou na TV Sul-Fluminense e em uma rádio chamada Solimões,
Boiadeiro leva toda sua experiência como ator para a Rádio Tinguá, fazendo o que ele descreve como "rádio-teatro". Seu programa é um dos mais ouvidos na cidade. "Se fossem fazer uma estatística, veriam que falo para cerca de 70 mil pessoas por hora", calcula. Ele acha que isso acontece por dois motivos básicos e fundamentais: o primeiro deles é que os ouvintes gostam de falar direto com o locutor e receber o retorno imediato. “É importante ele falar com a pessoa que está ali, diferente das grandes rádios, onde você é atendido pela secretária eletrônica." O segundo motivo é que seu programa é voltado para o povo nordestino.
Como na Baixada tem muito migrante nordestino, Boiadeiro toca forró. "O forró é a raiz do povo nordestino", afirma. A importância que Boiadeiro dá ao povo nordestino é a receita para que sua audiência seja tão fiel.
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