quarta-feira, 14 de maio de 2008

Um patrimônio de Nova Iguaçu

Professor Nei Alberto guarda a memória geohistórica da Baixada Fluminense.

Por Carolina de Alcântara Lopes

Fotos: Gabriela Bré


Advogado, historiador e arqueólogo, o professor Nei Alberto Gonçalves de Barros, de 68 anos, é a própria memória da Baixada Fluminense, que tenta preservar e difundir por intermédio do Centro de Memória Avelino Martins de Azevedo (AMA). O centro funciona no Espaço Cultural Sylvio Monteiro, onde ele vive cercado de estudantes da 6ª. série do ensino fundamental até o nível universitário. Ali se encontra o tesouro, doado para a prefeitura, que ele reuniu em mais de 50 anos de pesquisa.


Essa paixão pela Baixada Fluminense, que se estende para a Baixada de Seropédica, também tem uma história. “Tudo começou com um movimento chamado Árcade Iguaçuano de Letras”, lembra o professor. “Esse movimento queria conhecer a história da nossa região, bem como os escritores, poetas e músicos locais.” Corria o ano de 1954 quando o jovem Ney Alberto o procurou o grupo com o poema “Meu sonoro passarinho”, de autoria do inconfidente de Tomaz Antônio Gonzaga.


Esse poema falava de uma localidade chamada Porto das Estrelas, que fica no final da Baía de Guanabara. “Resolvi conhecer o lugar pessoalmente”, revela o pesquisador. O contato ao vivo e a cores com um pedaço da história do Brasil fez com que desenvolvesse não apenas a paixão pelo nosso passado, mas sua forma de pesquisar. “Tudo o que sei está fundamentado em atividades andarilhas”, conta. Tem uma particular queda pelos caminhos antigos.


Embora seja um intelectual à moda antiga, cujo campo de interesse vai dos autores clássicos até a música popular brasileira, a grande musa do professor Nei Alberto é mesmo a Baixada Fluminense. “Estou sempre fazendo pesquisas sobre a nossa região”, diz. Um exemplo dessas pesquisas pode ser demonstrado pela sua explicação para o nome do bairro K11, que à primeira leitura dá a impressão de ser uma referência ao quilômetro onze de uma estrada qualquer. “O ‘K’ vem de ‘kuansa’”, revela.




“Kuansa é também o nome de um rio de Angola e dois departamentos territoriais daquele país”, continua. Segundo o professor, havia um quilombo em Kuansa. Este lugar foi homenageado pelos negros rebeldes, que criaram um quilombo na chamada Pedra do Quilombo, na borda da cratera do vulcão de Nova Iguaçu. Foi esse quilombo que deu origem ao bairro do K11.


Essa e muitas outras preciosidades vão ser narradas na série de livros que o professor Nei Alberto pretende escrever tão logo se aposente. “Se dona morte não me levar antes, vou escrever vários livros sobre a geohistória de Nova Iguaçu.” Esses livros vão coroar toda uma vida que dedicou a Nova Iguaçu não apenas pela paixão pelo lugar em que nasceu e se criou. “Precisamos valorizar os valores nacionais, a nossa geohistória, o nosso folclore, a nossa música popular.” Para ele, esse conhecimento é indispensável para aumentar a auto-estima do povo do Brasil em geral e da Baixada, em particular.


O professor Nei Alberto levava essas pepitas para a sala de aula durante o tempo que exerceu a atividade de professor, sempre nas escolas públicas que no seu entender deviam ser públicas e universais, como acontece no primeiro mundo. “Eu queria mostrar como pode ser bom e agradável estudar história e por isso nunca fiquei no cuspe e giz.”


De alguma forma, a prática pedagógica do

professor Nei profetizou a chegada do Bairro Escola. “Para mim o Bairro Escola é essencial”, afirma. “É uma satisfação ver a garotada saindo daquele ambiente chato que é a escola, para conhecer coisas importantes para as quais nunca foi valorizada.” É por isso que está fazendo um samba, em parceria com o sambista Zezé, em homenagem ao programa mais conhecido do governo Lindberg Farias. “O Bairro Escola me dá cidadania, tem arte, cultura, esporte e lazer. Vem pra ver. É a musa da sabedoria, o sol que ilumina a fonte do saber...


Pensamentos do professor Nei Alberto:


“Eu sempre me senti realizado porque eu trabalho me divertindo e me divirto trabalhando.”


“A primeira coisa que deveríamos fazer na educação seria mudar o nome de Educação e Cultura para Cultura e Educação porque a Cultura antecede a instrução.”


“Estou com 68 anos e a juventude de hoje está de parabéns. É melhor que a juventude dos anos 50. Dizer que a juventude esta perdida é uma mentira.”

3 comentários:

  1. ESTE BLOG É SENSACIONAL. DESCOBRI HOJE,E PRETENDO SER ASSÍDUO.

    PARABÉNS AOS CRAIDORES E TODA A EQUIPE.

    ALEXANDRE PAIM
    (ARTISTA E PRODUTOR)
    (21) 9534-4081 / 3045-6962

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  2. Que alegria encontrar este blog e este post sobre o queridíssimo e ilustre Ney Alberto! Por sua sabedoria e incontáveis qualidades como profissional, mas sobretudo pelo grande ser humano, Ney Alberto é um ícone para toda Baixada Fluminense.


    Parabéns!


    Beijos

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  3. o professor Nei Alberto é nossa historia viva, eu ouvi esse relato algum tempo, pois ja ouvi falar de muitas historias lindas de Nova Iguaçu, creio que o professor Nei Alberto fara uma belissima contribuição pata o patrimonio cultural da cidade quando lançar seu livro, um forte abraço, e parabens pelo blog. Marcos Mariano

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