Jovens repórteres participam de debate religioso em escola da Zona Sul
Por Bruno Marinho
A equipe do "Jovem Repórter" foi mais uma vez à Zona Sul do Rio de Janeiro, dessa vez na Urca. Fomos participar de um debate sobre liberdade religiosa na Escola Britânica. Chegamos lá e vimos um ambiente muito diferente do nosso. Parecia uma ilha da fantasia, onde todos falavam inglês. Confesso que tive um ataque de paranóia. Achava o tempo inteiro que os estudantes da Escola Britânica estavam falando de nós.
Apesar do mal-estar inicial, Flávia Ferreira, Felipe Rodrigo e eu fomos para o debate depois de almoçarmos no restaurante da escola. O debate ocorreu na biblioteca, que fica no sétimo andar do prédio. Além de nós e dos estudantes da Escola Britânica, participaram do debate religioso um grupo de estudantes americanos e jovens da comunidade da Babilônia, um morro que fica em frente à escola.
O debate, organizado pela antropóloga paulista Marcella Camargo, foi mediado por três líderes de religiões diferentes: o pastor Wainer, o padre Ricardo e o pai de santo Adailton.
O primeiro bloco do debate teve como tema o significado da religião e de que forma ela se liga à vida cotidiana. O pai-de-santo Adailton disse que sua religião está ligado a um sagrado não muito distante do homem. "Ao contrário de outras religiões, nós não acreditamos na existência de um único deus, mas de um Deus maior e uma série de deuses e deusas que interagem com os homens", disse Adailton. Já o pastor Wainer acredita que há um Deus trino e uno, que desceu à Terra para compartilhar a vida conosco de uma forma física. "Seguimos a linha do amor ao próximo para assim nos aproximarmos de Deus", explicou. Para o padre Ricardo, que insistiu nas semelhanças entre as igrejas católica e protestante, a raiz do cristianismo é amor. "A lei do cristianismo é amar a Deus e ao próximo.
"Nossa repórter Flávia Ferreira, que é evangélica, foi a primeira a falar. Ela insistiu na hipocrisia das pessoas que pregam uma coisa e fazem outra. "Vejo que as pessoas das diversas religiões pregam o amor ao próximo, mas os seus fiéis fazem o contrário na rua", disse Flávia. "No dia-a-dia, elas invejam e discriminam." Eu discordei de minha amiga da Escola Agência de Comunicação. "Não podemos ver a religião a partir do indivíduo, mas como um todo", eu disse não somente para ele, mas para o grupo. Para mim, parece óbvio que não dá para julgar o Vaticano pelo que acontece aqui em Nova Iguaçu ou Itaparica. "Não podemos querer que a igreja seja igual em todo mundo", eu disse. Uma menina da Escola Britânica, que se apresentou como Júlia, conseguiu achar um meio termo entre mim e Flávia.
O segundo bloco do debate, o que mais nos mobilizou, teve como tema o sexo antes do casamento. Achei o debate como um todo muito cor-de-rosa, durante o qual os três líderes religiosos evitaram falar das diferenças que os separam e priorizaram as semelhanças que os unem. Mas eles foram mais parecidos do que nunca na hora de falar de sexo na juventude. Resumindo, eles acham que precisamos ganhar maturidade e esperar a pessoa certa, com a qual devemos viver até o fim de nossa vida. Talvez o único ponto em que tenham divergido foi o da camisinha. O pai-de-santo Adailton, para quem a sexualidade não está de todo dissociada do prazer, é legítimo o uso da camisinha condenado pelas igrejas cristãs.
Érica, do morro da Babilônia, traduziu o sentimento da maioria dos jovens presentes. "A educação sexual depende muito mais dos pais do que da igreja", disse ela, que é evangélica. "Acho que os pais não devem proibir o sexo, mas educar os filhos." Julia, da Escola Britânica, condenou a exacerbação do sexo na mídia. "A gente não vê uma novela em que homens e mulheres, com corpos lindos, não apareçam seminus.
"Os jovens introduziram três questões polêmicas para as igrejas, cujo conservadorismo as impede de acompanhar a evolução natural do tempo. As questões a que me refiro são o aborto, os preservativos e o homossexualismo.
"Sou a favor da vida e por isso sou contra o aborto", disse o pastor, traduzindo o sentimento dos três religiosos. O padre Ricardo, fazendo jus a uma histórica militância na chamada Teologia da Libertação, classificou o preservativo como um mal necessário. "O ideal é que não houvesse doenças", disse o padre. "Mas uma das razões para que a igreja condene o preservativo é inibir o sexo prematuro." O homossexualismo, estigmatizado tanto pela sociedade como pelas igrejas tradicionais, só é aceito com naturalidade no candomblé. "Somos chamados de a religião gay", explicou Adailton, que é homossexual.
O debate foi encerrado com uma discussão sobre a guerra santa. Para o padre Ricardo, não há guerras religiosas, mas econômicas. Fazendo coro ao líder católico, o pastor Weiner lembrou que muitas pessoas vêem as coisas com radicalismo, achando que têm uma melhor compreensão de Deus do que seus irmãos. "Mas temos que ver que a Bíblia é aberta a várias interpretações e com isso algumas visões são nossas e não de Deus", ressalvou o pastor. O pai-de-santo lamentou a existência de guerras religiosas, mas afirmou que elas na verdade são mais culturais. "Nós das religiões afro-brasileiras somos muito discriminados e faz-se até mesmo uma guerra contra o diferente", afirmou.
Quando acabou o debate, houve uma confraternização onde podemos nos conhecer melhor e ver que nas diferenças nos respeitamos.Voltamos para a Baixada com a certeza de que pessoas de diferentes linhas religiosas, sociais, culturais e até nacionais podem sentar e conversar sobre aquilo que rege nosso comportamento e atitudes, a religião.
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