Mesa da SBPC faz uma radiografia do SUS, que completa 20 anos.
Por William Faria da Costa
Na reunião regional da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) que está acontecendo na Baixada Fluminense simultaneamente em Nova Iguaçu e em Duque de Caxias, foram comemorados os 20 anos do Sistema Único de Saúde (SUS) numa mesa de debate com constituintes que em 1988 lutram pela criação deste programa de saúde.
Três velhos militantes da causa da saúde pública participaram da mesa promovida na última quinta-feira: Luiz Antônio Rodrigues da Silva (diretor geral do INCA), Lúcia Couto (ex-deputada e médica) e Laura Tavares (vice-reitora da UFRJ).
Luiz Antônio abriu o debate falando sobre o privilégio de sua geração ter sido tão atuante no desenvolvimento social do Brasil, destacando a luta, a dedicação e o empenho da sua geração para a criação do SUS. “Apesar de muita gente ter sido contra”, disse o diretor do INCA, “conseguimos criar o SUS depois de muitas conferências e discussões.”
A mídia não perde oportunidade para fuzilar o SUS, mas, segundo Luiz Antônio, os maiores críticos são aqueles que nem usam nem precisam dele. “Esses críticos se esquecem dos trabalhos realizados pelo SUS que atendem toda a sociedade, como o serviço de vigilância sanitária e o programa nacional de imunizações oferecidos gratuitamente.” O oncologista destacou ainda o programa de transplantes de órgãos brasileiro e o de prevenção e tratamento contra Aids. “O programa de aids do SUS contrariou a expectativa de especialistas, que em 1982 diziam que no ano 2000 haveria 2 milhões de portadores do vírus da Aids no Brasil." Graças ao SUS, esse número caiu para 400mil.
A ex-deputada Lúcia Souto lembrou que o surgimento do SUS foi uma vitória daqueles que lutaram pelo direito à saúde no Brasil num momento importante da redemocratização. “Foi uma luta suprapartidária, que também abrangeu o campo social e econômico”, disse. Lúcia Souto fez um relato da saúde pública no país antes do SUS, à qual apenas os trabalhadores com carteira assinada tinham acesso. “A idéia central do SUS era universalizar a saúde.” Essa idéia sensibilizou a 8ª Conferência Nacional de Saúde, da qual a classe médica saiu com um abaixo-assinado com mais de 100 mil nomes. Os funcionários públicos também aderiram à campanha em prol do SUS e não ofereceram resistência à fusão dos diversos órgãos então responsáveis pela saúde pública no país.
A sanitarista Laura Tavares defendeu idéias polêmicas. Mostrou-se contrária, por exemplo, ao incensado PSF (Programa Saúde da Família). “Os agentes comunitários de saúde não têm como dar conta de visitar todas as famílias das regiões metropolitanas”, afirmou. Ela também é contra a municipalização de hospitais regionais como o HGNI (Hospital da Posse) e o montante de dinheiro atualmente destinado à saúde. "A fórmula de cálculo está equivocada”, disse. “Ela não deveria estar relacionada ao PIB, mas à Seguridade Social.” Laura Tavares comparou o SUS a um copo de água pela metade, que para uns está meio cheio e, para outro, meio vazio. Mesmo assim, acredita que chegou a hora de se discutir o modelo do SUS. “Temos muitas realizações, mas podemos fazer muito mais.”
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