Por Flávia Ferreira
Imagens: Garbriela Gama (Bré)
O professor e historiador Ney Alberto é mais conhecido por causa do seu trabalho em defesa da memória da Baixada Fluminense. Mas, durante a ditadura militar, ele foi um grande ativista político. "Quando rebentou o golpe de 1964, eu era o presidente da UENI (União dos Estudantes de Nova Iguaçu) e, por conta do meu envolvimento com o movimento estudantil, fui preso várias vezes", conta o professor. Ele também mostrou sua indignação e revolta com o rumo político enfrentado pelo país em suas letras para a música popular. Suas composições chegaram a ser gravadas por intérpretes importantes, como Agepê e Bezerra da Silva.
A entrada de Ney na faculdade de história da Universidade Gama Filho só fez aumentar o desejo de mudança já demonstrado nas manifestações em que os estudantes secundaristas de Nova Iguaçu reivindicavam melhorias no ensino público, criticavam os aumentos das anuidades escolares e lutavam pela construção da Escola Municipal Monteiro Lobato. Um ano depois de passar no vestibular, ele já se tornara presidente do diretório acadêmico Graciliano Ramos. Foi na condição de líder da universidade de Piedade, Zona Norte do Rio de Janeiro, que participou dos tumultuados congressos e seminários estudantis. "Sempre tinha alguém da ditadura", lembra.
No entanto, o regime militar decretou o AI-5 (Ato Institucional 5) em dezembro de 1968 e nocateou a oposição durante longos 20 anos. As ruidosas passeatas estudantis foram reprimidas à bala e a censura, que já existia, foi arrochada. O direito de votar em representantes para o poder executivo foi suprimido nas grandes capitais, nos estados e, é claro, na união. "Evidentemente, a gente queria que, através do voto, fosse escolhido um presidente", diz Ney. Restou a ele e a seus companheiros de luta o silencioso protesto de pichar os muros com o bordão: 'Abaixo a Ditadura!'. “Naquela década, muitos opositores do sistema perderam seus empregos, foram presos e torturados, quando não executados.”
Restavam poucos espaços de expressão política. Um deles foi o da chamada música de protesto, que consolidou a obra de compositores como Chico Buarque de Hollanda e Ivan Lins, entre outros. O professor Ney Alberto entrou nessa barca e produziu pérolas como "Da Pesada", gravada anos depois por Bezerra da Silva. Transmitiu nesta letra toda sua indignação com o regime. "É da pesada suportar anos uma ditadura militar; é querer escolher seu presidente, e não ter o direito de votar”, escreveu o professor. Os censores não gostaram e a proibiram durante anos.
Por conta do delicado momento vivido por Nova Iguaçu, só era possível cantar músicas de protesto em grupos e em lugares isolados, afastados da “muvuca”. “Sempre tinha um dedo duro para escutar e alcagüetar”, lembra o compositor. A perseguição chegou a um ponto tal que o famoso Chico Buarque precisou mudar seu nome para Julinho de Adelaide para que a censura aprovasse algumas de suas composições.
Por causa do tom contestador das suas letras foi chamado ao Regimento Sampaio, em Deodoro. “Me aconselharam a não fazer músicas criticando o regime”, ironiza. Mas o intrépido professor não desistiu de usar sua arte para criticar a ditadura militar. “Tinha que participar de alguma forma”, desabafa. "Se você não consegue fazer nada por não ser do poder legislativo ou executivo, então dentro do seu meio ambiente você tem que dar o seu recadinho", diz ele rindo.
Um eterno insatisfeito, o professor afirma ainda que a ditadura não acabou. “Todos que foram interventores ou tiveram bons empregos na época voltaram candidatos e se elegeram no regime democrático", lamenta. O professor acredita que a democracia é um músculo, que precisa ser exercitado. "Nenhum time ganha o campeonato se não se exercitar, e nós estamos exercitando a democracia e o voto.” É por causa da falta de treinamento, de discussão e de debate, que muitos trocam seu voto por um prato de mocotó ou de angu à baiana.
O professor Ney Alberto vota de modo criterioso, analisando as propostas dos candidatos. Mas gostaria que existisse um PROCON para a política. "Eu voto por acreditar em uma promessa que será cumprida sei lá quando". Para ele, essa propaganda enganosa na política é uma forma de ditadura.
Imagens: Garbriela Gama (Bré)
O professor e historiador Ney Alberto é mais conhecido por causa do seu trabalho em defesa da memória da Baixada Fluminense. Mas, durante a ditadura militar, ele foi um grande ativista político. "Quando rebentou o golpe de 1964, eu era o presidente da UENI (União dos Estudantes de Nova Iguaçu) e, por conta do meu envolvimento com o movimento estudantil, fui preso várias vezes", conta o professor. Ele também mostrou sua indignação e revolta com o rumo político enfrentado pelo país em suas letras para a música popular. Suas composições chegaram a ser gravadas por intérpretes importantes, como Agepê e Bezerra da Silva.
A entrada de Ney na faculdade de história da Universidade Gama Filho só fez aumentar o desejo de mudança já demonstrado nas manifestações em que os estudantes secundaristas de Nova Iguaçu reivindicavam melhorias no ensino público, criticavam os aumentos das anuidades escolares e lutavam pela construção da Escola Municipal Monteiro Lobato. Um ano depois de passar no vestibular, ele já se tornara presidente do diretório acadêmico Graciliano Ramos. Foi na condição de líder da universidade de Piedade, Zona Norte do Rio de Janeiro, que participou dos tumultuados congressos e seminários estudantis. "Sempre tinha alguém da ditadura", lembra.
No entanto, o regime militar decretou o AI-5 (Ato Institucional 5) em dezembro de 1968 e nocateou a oposição durante longos 20 anos. As ruidosas passeatas estudantis foram reprimidas à bala e a censura, que já existia, foi arrochada. O direito de votar em representantes para o poder executivo foi suprimido nas grandes capitais, nos estados e, é claro, na união. "Evidentemente, a gente queria que, através do voto, fosse escolhido um presidente", diz Ney. Restou a ele e a seus companheiros de luta o silencioso protesto de pichar os muros com o bordão: 'Abaixo a Ditadura!'. “Naquela década, muitos opositores do sistema perderam seus empregos, foram presos e torturados, quando não executados.”
Restavam poucos espaços de expressão política. Um deles foi o da chamada música de protesto, que consolidou a obra de compositores como Chico Buarque de Hollanda e Ivan Lins, entre outros. O professor Ney Alberto entrou nessa barca e produziu pérolas como "Da Pesada", gravada anos depois por Bezerra da Silva. Transmitiu nesta letra toda sua indignação com o regime. "É da pesada suportar anos uma ditadura militar; é querer escolher seu presidente, e não ter o direito de votar”, escreveu o professor. Os censores não gostaram e a proibiram durante anos.
Por conta do delicado momento vivido por Nova Iguaçu, só era possível cantar músicas de protesto em grupos e em lugares isolados, afastados da “muvuca”. “Sempre tinha um dedo duro para escutar e alcagüetar”, lembra o compositor. A perseguição chegou a um ponto tal que o famoso Chico Buarque precisou mudar seu nome para Julinho de Adelaide para que a censura aprovasse algumas de suas composições.
Por causa do tom contestador das suas letras foi chamado ao Regimento Sampaio, em Deodoro. “Me aconselharam a não fazer músicas criticando o regime”, ironiza. Mas o intrépido professor não desistiu de usar sua arte para criticar a ditadura militar. “Tinha que participar de alguma forma”, desabafa. "Se você não consegue fazer nada por não ser do poder legislativo ou executivo, então dentro do seu meio ambiente você tem que dar o seu recadinho", diz ele rindo.
Um eterno insatisfeito, o professor afirma ainda que a ditadura não acabou. “Todos que foram interventores ou tiveram bons empregos na época voltaram candidatos e se elegeram no regime democrático", lamenta. O professor acredita que a democracia é um músculo, que precisa ser exercitado. "Nenhum time ganha o campeonato se não se exercitar, e nós estamos exercitando a democracia e o voto.” É por causa da falta de treinamento, de discussão e de debate, que muitos trocam seu voto por um prato de mocotó ou de angu à baiana.
O professor Ney Alberto vota de modo criterioso, analisando as propostas dos candidatos. Mas gostaria que existisse um PROCON para a política. "Eu voto por acreditar em uma promessa que será cumprida sei lá quando". Para ele, essa propaganda enganosa na política é uma forma de ditadura.
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