sexta-feira, 16 de maio de 2008

Ouça sua pele

Programa Laranja da Terra comemora o 13 de maio com um programa sobre o racismo
Por Flávia Ferreira Fotos: Maryane Dias e retiradas da internet

O racismo é uma forma de pensar, onde se dá grande importância à distinção das raças humanas. Nele se manifestam ideais de superioridade, seja por características físicas seja por traços de caráter e inteligência. O racismo é a mãe de todos os preconceitos.

Muitas vezes, a diferença de raças foi utilizada para justificar a escravidão, o domínio de um povo sobre outros e os genocídios que ocorreram durante toda a história da humanidade, dentre os quais o mais conhecido de todos foi a experiência nazista na Alemanha. Eles, além de odiarem os comunistas, odiavam e massacravam judeus e homossexuais, em campos de concentração nazistas.

No século XXI, os negros são as maiores vítimas do racismo, particularmente aqueles que pertencem às classes menos favorecidas. No entanto, o preconceito de cor independente de sexo, religião e condição econômica. "Um criminoso negro é muito mais perseguido do que um criminoso branco", afirma o agitador cultural João Ricardo dos Santos, de 36 anos. "Os grandes assaltos não são praticados pelos negros e no entanto nós vemos muito mais companheiros negros na cadeia do que os brancos."

Talvez seja por isso que só foi alvo de racismo explícito na adolescência, quando a mãe de uma namorada chegava a cuspir ao vê-lo. "Não sei se por ser alto, andar sempre alinhado, sertrabalhador e honesto, mas o fato é que as pessoas me observam de outra forma."

Mas ele não é o único a pensar assim. A médica Tereza Chagas Correia, 43 anos, nunca foi vítima do que poderíamos chamar de racismo explícito. Mas a razoável condição econômica que o diploma universitário lhe deu não a livrou de algumas situações no mínimo embaraçosas. Um desses constrangimentos ocorreu em João Pessoa, em um congresso de médicos de que participou. "Um dos médicos que estavam participando de evento social do congresso me confundiu com uma garçonete e pediu para que fosse comprar cigarro para ele", lembra.

A médica não se abalou nem no momento em que explicou que não trabalhava no restaurante nem quando o companheiro de profissão a procurou para se desculpar. "Ele ficou meio sem graça quando percebeu a gafe que cometeu, ao deixar o seu racismo falar mais alto", conta.

Uma situação semelhante experimentada pelo assistente social Marcos Mariano, 38 anos, é mais uma prova de que o diploma não é um escudo à prova de racismo. "Quando me formei, tive a oportunidade de ser promovido a coordenador do setor em que já trabalhava", lembra Mariano. "Só que as pessoas não aceitavam ser chefiadas por um negro e simplesmente ignoravam as minhas orientações e minhas ordens." Não custa lembrar que a instituição em questão ficava dentro de uma comunidade carente.

O mercado de trabalho parece ser uma reserva ecológica para os racistas, mas eles também são encontrados até nos nichos progressistas das universidades públicas. A estudante Érica Cardoso, cotista da Faculdade de Serviço Social da UERJ, sentiu-se discriminada tão logo começaram as aulas. "Uma professora tratou todos os negros como cotistas", lembra.

O problema cresceu de modo exponencial na eleição do DCE de 2006, em que uma das chapas era formada por um coletivo de negros. "Foi um reboliço total", conta. "Os brancos acharam um absurdo um grupo de negros organizados e nos acusaram de racistas às avessas."

O amor é um outro campo minado para os negros, como recorda Rafael Soares, mais conhecido em Nova Iguaçu como o músico e agitador cultural Nike. "Quando era adolescente, namorava uma menina branca de olhos verdes." Certa feita, a mãe dela o abordou e disse que não queria pentear cabelo duro, numa alusão a possível neto que pudesse nascer da relação do músico com a filha dela. Como se não bastasse, uma amiga desta namorada escreveu uma carta em que registrava o seu desapontamento com o namoro. "Vocês está quebrando uma corrente", dizia a carta. "Nós só íamos ficar com os meninos bonitos."

Os policiais também são considerados protagonistas contemporâneos do racismo. O militante gay Felipe Rodrigo, 16 anos, lembra do dia em que foi buscar uma prima, que é loura, na escola. "Fui abordado por um policial", conta. "Ele só acreditou que eu não estava seqüestrando a menina depois que telefonei para minha tia."

O músico e atleta Maicon Christian, 18 anos, passou pelo mesmo constrangimento em sua segunda ida à Central do Brasil. "Uns moleques de rua tentaram levar minha mochila e, quando ele percebeu que não estavam armados, correu atrás deles. "Mas fui parado por um policial, que não acreditou quando disse que havia sido assaltado e chegou a apontar uma arma para mim." Se não fosse uma testemunha, a vítima de um assalto teria sido levado para uma delegacia. As estatísticas da polícia mostram que o maior crime do Rio de Janeiro é ser negro.

As elites econômica até tentam mascarar o seu racismo, mas, como se pode perceber pela história do pastor Samuel de Oliveira, da Assembléia de Deus de Miguel Couto, elas não conseguem disfarçá-lo muito bem. "Uma vez que fui a um restaurante de luxo com um amigo e percebi no olhar dos demais clientes o desconforto com a minha chegada", relata. O constrangimento chegou a um ponto tal que o amigo do pastor foi tirar satisfações com o gerente.

"É uma tremenda burrice ter preconceito no Brasil, já que somos um país totalmente misturado." João Ricardo dos Santos, agitador cultural.

"O preconceito está muito latente no Brasil".
Marcos Mariano, assistente social.

"O preconceito é um dos crimes mais hediondos. Somos todos iguais em nossa composição, independente da cor. Viemos de um lugar e voltaremos para um mesmo lugar. O pó".
Samuel de Oliveira, Pastor.

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