Por Renan Albuquerque
Imagens da internet
Cavi Borges mostrou todas as suas facetas no Iguacine. Para começo de conversa, "L.A.P.A", documentário sobre o universo hip hop carioca que co-dirigiu com o antropólogo Emílio Domingos, dominou a chamada Mostra Externa. Ele também participou do júri das mostras Filme de um homem só e da Baixada. Cavi ainda produziu o curta "Picolé, pintinho e pipa" e, por fim, ofereceu sua locadora para as filmagens de "O filme do filme roubado do roubo da loja de vídeo".
Parecia difícil encontrar um tempo para conversar com esse ex-jogador de vôlei e ex-judoca, cujo grande sonho na vida já foi defender o Brasil em uma olimpíada. No entanto, ele me recebeu com um sorriso quando o abordei no Espaço Cultural Sylvio Monteiro. "É lógico que a gente pode conversar", disse ele. Não podia ser diferente para um cara que vem apostando no novo desde que transformou sua locadora, a Cavídeo, numa referência para a produção de curtas brasileiros.
Cavi Borges tem 30 anos e ainda mantém o corpo atlético e a cabeça aberta que o ajudaram a conciliar as diversas atividades em que se meteu desde que descobriu o cinema. "Abri a Cavídeo na Cobal de Botafogo, que fica perto de onde eu morava, mas na verdade eu estava mais interessado em produzir meus próprios filmes." Mas antes de começar a dirigir e produzir filmes ele criou o Cineclube Cavídeo, que exibia a nova produção do cinema brasileiro, de jovens que em sua maioria estavam na universidade.
Tanto a locadora como o cineclube marcaram época na Zona Sul do Rio de Janeiro. Mas, embora os DVDs com o que há de melhor na produção de curtas cariocas tenham um lugar de destaque na sua locadora, Cavi Borges está mais interessado no fazer cinematográfico do que na exibição de filmes. Além do L.A.P.A, que entra num circuito alternativo ainda este ano, está na pré-produção de um documentário sobre a vida do judoca paulista Rogério Sampaio, que ganhou uma medalha de ouro nas olimpíadas de Barcelona.
O primeiro documentário de Cavi, que ele dirigiu com a esposa Miila Dervett em 2003, foi "Sou Rocinha Hip Hop". A maior pretensão desse documentário foi registrar o aniversário de 9 anos do grupo GBCR (Gangue do Break Consciente da Rocinha) e as batalhas de b-boys nas favelas cariocas. Cavi acompanhava ambos os grupos com a crença de que pudessem amenizar a guerra dos morros cariocas, tal como ocorrera nos Estados Unidos. "Lá, as gangues inimigas trocaram as armas para mostrar quem sabia dançar melhor", disse ele.
As batalhas de hip hop podem não ter trazido a paz para as favelas cariocas, mas o aproximaram da produção cultural dessas comunidades. Os filmes apresentados no Iguacine que levam a assinatura de Cavi Borges têm alguma relação com as favelas. "Picolé, pintinho e pipa", que produziu, é de Gustavo Melo, um dos nomes de maior destaque do grupo Nós do Morro, do
Vidigal. "O filme do filme roubado do roubo da loja de filme" é fruto de sua amizade com o misto de músico, ativista social e agora cineasta Marcelo Yuka. Para filmar "L.A.P.A", ele e Emílio Domingos fizeram diversas incursões pela periferia carioca.Como a crescente produção cultural das favelas está estreitamente associada à popularização dos equipamentos de filmagem, seria inevitável o seu interesse pela Mostra Filme de um homem só, da qual foi júri. "Tenho interesse por esse tipo de produção porque, com a tecnologia atual, não
apenas é possível uma pessoa fazer um filme sozinho", explicou Cavi. "Agora, com a evolução cada vez mais rápida dos celulares e das máquinas digitais, qualquer pessoa pode fazer um filme." Até mesmo eu. Ou você.
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