quinta-feira, 29 de maio de 2008

Todo poder aos professores!

O professor aposentado lembra os embates entre o SEPE e a ditadura militar.

Por Flávia Ferreira

imagens: Gabriela Gama (Bré)

Durante a ditadura militar, Nova Iguaçu teve uma importante participação social e educacional no estado. Naquela época, os professores do município tinham um núcleo no SEPE (Sindicato Estadual dos Professores Estaduais). Esse núcleo era coordenado por Salomão Baroud David, que também ministrava aulas no Instituto de Educação, atual Instituto de Educação Rangel Pestana. Segundo ele, foi durante o regime militar que surgiram as primeiras associações e sindicatos iguaçuanos.


No Sindicato Estadual dos Professores Estaduais, pais de alunos, alunos e os professores discutiam os seus direitos em assembléias que eram um verdadeiro pandemônio. "Nossas assembléias tinham, no mínimo, 4 mil pessoas", lembra o professor Salomão. Mas essa intensa participação não passou desapercebida pela repressão. "Em todas as assembléias havia gente nos vigiando." Apesar dos olheiros da ditadura, Salomão e os sindicalistas realizavam um amplo trabalho de de valorização do educador e lutavam por melhorias salariais.


Nesse tempo ocorreram inúmeras passeatas em todo o estado do Rio. As pessoas se reuniam na Rio Branco para reivindicar, além do salário, outras coisas que queriam para educação. Essas passeatas chegaram a reunir cerca de 10 mil pessoas.

Nesse tempo havia também, segundo Salomão, um movimento social muito grande caracterizado pelas greves. "Fizemos greves de até 40 e 60 dias". Durante essas greves, enormes assembléias eram realizadas, onde uma multidão do Rio se encontrava na sede do Sindicato, no Maracanãzinho. "Nossa atividade era conscientizar os professores e, graças a Deus, nós obtivemos certa liderança", diz Salomão David.


Além das greves, esse sindicado implantou as eleições de diretores no Instituto de Educação e exigiram a diminuição do número de alunos por sala."No início do ano, tínhamos de 50 a 60 alunos dentro de uma sala", lembra o professor. "Aí começamos a exigir que se cumprisse a lei de no máximo 35 a 40, que já é um bom número."


Mas mesmo com a aparente liberdade de eleger diretores e realizar assembléias, tudo sempre era vigiado. Tanto que Salomão e mais uns cinco ou seis amigos recebeu, em uma das assembléias, uma convocação para se apresentar no DOPS (Departamento de Ordem Politica e Social), em Nova Iguaçu. "Isso é um tipo de pressão e perseguição que faz parte do sistema reinante na época."


As eleições de diretores e a construção são conquistas da época da ditadura que não foram perdidas nas décadas seguintes. No entanto, a organização dos professores não foi suficiente para barrar as perdas salariais da categoria, que começaram a se agravar durante o regime militar. "De que adianta criar escolas se o profissional que cuida do aprendizado está defasado?", pergunta Salomão. "Como um professor pode dar aula em três escolas e levar dever para casa?"


O SEPE de Nova Iguaçu ainda existe, mas ganhou uma nova configuração. "Atualmente, o SEPE tem uma diretoria que publica um jornal, que me manda, mensalmente, artigos sobre educação". Não há mais aquele movimento social, no qual importava menos a filiação partidária do que o desejo de obter melhorias para a classe. "É um outro momento, uma outra história".

2 comentários:

  1. Parabéns pela reportagem, e ao SEPE pelo trabalho que realizam pela educação, outros estados e regiões precisam de Sindicatos semelhantes, pois a educação em nosso país precisa de planos de melhoria.

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  2. Minha filha estuda no Centro Educacional Battista Ferreira em Ponto Chic,Nova Iguaçu;na sala de aula existem 52 alunos disputando a atenção do professor para entender a materia dada em sala de aula. Fico triste por saber que nõa tem lei que regule a lotação de uma classe escolar, pondo em risco o eprendisado de um ano inteiro.Fabiula Pereira

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