terça-feira, 14 de julho de 2009

Além do cuspe e do giz

SEJA

Oficina de jogos e brinquedos mostra novas formas de educação
por Josy Antunes

Às 10 horas da manhã de sábado, 11 de julho, na sala 2 do bloco B da Escola Municipal Monteiro Lobato, uma pilha de jornais estava posicionada em uma cadeira, junto a uma grande quantidade de rolos de papel crepom, com pelo menos quatro cores diferentes. Além das tesouras, barbante e fitas adesivas, todos sob as coloridas bandeirinhas que enfeitavam a sala. Eles eram os materiais que logo seriam utilizados na oficina que estava prestes a se iniciar: "Os jogos e as brincadeiras na construção do conhecimento".

Após participarem da abertura do II Fórum de Educação de Jovens e Adultos de Nova Iguaçu, que aconteceu bem ao lado, na Vila Olímpica, e com a inscrição já em mãos - também realizada no local, onde o participante optava por 2 das 18 oficinas oferecidas - 10 pessoas, entre professores e estudantes, se dirigiram à sala mencionada. Lá, foram recebidas por Sérgio Azevedo, professor de Educação Física que está concluindo seu mestrado em Educação Física e Cultura. Iniciadas as apresentações, Leidiane Ferreira Marques, de 21 anos, afirma ter caído de paraquedas no evento. "Na verdade, eu vim participar do "Escola-Aberta", que tem aqui todos os sábados", conta ela., "Vi a movimentação toda e me interessei por essa oficina", explica a moça, estudante de pedagogia.


Devido ao tempo curto, Sérgio fez uma explicação sucinta sobre como jogos e brincadeiras podem ser inseridos na educação dos jovens e adultos. Para ele não são só os professores de educação física que podem mudar a rotina da sala de aula. "Temos que mostrar para o aluno esses novos recursos da escola moderna, que educação não é só cuspe e giz". O professor alega que as crianças brincam por conta própria, já os mais velhos precisam de estímulos para brincar, o que é uma necessidade para fugir dos estresses causados pelo trabalho e responsabilidades. "A intenção é contextualizar essa brincadeira, para que o aluno não ache que foi pra escola à toa", alerta ele.

Para deixar clara a diferença entre o jogo e a brincadeira - o primeiro tem início, fim e carrega um conjunto de regras; o segundo é mais livre, seu início e término dependem da vontade de quem brinca - Sérgio propôs que os participantes se dividissem em dois grupos, que rumaram em seguida para o pátio da escola. O jogo, chamado "O quebra-cabeça dos maridos ciumentos", consistia na resolução do seguinte problema:
"Três maridos ciumentos estavam viajando com suas esposas e tiveram que atravessar o riacho com um barco, que só comportava duas pessoas. Os maridos se recusavam a deixar as esposas atravessarem com qualquer um dos dois homens, e nenhum deles queria deixar a esposa com um dos outros no outro lado do riacho. Como eles planejaram a passagem? Lembre-se que, como o barco comportava apenas duas pessoas, uma delas teria que voltar com o barco para levar as demais."

Complicado? Pois as equipes tiveram que, literalmente, quebrar a cabeça para resolver a situação e, em seguida, demonstrar a solução para os adversários. "Foi justamente depois que todos pararam para trabalhar juntos que nós conseguimos uma resposta", confessa Gisela Maria Oliveira de Moraes, professora de língua portuguesa da Escola Municipal Professora Irene, em Jardim Nova Era. "A gente tem que despertar no aluno esse prazer por buscar coisas novas, inovando pra que o aprendizado fique mais leve", avalia Gisela. "Através desse tipo de jogo o aluno pode conseguir resgatar tanto sua infância quanto seu aprendizado".



Essa atividade é um exemplo de como a interdisciplinaridade pode ser usada. Nela, pode-se trabalhar matemática, português e raciocínio lógico, entre outros. "A gente sempre coloca uma atividade para os alunos, mas nós mesmos não vivenciamos. É bom ter essa experiência também", analisa Leidiane Ferreira. "Assim a gente poder ver como estamos expondo o aluno".

Já de volta à sala de aula, Sérgio, distribuindo os materiais levados por ele, começou a explicar que um "balangandã", mais conhecido como "marimba", seria confeccionado. Popularmente conhecido pela pedrinha amarrada na ponta da linha, usada para pegar pipas em lugares altos, o brinquedo, em sua nova forma, surpreendeu os presentes. "A gente tem uma ideia de marimba superdiferente", exclama a professora Gisela.

Para a preparação de uma marimba, é preciso uma folha grande de jornal, algumas fitinhas cortadas de papel crepom, um bom pedaço de barbante e fita adesiva. O jornal é dobrado, como se fosse um grande canudo, depois dobrado em partes menores, ganhando a forma de um quadrado. Por dentro dele, o barbante é passado e fixado com um pedaço da fita adesiva, deixando uma pontinha onde as tiras de crepom serão amarradas e um grande pedaço por onde o objeto será puxado. Por fim, basta enrolar o quadrado de jornal com a fita, para garantir a duração do brinquedo. E então, é só ficar livre para criar movimentos, semelhantes com os dos malabares, exibindo o quase arco-íris formado pelas tiras coloridas de crepom. Alguns participantes aventuraram-se a lançar o "cometa" no pátio, girando a marimba com força e lançando-a para o alto, causando um bonito efeito visual.

"Eu acho que o EJA precisa disso também: relaxar e descontrair um pouquinho, dentro do espaço escolar", considera Marco Antônio Pires, que dá aulas de Educação Física na Escola Municipal Janir Clementino Pereira, em Miguel Couto. O professor já saiu da oficina pensando em como pôr em prática o que acabara de aprender, garantindo a utilidade tanto para os jovens e adolescentes quanto para as próprias crianças. "É muito interessante ter uma outra forma mais prazerosa e lúdica de trabalhar o mesmo conteúdo", admira ele.

Empolgada, a estudante de pedagogia Leidiane Ferreira saiu dália para uma segunda oficina, ela também dedicada a jogos e brincadeiras. "Utilizar essas “artimanhas” em sala de aula, evita muito o fracasso escolar", conclui ela.

Interatividade:
Como você solucionaria o caso dos maridos ciumentos?

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