quinta-feira, 30 de abril de 2009

Colo especial

Ex-auxiliar de cozinha aprendeu que inclusão começa no colo
por Fernanda Bastos da Silva

Ser mãe sempre foi um sonho de toda mulher. Para Viviane da Conceição Marinho, 33 anos, não foi diferente. Quando soube que estava grávida de seu primogênito, Deivison Marinho Silvares, ela acreditou estar realizando um sonho. E realmente estava! Seu filho veio ao mundo para lhe trazer a alegria de ser mãe e para provar o seu amor. Contudo, não sabia ela que aquela criança iria fazê-la descobrir que seu amor era maior do que muitos podiam imaginar. Era incondicional, especial, verdadeiramente amor de mãe.

Aos sete meses de idade, o ainda bebê Deivison passou por análises clínicas e foi constatado que ele era portador da Síndrome de Down. Mais do que nunca ele precisaria de sua mãe e do mesmo modo, para ela, ele era tudo. Ele era seu sonho! Muitos podem imaginar que teria sido difícil a aceitação daquela situação para uma mãe que acabara de realizar seu sonho. Porém, a primeira preocupação de Viviane foi a aceitação dos outros. “Meu filho precisa de mim”, conta a mãe. “Se não aceitá-lo, vou excluí-lo antes que a sociedade o faça.”

E sua preocupação era pertinente. O afastamento de alguns familiares próximos, ainda que em número ínfimo, foi o primeiro sinal de uma síndrome que é pouco admitida: a da discriminação. Por outro lado, o apoio de seu esposo e de inúmeros amigos a fez prosseguir. Uma profissional da saúde do posto do bairro Vila de Cava, próximo à sua residência, a orientou a buscar auxílio quando percebeu que Deivison era uma criança especial. E os braços abertos encontrados na Escola Municipal Prof. Paul Harris significaram o segundo passo na inclusão daquela criança. Na verdade, podemos dizer que sua inclusão sempre foi pautada na “não-exclusão”.

Ao chegar nessa escola no ano de 2007, com apenas quatro anos, Deivison ainda não falava. Sua mãe entendia que era preciso uma sensibilidade especial para acolhê-lo. Essa virtude foi encontrada em pessoas como Dilma de Almeida Batista (45 anos, diretora da escola), Liziane da Silva Messias (diretora adjunta) e Celeste Corrêa Morgado (65 anos, orientadora pedagógica), além de muitas outras. Assim, como uma semente plantada, regada e cuidada por todos, ele floresceu.

Cor do ônibus
Com seis anos, hoje Deivison fala, conhece as cores, tem ótima memória e como qualquer criança pratica um gesto maravilhoso: sorrir. Gosta de ir à igreja, dá atenção às palavras do pastor e é apaixonado pelo som cadente da bateria. Também gosta muito de ir à escola e sabe, pela cor, o ônibus em que deve embarcar. Ele também reconhece a parada da escola.

A mãe tem que acompanhá-lo em todos os momentos, inclusive os que ele passa na escola. Oresultado disso é uma intimidade preciosa. E essa mãe incondicional teve outra felicidade. “É que Gabriele, minha segunda filha, tem que ficar o tempo todo na escola de Deivison, ficando na creche existe na própria escola.” Isso permite a integração de sua família e aumenta cada vez mais seus vínculos.

Viviane não se queixa de ter abandonado o emprego de auxiliar de cozinha para se dedicarinteiramente aos seus filhos e sua família. “Deixei de aprender uma nova receita a cada dia para descobrir a fórmula da inclusão social das crianças especiais.” E o primeiro ingrediente, segundo ela, é o colo de mãe.

Um comentário:

  1. Muito bonita essa história e a Fernanda teve bastante sensilibidade para escrevê-la.

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