quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Última parada - 174

“Porque é mais fácil condenar quem já cumpre pena de vida”
Por Larissa Leotério

Esse verso da música “Classe Média” traduz exatamente a sensação de quem esteve hoje na pré-estréia do filme “Última Parada - 174”, com direção de Bruno Barreto. O filme narra a história do seqüestrador do ônibus 174. Sandro, na ficção, Alê, foi tomado pela sociedade por monstro do ônibus 174. O que já é rotina. Há sempre o julgamento das pessoas e o ângulo sempre muito midiático, manipulado. E isso é histórico. Foi assim com vários infratores das leis. Mas poucos tiveram a chance que Sandro teve, de ter sua história mostrada por documentário e filme.

As pessoas parecem não se importar com o menino de infância pobre, com o menino de rua que pede comida, pelo jovem que não teve a oportunidade de estudar, de aprender a ler, de ter saúde e família. Toda tragédia só nos importa quando bate à nossa porta. Não importa a ninguém se Sandro teve uma “infância” de abandono, uma adolescência nas ruas, o peso da sobrevivência na chacina da Candelária.

Não há passado ruim que justifique um presente de crimes. Mas torna compreensível, ajuda-nos a compreender a indignação da criança que pede pão e é ignorada. Do adolescente que comete pequenos furtos por não ter orientação. A chamada sociedade civilizada exige das pessoas uma generosidade que não ofereceu. E, talvez, a culpa não seja do governo; seja nossa. Quando temos muita pressa pros nossos inadiáveis compromissos e esquecemos das nossas crianças debaixo das marquises, esquecemos que nossos irmãos têm fome. E isso não é na África ou no inferno que os pariu. É bem aqui ao lado. Ou, talvez, seja culpa da maldita falha do sistema.

De quem é a culpa não é bem a questão. Acontece é que temos que fazer o nosso. Não podemos ficar esperando pelas iniciativas públicas. E é nisso que foca o filme, que não é sobre uma questão social, e sim sobre uma questão de condições humanas. Na nossa iniciativa de estudar as coisas antes do julgamento da mídia. É o senso crítico que funciona o tempo todo. Propõe uma reflexão muito bacana. De vida, da importância da formação dos seres humanos em pessoas. Como disse a atriz Ana Gabriela, ‘é o soco no estômago que toca o coração’. É bem essa a sensação.

Além de toda a mensagem social, o filme conta com uma técnica e roteiro excelentes, atuações admiráveis e, segundo o diretor Bruno Barreto, o elenco mais disciplinado com quem já trabalhou em suas dezoito produções.Vale muito à pena conferir.

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