quarta-feira, 29 de outubro de 2008

A nossa ombudsman

Primeira pesquisa da nova secretária adjunta de Cultura é com os jovens repórteres. E eles mostraram nossos erros e acertos
Por Alcyr Cavalcanti

A antropóloga paulista Marcella Camargo, nova secretária adjunta de cultura e turismo, realizou uma pesquisa com um pequeno grupo formado por seis jovens da Escola Agência de Comunicação da Secretaria de Cultura de Nova Iguaçu. O objetivo primordial foi entender os fatores que podem motivar, ou desmotivar, a participação nos programas Jovem Repórter e Minha Rua Tem História. Os entrevistados, quatro meninos e duas meninas, tinham a idade entre 18 e 22 anos.

O grupo foi formado espontaneamente entre os 180 jovens que participam do projeto. Os jovens estavam presentes na sede da Agência Escola, e foram sensíveis ao apelo. Para Marcella, a pesquisa não deve ser considerada como pesquisa detalhada, e densamente elaborada, mas seus resultados podem ajudar em um reflexão sobre as ações envolvendo a juventude de Nova Iguaçu.

Para eles, o mais importante foi ter sido oferecida uma oportunidade de profissionalização na área da comunicação, em especial no jornalismo, seja na atividade de repórter, repórter fotográfico ou na produção. A prática jornalística no dia-a-dia foi também um fator importante, pois aprenderam a conhecer melhor as diversas nuances de Nova Iguaçu, através de vários enfoques, passando a compreender e valorizar as diferenças entre os diversos moradores dos dezessete sub-bairros indicados. A integração em grupos foi também fator determinante, na feitura de novas amizades e um melhor reconhecimento do “outro”.

Os dois lados da moeda
Diversos pontos foram destacados positiva e negativamente, na abordagem. Entre os pontos positivos, os mais importantes foram o aprendizado de uma profissão, o conhecimento técnico e cultural, e a união pelo companheirismo, fazendo e consolidando amizades. Eles também passaram a valorizar a sua cidade, através do conhecimento de seus bairros. A diversidade de costumes, advindo da rápida urbanização, também foi um dado novo para os jovens entrevistados. Outro aspecto citado foi o embasamento teórico proporcionado pelo curso da ESPOCC, ministrado pelo Observatório de Favelas.

Na verdade, o aspecto emocional foi de suma importância, através do companheirismo, do compromisso, da vontade em fazer, o desejo em superar as dificuldades que se apresentaram no decorrer do percurso. No auxílio mútuo, foram transpondo as barreiras, uma a uma, conduzindo a um bom resultado final.

As dificuldades do percurso
A falta de recursos materiais para efetuar tarefas a contento, além de dificuldades financeiras para as demandas, foi o item mais assinalado, a par de promessas feitas e não cumpridas. Se queixam do não reconhecimento oficial, por parte do poder público, quando as tarefas são realizadas. Alguns se sentiram desrespeitados, tanto na relação jovem-jovem, quanto na relação de jovens com adultos. Reclamaram também de premiações que não aconteceram, e da pouca divulgação, além da não publicação de muitos trabalhos efetuados.

A ociosidade também foi fator muito citado. As tarefas não eram distribuídas no dia-a-dia, as poucas apresentadas eram dirigidas sempre às mesmas pessoas, reconhecendo também a falta de responsabilidade por parte de vários jovens.

Nem só de lamúrias e lamentações foi a amostragem. Sugestões foram apresentadas para que possa haver um aprimoramento do projeto: investir em ações que possam unir os grupos jovens/jovens, e jovens/coordenadores. Não prometer o que não puderem cumprir para não estimular falsas expectativas, investir e acreditar mais nos jovens pela motivação, investindo em novos e melhores recursos e principalmente ter muita paciência.

Os jovens querem ser reconhecidos como parte importante no projeto

“Os jovens querem ser reconhecidos como parte importante da Secretaria de Cultura, estando sempre integrados no processo, afirma a antropóloga Marcella Camargo. Eles também se sentem como profissionais mirins, minijornalistas, com direito a reivindicar melhores condições de salário e trabalho. Dentro da agência, eles estão em processo de aprendizagem, mas, na rua, se sentem e agem como profissionais da notícia. Isto é muito gratificante.”

Um dos jovens assim se expressou: “Quando falamos que somos repórteres, as pessoas acham que ganhamos muito dinheiro, mas não temos dinheiro para pagar as passagens para a cobertura das matérias pautadas, nem credenciais para provar quem somos (profissionalmente) e assim termos acesso a locais e eventos que deveriam ser cobertos por nós. Assim fica difícil.”

Opinião de um jovem
Evio Nobre Belarmino tem 18 anos e participa do grupo há um ano. Acha muito interessante a aprendizagem obtida ao longo dos meses em que está na Agência, em um trabalho do ponto de vista da comunicação. Durante o projeto “Minha rua tem história” fez um grande sacrifício, pois mora em Miguel Couto e tinha que se dirigir a uma escola no Jardim Pernambuco. Tinha de pegar duas conduções a cada vez que ia de um local a outro, mas diz que valeu a pena.

“Achei interessante o processo de integração na dinâmica de grupo. No início era um pouco tímido, mas aos poucos fui me soltando. Nem sabia fazer entrevista, ficava nervoso, suava frio. Agora é uma coisa normal. Tiro de letra. Acho que a ajuda de R$150,00 é muito pouco, principalmente por termos de fazer várias funções, como apurar, escrever, entrevistar e até fotografar. Poderia ser melhor planejado. Vi também pouca comunicação entre as pessoas da Agência, o que perece uma contradição, visto que é uma agência de comunicação”, diz Evio.

Ele também pede para mudar o dia das reuniões no final de semana. Aos domingos, a despesa fica muito grande, pois o ônibus não aceita passe livre nesses dias. Sugere uma ajuda de custo maior.

A pesquisa concluiu que os pontos positivos superam em muito a parte negativa, principalmente pela participação dos jovens como parte integrante do processo de construção de uma nova era em Nova Iguaçu. A integração dos jovens com outros jovens em um espírito solidário irá formar grupos onde o sentido coletivo da solidariedade e do companheirismo, do respeito ao “outro” irá construindo uma sociedade mais fraterna, e mais integrada.

Um comentário:

  1. A Secretária Adjunta é da onde mesmo? Vocês esperam compromisso? De quêm?

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