quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Laje 45 graus


Banho de sol na laje é a opção no verão escaldante
por Flávia Ferreira e Eline Vieira
fotos: Flávia Ferreira

Para muitos, é apenas mais uma tarde de sol. Para outros, virou um espaço de lazer, um encontro entre amigos. Em ambos os casos é uma opção para quem não tem dinheiro para ir à praia para cuidar da casa.
Sabrina Bernardo, 21anos, moradora de Comendador Soares, divide o tempo entre o solzinho de seu quintal, o filho de um ano e as obrigações diárias de uma dona de casa. Enquanto Sabrina, sentada na escada de sua casa, tenta pegar um solzinho, seu filho se refresca na piscininha de fibra, que ajuda a afastar um pouco do calor que ronda a cidade. "Temos que nos virar, né? Afinal, nem sempre temos dinheiro para ir a uma praia ou pegar um banho de cachoeira."

Pelos dourados
A falta da "grana" ajuda a criar algumas alternativas para tornar essa opção de lazer mais divertida e dinâmica. A jovem estudante de Radiologia, Andressa Lima, 19 anos, moradora do bairro Santa Rita, organiza periodicamente uma reunião em sua casa, chamando as amigas mais próximas para participar da farra. "Nós pegamos um solzinho na beira da minha piscina de fibra", conta a estudante. Nestes encontros, elas falam sobre os inevitáveis assuntos: homens, faculdade, namoro, problemas, falta de dinheiro e, como não poderia deixar de ser em uma reunião de mulheres descontraídas, a vida dos outros. Para não ter de interromper a reunião no melhor da conversa, Andressa e mãe preparam um almoço básico para as amigas. "O almoço fica apenas esperando nossa fome apertar."

No entanto, não são apenas os mais jovens que aproveitam o sol de casa. Uma das inúmeras donas de casa que não quer gastar dinheiro para manter o bronzeado e o corpo em forma é Viviane Araújo, 32anos. "Eu tomo banho de sol todos os dias, das 9h às 11h", conta ela, que recorre a uma mistura de água com sal, água oxigenada e amônia para dourar os pelos e ajudar a queimar. Mas o que deixa essa iguaçuana chateada é ter que parar seu ritual para cumprir algum compromisso, como pagar as contas. "Fico puta quando tenho que ir pro banco no horário do sol, e não posso curtir minha laje."

Homens também gostam de ficar “queimadinhos”
Mas nem só as mulheres aderem ao “bronze” de verão. O funkeiro Maicon Cristian Soares, 19 anos, gosta de pegar um sol, mas sem usar nada na pele. "Não sou chegado a usar protetor", revela o jovem, que, mesmo tendo pele negra, não dispensa seus dias de diversão na laje de sua casa, localizada no Jardim da Viga. No entanto, se tivesse oportunidade, ele trocaria sua laje por uma praia. "Nada é igual ao banho de mar e água salgada. Mas o motivo mais forte é ter o que olhar, um monte de gatas na praia", diz com o seu largo sorriso.

A animação é tanta que ele não vai embora nem quando o concreto começa a ferver. Usa então o artifício de molhar o concreto com água, formando pequenas poças de cinco em cinco minutos. "Não podemos dar mole com esse calor que faz em Nova Iguaçu. Não é mais Rio 40° e sim Nova Iguaçu 45°.“ O calor, muito mais abrasivo quando se está próximo do concreto, torna irresistível um mergulho nas belas cachoeiras da cidade. Mas com o sol a quase cinqüenta graus e a longa estrada para chegar até as cachoeiras, a disposição desaparece. "Nem sempre estou com disposição de subir o morro do Parque Municipal“, conta o jovem, que usa óculos escuros e um multiuso bermudão nos seus dias de laje.

Fábio Filgueira, 27 anos, fica apenas de sunga nos dias em que se estira no quintal de sua casa. "É muito bom poder se bronzear sem sair de casa, porque posso ficar bem à vontade e para o bronze ficar completo eu fico de sunga", diz ele. Ele não se preocupa com olhares indiscretos, nem mesmo quando sua vizinha dá uma espiada por cima do muro. Por esse motivo, sua esposa não gosta de acompanhá-lo nos banhos dominicais. Mesmo com todos esses percalços, Fábio não trocaria seu banho de laje por uma praia. ”Aqui tenho total liberdade e isso é que faz a diferença."

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