sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Círculo vicioso

Vantagens e desvantagens de trabalhar perto de casa
por Wanderson Silva, Jeisiane Caetano Paulo, Wesley Caetano Paulo, Patrícia da Rocha Toledo

A vida do estudante Carlos Henrique Ramalho, de 19 anos, gira em torno de Cabuçu, bairro no qual nasceu e se criou. Mora no loteamento Doze de Outubro, que fica a mais ou menos 20 minutos a pé da Casa de Ração Arruda, onde trabalha como entregador. “O bom é que nunca chego atrasado”, conta ele.

Jamais ter sido chamado a atenção por causa de uma atraso na condução para o trabalho não é a única vantagem contabilizada pelo estudante. “Conheço tudo aqui”, acrescenta. A intimidade com o bairro facilita seu trabalho como entregador. Outro conforto proporcionado por essa proximidade é poder desfrutar do almoço cozinhado pela mãe.

A história de Carlos Henrique é dele e tão-somente dele. Mas ela faz parte de um contexto maior, que revela uma das maiores deficiências de todos os governos: arrumar uma posição no mercado de trabalho formal para os jovens. O estudante ama o bairro onde vivem seus parentes, fez sua rede de amigos e descobriu a namorada, com a qual se diverte em points como o Rubinho e o Pocinho. “Mas trabalho aqui por falta de opção.”

Experiência comprovada
Na Chatuba, uma das favelas mais pobres de Mesquita, não é muito diferente a situação da professora de informática Luciana Amaral Souza, de 23 anos. Ela gosta da sua comunidade e, além da economia e do conforto, trabalhar dentro dela só faz aumentar sua sensação de pertencimento. Mas a professora teme que, ali, a sua vida entre num círculo vicioso. “As grandes empresas só contratam que já tem experiência comprovada”, lamenta. “Mas como, se elas não nos dão uma oportunidade?”

A professora Luciana gostaria de se qualificar para conseguir um emprego melhor, talvez no Rio de Janeiro. Mas sua situação é melhor do que a de seu vizinho Luiz Fernando da Silva, de 19 anos, que parou de estudar para atender às demandas da loja de material de construção para a qual trabalha há três anos. Além de não gostar da profissão que exerce, Luiz Fernando vê suas chances ainda mais reduzidas devido a um dos maiores problemas de trabalhar para pequenas empresas. “Não tenho carteira assinada”, queixa-se.

Morar, estudar e trabalhar em bairros da periferia deixa alguns jovens asfixiados. “Preciso respirar novos ares”, desabafa a distribuidora de panfletos Jéssica Fernandez, de 20 anos. Ela só não começou um movimento mais objetivo para realizar este sonho porque, ao concluir o ensino médio, há três anos, teve que arrumar um emprego para ajudar em casa. Mas agora que a situação da família melhorou, ela voltou a sonhar com o que considera ser seu passaporte para o mundo: a faculdade de farmácia. “Juntei um pouco de dinheiro e vou pagar um curso pré-vestibular.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Uma kombi que resiste ao tempo

II IGUACINE Exibido na sessão de homenagens do II Iguacine, 'Marcelo Zona Sul' continua encantando plateias 40 anos depois de sua es...