O fotógrafo Fábio Costa está registrando as mudanças deixadas pelas obras do PAC
Texto e Fotos Mariane Dias
"Foi a fotografia que escolhi para a minha vida, por ela vivi e vivo", afirma o fotógrafo Fábio Costa, morador de Itaipu e filho de nordestinos com experiências e lembranças da Rocinha. Ele está em Nova Iguaçu para registrar as transformações ocorridas depois da chegada do PAC. Veio com a equipe de urbanistas comandada por Sérgio Magalhães, com a qual trabalhou no vitorioso Favela Bairro.
"A essência desse trabalho", explica o fotógrafo, "está no simples e no rotineiro." Ela poderia ser traduzida em uma história que ouviu de viva voz de uma moradora de Cabuçu, que desde o início das obras do PAC trocou a televisão da sala por uma mesinha em frente a sua casa, onde sempre tem um café quente e um bolinho fresco para oferecer aos operários. "Ela me disse que mora ali há 40 anos e nunca viu uma obra pública em seu bairro", conta Fábio Costa. O sorriso de satisfação dessa senhora, capturado pela máquina digital à qual esse fotógrafo à moda antiga demorou a aderir, estará na exposição prevista para o final das obras.
Fábio Costa estava com a agenda cheia de trabalho quando recebeu o convite da Secretaria de Obras, mas não pensou duas vezes para aceitá-lo. "Além de achar importante o registro dessas mudanças e o resgate da memória da cidade, eu nasci em Nova Iguaçu." Por ironia do destino, as pessoas o associam à Rocinha, favela na Zona Sul do Rio de Janeiro na qual foi morar no início da década de 1970.
Caçador de imagens
Fábio Costa é um caçador de imagens, como os pioneiros da fotografia. Seu espírito quase aventureiro está presente desde as primeiras seqüências de foto que produziu em Nova Iguaçu, durante as enchentes de 2005. "Coloquei um par de botas e fui com minha máquina até o ponto em que estava colocando minha vida em risco", lembra. Essa incursão por uma Nova Iguaçu profunda, desconhecida da maioria de seus moradores, resultou em fotos dramáticas, que denunciam com eloqüência os longos anos de abandono em que se encontram os bairros da periferia iguaçuana. Foi com imensa satisfação que o fotógrafo voltou a visitar as mesmas áreas depois que as dragagens do rio as libertaram do risco de novas enchentes.
Pode-se dizer que sua carreira profissional começou durante a produção do livro 'Varal de lembranças', um trabalho coordenado pela antropóloga Lygia Segalla que é um marco na produção de memória oral das favelas cariocas. "Foi ali que tive o meu primeiro contato com uma máquina fotográfica", lembra ele, que logo em seguida ganharia uma Kodak de seu padrasto. Antes de ter a sua primeira máquina profissional, usou uma Olympus para tirar inúmeras fotos dos mutirões com que a população da Rocinha se protegeu contra as intempéries da natureza e a indiferença dos governos.
Outros pastos
Fábio já trabalhou em vários programas e projetos, mas nenhum deles se compara ao Favela Bairro. "Esse programa proporcionou uma grande possibilidade de desenvolvimento para as favelas cariocas", afirma. "Aprendi muito trabalhando para ele." Além de uma grande experiência profissional com a equipe de urbanistas comandada por Sérgio Magalhães, o Favela Bairro o remeteu à época em que morou na Rocinha.
Teoricamente, a favela que Fábio Costa conheceu era muito mais miserável que a de hoje, onde as casas de alvenaria substituíram os barracos de zinco. Mas a realidade de hoje lhe parecem mais chocantes e não é sem razão que hoje são cada vez mais raros os contatos com a comunidade que lhe deu regra e compasso. "Com o tempo, todo curral fica pequeno para um boi", compara. "O capim acaba e a gente precisa ir pastar em outro lugar." Saiu da Rocinha porque desejava ser do tamanho do mundo, não da sua comunidade. A separação da sua então companheira, com quem tem a filha que está se iniciando na fotografia, também teve importância no processo que o levou a morar na Glória.
Veio então o emprego na prefeitura do Rio, onde trabalhou por um tempo em uma assessoria na Secretaria de Cultura do município. Um tempo depois foi trabalhar no gabinete e posteriormente acompanhando como fotógrafo o então prefeito Marcelo Alencar. "Fotografei de tudo, de rainha a mendigos, ricos e pobres, do mais belo ao mais horrível, pois assim é a vida, cheia de contrastes e surpresas”.
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