Capitã da seleção brasileira de handebol é de Nova Iguaçu
Por Flávia FerreiraNascida e criada em Nova Iguaçu, Lucila Vianna da Silva é a capitã da seleção brasileira de handebol. Em 2001, ela foi eleita, pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB), a melhor jogadora de handebol do ano, recebendo o Prêmio Brasil Olímpico 2002. Já em Atenas, foi uma das jogadoras mais importantes da campanha brasileira, consolidando-se como a terceira maior artilheira da seleção, com 24 gols em sete partidas.
Lucila representará Nova Iguaçu nas olimpíadas de Pequim comandando a equipe de handebol e, como boa filha da terrinha, conversou conosco sobre sua vitoriosa história dentro do esporte.
Como começou seu amor pelo esporte? Quem a incentivou?
De início, eu apenas gostava do esporte. Mas logo depois que comecei a jogar, com apenas 12 anos, me apaixonei de tal forma que desde então vivo para ele. Claro que o fato de minhas irmãs mais velhas já jogarem facilitou minha aproximação com o handebol. Elas jogavam na equipe da escola, onde comecei seguir seus passos. Foram sem dúvida minhas maiores incentivadoras.
Quais as suas principais conquistas?
As principais são pela seleção, apesar de ter os mais altos títulos de um clube. Sou tricampeã pan-americana, hexacampeã sul-americana, e Pequim será a terceira olimpíada de que participarei. Além disso, participei de seis mundiais e sou campeã espanhola. Enfim, são muitos títulos. Uma carreira longa...
Quais foram as maiores dificuldades?
A falta de incentivo foi o que mais me prejudicou. No início, tive que parar de jogar duas vezes porque não tinha o dinheiro da passagem para ir aos treinos. Na época, treinava em Nilópolis e morava em Nova Iguaçu. Quando saí de casa, passei por outra dificuldade, que foi ficar longe da família. Mas a vida é assim, né? Temos que abrir mão de umas coisas para ganhar outras.
Como é ser atleta da Baixada?Para mim foi uma vitória, pois são poucos os atletas que conseguem vencer e ir longe praticando seu esporte, ainda mais na Baixada Fluminense. Aqui o apoio é precário e falta o incentivo para dar continuidade ao trabalho, para que o atleta não tenha que parar seus treinamentos a fim de trabalhar para sobreviver.
Quais as maiores dificuldades de um atleta da Baixada? A falta de investimentos ainda é o maior problema? A falta de incentivo e do suporte para carregar um atleta com condições adequadas faz com que o esporte estacione ou até mesmo acabe a qualidade que sei que minha cidade tem e os atletas também. Mas o que fazer com tantas apostas de vencedor e não ter quem investir para que se possa dar certo? Tem alguma história engraçada de alguma competição que nunca esquece? Na primeira vez que fui convocada para a seleção brasileira fui sem levar nada, nenhum material e sem roupa ou tênis de treino. Eu achei que a seleção fosse algo grande, mas acabei tendo que pegar roupa de cama e banho com as meninas e usar um tênis velho na viagem. Sempre lembro dessa história e caio na gargalhada.
Acha que é uma vencedora da vida?
Acho que sou. Como te disse, são poucas as pessoas que conseguem alcançar seus objetivos e sei que eu consegui chegar onde eu sonhei. Me sinto orgulhosa de estar há quinze anos com a seleção brasileira e ainda ser capitã. Com isso, consegui muita experiência de vida. Sei que sofri muito, mas hoje curto muito mais a vida.
Seus olhos estão voltados para Pequim, onde representará o país na olimpíada. Como se sente?
Me sinto orgulhosa por sair do meu país para representar toda uma nação fora dele. É um orgulho que muitos nem conseguem descrever em palavras. Tampouco eu.
Além de você, Nova Iguaçu estará representada em Pequim pelo levantador de peso Bruno Laporte. Achou algum dia que seria possível ver Nova Iguaçu em grandes competições?
Sempre imaginei ver grandes atletas nessas competições importantes, e que um dia muitos deles sairiam de Nova Iguaçu. Já vi muitos jogadores excelentes praticando esporte nas vilas e nas quadras, mas infelizmente hoje só dois estão indo - eu e Bruno. Mas sei que isso vai multiplicar a cada ano. Tenho fé e espero representar da melhor forma minha cidade, assim como tenho feito todos esses anos. O que espera dessa olimpíada para você e toda a delegação? Esperamos fazer história. Já para mim, será a última participação na seleção e quero dar tudo. Depois de minha aposentadoria na seleção brasileira, pretendo montar uma instituição de auxílio para deficientes.
Quais são seus planos pós-olimpiada?
Está meio difícil ver o que vem depois, mas quero exercer minha profissão de professora de Educação Física, dando aulas. Mas também tenho a possibilidade de sair do país no fim do ano, porque estou sem clube desde o ano passado. Então está um pouco difícil ver minha vida pós-olimpíadas.
O que vê quando olha e lembra das coisas que passou?
Hoje, olho minhas sobrinhas e lembro do meu começo. Foi muito gostoso iniciar só por lazer, sem muito compromisso. Mas hoje amo jogar e já encaro com mais compromisso, mais exigência, mais profissionalismo. Sonho conquistar algo melhor para dar um suporte melhor para essa geração que vem aí. Fora isso, as lembranças que passei são boas, tento esquecer um pouco as ruins.
Se arrepende de algo? Graças a Deus, não. Só sinto que perdi muita coisa, como a vida de minha família, de meus sobrinhos, dessas coisas eu sinto falta, mas não me arrependo da escolha que fiz.
Já pensou alguma vez em desistir?
Sim. Mas passou logo. Ano passado quando voltei do Pan do Rio, eu queria parar, pois operei o joelho pela quarta vez e estava sem clube. Tive uma grande desilusão com o esporte e tive vontade de parar. Mas graças a Deus apareceram pessoas fora do esporte que me ajudaram dando todo suporte para eu continuar e me tratar, para chegar hoje aqui, rumo a Pequim.
Você imaginou que algum dia teria tanto reconhecimento e tantas vitórias?
A gente nunca espera que vai ter, mas sempre sonha. Graças a Deus consegui.
Mensagem da Lu.
Deixo aqui, em especial, um grande obrigado a minha família por toda a força e toda paciência que tiveram comigo ao me ajudarem a concretizar meus sonhos. Beijos.... LU