II IGUACINE
Curtas apresentados no II Iguacine mostram um fôlego criativo dificilmente encontrado nas grandes produções patrocinadas pela Lei Rouanet
por Leonardo Lopes
Prestigiar o cinema nacional nem sempre é tarefa das mais fáceis, podendo ser até mesmo algo extremamente penoso e árduo em alguns casos. Criar expectativa de assistir a um filme bem dirigido, cujo roteiro seja capaz de entreter e que possua um enredo que se mostre consistente é algo difícil se fazer. A possibilidade de se decepcionar também é enorme, com raríssimas exceções. Ainda mais se tratando de "grandes produções" feitas com patrocínio de empresas gigantes detentoras de cifras, literalmente, cinematográficas.
Infelizmente o nosso amado cinema se tornou apenas motivo para chacota, vítima de produtores imbecilizados que focam seu "trabalho" apenas no trivial, no clichê, e por que não, no grotesco. Mentes ditas pensantes, responsáveis por divulgar e disseminar “cultura” acabam por espalhar sua total insensatez.
Ao analisar essas grandes produções mais a fundo, constata-se que há dois elementos que nunca deixam de ser tema recorrente em sua quase totalidade: a obscenidade desnecessária e o linguajar sempre vicioso, de baixo nível e com uma quantidade avassaladora de palavrões que deve quebrar qualquer recorde existente neste quesito.
Não é questão de puritanismo ou demagogia. É puro bom senso. Onde estão os diálogos inteligentes e bem elaborados? Onde diabos enterraram aquele roteiro original e surpreendente? Filmes feitos com toda a dedicação e vontade são peças em extinção. Mas sabem onde foi parar a motivação das mentes "brilhantes" por trás das obras cinematográficas brasileiras de grande porte? Está na bunda, nos peitos e em qualquer outra parte do corpo passível de exploração e que faça sua parte em "cativar" o público, gerando a tão necessária arrecadação.
Porém nem tudo está perdido. O que pode nos salvar do marasmo cultural vem em doses homeopáticas nos filmes independentes e nos curtas. Sim, nos muitas vezes desvalorizados curtas, feitos com pouco recurso, orçamento limitado e muitas vezes sem apoio algum dos nossos amabilíssimos representantes.
Esses filmes são criados com muita inteligência e determinação, mostram-se capazes de retomar os ideais do cinema novo, retratando a realidade nacional, com foco nas mais diferentes questões sociais, sempre abordadas de modo único, captado, muitas das vezes, através das lentes dos diretores iniciantes e dos que possuem experiência.
O que se pode observar até hoje nos grandes filmes é a visão estereotipada do ‘pobre boca-suja que adora uma putaria’. O mais “engraçado” é que esses personagens são introduzidos em QUALQUER filme, mesmo sendo sobre a Segunda Guerra Mundial, por exemplo.
É quase garantido ver um pracinha, que teve origem pobre e cresceu nas ruas, chamar algum amigo por um apelido infame enquanto se dirige a algum prostíbulo antes de partir. Isso sem falar, é claro, que em 90% do tempo, ele vai reclamar e xingar.
Em debate com Domingos de Oliveira, diretor de “Todo mundo tem problemas sexuais” – um excelente filme por sinal, onde podemos ver um humor bem dosado cujas tiradas mais pesadas eram pertinentes e não simplesmente impostas – levantou-se a questão da importância de ter no elenco ao menos uma estrela famosa da TV e algumas mulheres nuas – exigências já feitas a ele para que um filme seu pudesse ser patrocinado e, assim, refeito. É inadmissível que se pense desta maneira. Se um filme bom tiver que ser vulgar, e para captar recursos tiver que cometer suicídio cultural e amputar as próprias ideias, é preferível continuar sem o apoio destes ditos “poderosos”.
Mas vamos encurtar essa história. Ainda há uma luz no fim do túnel. Talvez pela liberdade para produzir, ou pela falta de censura dos "patrocinadores", estas obras – os maravilhosos curtas e produções independentes – podem expressar livremente os mais variados ideais sem ter de pedir socorro aos governantes acomodados em confortáveis cadeiras de couro importadas.
Encontrado no blog http://quemdissequeociomata.blogspot.com/
Interatividade:
Qual foi a melhor cena de sexo que você já viu em filmes brasileiros?
Concordo absolutamente com sua opinião. Parabéns pela matéria ficou muito bem escrita!
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